“A coisa certa a fazer é esperar”, diz Powell sobre juros nos EUA

O presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), Jerome Powell, defendeu nesta quarta-feira (7/5) cautela da autoridade monetária em relação aos próximos passos da trajetória da taxa básica de juros no país.

As declarações de Powell foram dadas em entrevista coletiva poucos minutos depois do anúncio da decisão do Fed de manter os juros básicos da economia norte-americana no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.

Foi a terceira reunião consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana manteve inalterada a taxa de juros.

“Se tivermos inflação e desemprego mais altos, veremos um atraso para chegar às metas para o ano que vem”, afirmou o presidente do BC dos EUA.

“Minha intuição diz que os riscos aumentaram e os riscos de inflação e desemprego mais altos aumentaram, mas isso ainda não se refletiu nos dados”, prosseguiu Powell. “A coisa certa a fazer é esperar mais clareza”, complementou o chefe da autoridade monetária.

O que disse o Fed no comunicado

“Ao considerar a extensão e o momento de ajustes adicionais na meta para a taxa básica de juros, o comitê avaliará cuidadosamente os dados recebidos, a evolução das perspectivas e o balanço de riscos. O comitê continuará reduzindo suas posições em títulos do Tesouro, títulos de dívida de agências e títulos lastreados em hipotecas de agências. O comitê está fortemente comprometido em apoiar o emprego máximo e retornar a inflação à sua meta de 2%”, diz o Fed no comunicado que acompanha a decisão.

“Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O comitê estará preparado para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objetivos do comitê”, prossegue o comunicado.

“As avaliações do comitê levarão em consideração uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre as condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação, além de desenvolvimentos financeiros e internacionais.”

No comunicado, o Fed diz ainda que “busca atingir o máximo de emprego e inflação a uma taxa de 2% no longo prazo”.

“A incerteza quanto às perspectivas econômicas aumentou ainda mais. O comitê está atento aos riscos para ambos os lados de seu duplo mandato e avalia que os riscos de aumento do desemprego e da inflação aumentaram”, diz o texto.

A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.

O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,4% em março, na base anual, um recuo de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior (quando foi de 2,8%).

Na comparação mensal, a taxa recuou 0,1%, ante alta de 0,2% em fevereiro.

A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.

Trump atacou Powell

Na coletiva desta quarta, Powell afirmou que as críticas do chefe do Executivo não interferem no trabalho do Fed. Em meados de abril, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a subir o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrou a redução da taxa de juros no país.

“Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump, na época.

Mais tarde, após receber a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para um almoço, Trump reafirmou as críticas a Powell e indicou o desejo de afastá-lo do cargo: “Se eu pedir, ele vai embora”, afirmou.

Poucos dias depois, diante do mal-estar no mercado e da queda das bolsas nos EUA e na Europa, Trump recuou, amenizou o tom e praticamente afastou a hipótese de demitir Powell. “Nunca tive essa intenção. A imprensa exagera as coisas”, disse a repórteres.

“Não, não tenho intenção de demiti-lo. Gostaria de vê-lo ser um pouco mais ativo em relação à sua ideia de reduzir as taxas de juros”, prosseguiu o presidente dos EUA. “Acreditamos que este é o momento perfeito para reduzir a taxa, e gostaríamos de ver nosso presidente [do Fed] agir com antecedência ou pontualmente, em vez de com atraso.”

A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.

Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.

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