Por que Ocidente e Rússia comemoram derrota nazista na Europa em datas diferentes?

O chinês, Xi Jinping, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o venezuelano Nicolás Maduro, o cubano Miguel Díaz-Canel Bermúdez, o palestino Mahmoud Abbas e Alexander Lukashenko, de Belarus, são alguns dos chefes de Estado que confirmaram presença em Moscou nas celebrações dos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Mas a festa cívica organizada por Vladimir Putin acontece na sexta-feira (9), enquanto os demais europeus comemoram o “VE Day” um dia antes, na quinta-feira (8). Qual o motivo?

A explicação lógica e histórica é que a rendição alemã se deu na noite do dia 8, quando, pelo fuso horário, já era dia 9 na União Soviética. Mas, com o passar do tempo, passou a existir uma disputa política pelas datas, ainda mais no contexto atual da guerra na Ucrânia, que opõe o presidente russo aos integrantes da União Europeia.

Em fevereiro de 1945, o general Eisenhower, chefe-supremo das Forças Aliadas estabeleceu seu quartel-general avançado em Reims, nas instalações do Modern and Technical College, onde hoje está a Franklin-Roosevelt High School. Foi nesse local que, na madrugada de 7 de maio de 1945, o general alemão Alfred Jodl assinou a rendição incondicional das forças alemãs.

Na manhã de 8 de maio, a notícia foi anunciada nas capitais aliadas. Na França, os sinos das igrejas anunciaram o fim da guerra na Europa, enquanto o general de Gaulle anunciava no rádio: “A guerra está ganha! Aqui está a vitória! É a vitória das Nações Unidas e é a vitória da França!”

Às 23h01 de 8 de maio (1h01 no horário de Moscou), a rendição incondicional do 3º Reich entrou em vigor após a ratificação pelo Marechal de Campo Keitel, que representava o Alto Comando Alemão. As testemunhas foram o marechal de campo soviético Zhukov, o marechal de campo britânico Tedder, o general francês Lattre de Tassigny e o general Spaatz, comandante das Forças Aéreas Estratégicas dos Estados Unidos.

Soldados leem manchetes da edição extra de jornal anunciando a rendição da Alemanha (Foto: Reprodução do Imperial War Museum)

Rússia

Putin sempre aproveitou o feriado para fazer uma demonstração de força, com uma grande parada militar escancarando o estágio do desenvolvimento doméstico de armas e munições – bem ao estilo da antiga URSS – e até anunciou um cessar-fogo da guerra atual. Nos últimos anos, ele juntou à sua narrativa a acusação de que os ucranianos lutaram ao lado dos nazistas no conflito.

O governo russo também se ressente com frequência do pouco reconhecimento que o Ocidente faz da contribuição da União Soviética para a derrota dos nazistas em 1945.

Não ajudaram muito nesse contexto as declarações recentes do presidente Donald Trump de enaltecer apenas o papel dos EUA na resolução do conflito, colocando em segundo plano até os aliados europeus.

“Muitos de nossos aliados e amigos estão comemorando o dia 8 de maio como o Dia da Vitória, mas fizemos mais do que qualquer outro país, de longe, para produzir um resultado vitorioso na Segunda Guerra Mundial”, escreveu em sua rede Truth Social.

De acordo com estatísticas do Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial em Nova Orleans, cerca de 418.500 americanos foram mortos durante o conflito na Europa e no Pacífico. Do total, cerca de 416.000 foram baixas militares.

Trump prometeu ainda renomear o 8 de maio do atual “Dia da Vitória na Europa” como “Dia da Vitória da Segunda Guerra Mundial”. Trump se esqueceu que o fim do conflito no velho continente não representou o término da guerra, uma vez que o outro inimigo, o Japão, só se rendeu em 15 de agosto, dias após as explosões das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

O que se sabe é que o fim da “Grande Guerra Patriótica”, como a 2ª Guerra Mundial é chamada pelos russos, ceifou a vida de quase 27 milhões de soldados e civis soviéticos. O 9 de maio, assim, é o feriado mais importante da Rússia e Putin nunca economiza nos festejos.

Reino Unido

No lado ocidental, a data do dia 8 também é muito celebrada. No Reino Unido, embora não seja feriado, os festejos começaram na segunda-feira (5). Estão previstos cortejos, missas e um grande show com vários artistas britânicos. Os pubs estão autorizados a ficar abertos até 1h.

Jovens comemoram fim da guerra na Europa na fonte da Trafagal Square (Foto: Reprodução do Imperial War Museum)

O rei Charles, vestindo seu uniforme naval, e a rainha Camilla estavam na segunda-feira na primeira fila do Memorial da Rainha Vitória durante os desfiles. O príncipe William, Catherine, a princesa de Gales e seus três filhos também estavam na plataforma de observação. Depois, a realeza foi para a varanda do Palácio de Buckingham para cumprimentar a multidão. Houve três vivas para a Família Real – e para os heróis do VE Day.

Na terça-feira (6), a Torre de Londres inaugurou uma instalação de arte com 30.000 papoulas de cerâmica para marcar o 80º aniversário do VE Day. À noite, dezenas de edifícios históricos foram especialmente iluminados, como o Palácio de Buckingham, a 10 Downing Street e as Casas do Parlamento na capital.

Nesta quinta-feira, após um serviço de ação de graças na Abadia de Westminster, acontece um grande show musical, chamado de “A Celebration to Remember”, com expectativa de presença de mais de 10 mil pessoas no Horse Guards Parade. O show contará com estrelas como Samantha Barks, Fleur East e John Newman.

França

Na França, a data de “La victoire du 8 mai 1945” é considerada feriado nacional, com os bancos, escolas, escritórios e prédios da administração pública fechados. Como a data cai numa quinta-feira, será opcional para que o feriado seja estendido na sexta-feira.

O transporte público funcionará normalmente neste feriado, embora alguns serviços de da cidade possam funcionar em um ‘horário de domingo’ com oferta reduzida. Os trens geralmente também param, mas neste ano vários sindicatos ferroviários já declararam greves durante o fim de semana do feriado.

As comemorações oficiais começam no final da tarde, com a tradicional cerimônia de colocação de coroas de flores em frente à estátua do General de Gaulle, na rotatória da Champs-Elysées. O presidente Emmanuel Macron deve discursas  por volta das 18h.

Durante a tarde, no entanto, o público poderá acompanhar o desfiles de bandas militares da França, Reino Unido e Canadá, seguido de um desfile militar.

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