Antiquário fecha as portas em Canoas após atividade que durou mais de 14 anos

Quem passa hoje pelo endereço Rua Conselheiro Lafaiete 81, no bairro São José, não imagina a riqueza histórica por trás das quatro paredes de concreto. Isso porque, durante os últimos 14 anos, o local serviu para acomodar um antiquário.

Adilar Roque Badin feliz da vida entre as peças antigas que mantém guardadas em casa



Adilar Roque Badin feliz da vida entre as peças antigas que mantém guardadas em casa

Foto: LEANDRO DOMINGOS/GES-ESPECIAL

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Foi no começo da década passada que Adilar Roque Badin ganhou a primeira roda de carroça. O que era apenas uma peça rústica e antiga guardada no pátio se tornou o ponto de partida para uma coleção estimável de itens que lembram outras épocas.

“Não foi algo planejado”, lembra Badin. “A partir desta primeira roda, eu passei a ganhar itens antigos, que começaram a tomar lugar até que eu estivesse com um pequeno museu em casa.”

Um comerciante ocupado demais para divulgar o negócio paralelo envolvendo antiguidades, Badin viu o boca a boca crescer e pessoas que nunca havia encontrado antes passaram a lhe oferecer itens antigos que tinham em casa.

“A pessoa me entregava um lampião do começo do século e então contava a história dele”, explica. “Isso acabou se repetindo e passei a colecionar, além dos itens decorativos, histórias de vida.”

Aos 60 anos, Badin já não recebe materiais por falta de espaço. Ele está transferindo o rico acervo histórico reunido para o Município de Bella Torres, em Santa Catarina, onde curte a aposentadoria com a esposa.

“O pessoal quer que eu monte um museu aqui”, conta. “Porém, muito do que reuni ao longo da última década faz parte da história de Canoas. Seria bom que o material permanecesse na cidade”, opina.

Milhares de itens

Os interessados, informa Badin, podem entrar em contato pelo [email protected]. Mas ele avisa que não irá se desfazer de item por item até porque levaria anos até conseguir se desfazer da coleção.

“Tenho milhares de peças, que vão desde pequenos brinquedos, oriundos de uma época em que nem se sonhava com videogame, até enormes lustres, mobiliário rústico e máquinas pesadas. Não consigo catalogar item por item.”

Organização

Um passeio, mesmo que rápido, pelos cômodos e corredores da casa de Badin é como uma viagem ao passado, por meio de objetos que remontam outras épocas.

Embora aparelhos de barbear e rádios; máquinas de escrever e fotográficas; chaleiras e bules estejam todos alinhados lado a lado, esta organização não foi prévia.

O colecionador recorda que apenas foi reunindo o material e, pela semelhança e característica, colocou-os lado a lado nos cômodos.

“Eu não garimpei e nem estudei para ir atrás de determinadas peças”, afirma. “Apenas fui recebendo e guardando a tudo com muito carinho.”

Existe, portanto, uma variedade, que vai desde relógios possivelmente trazidos da Europa até peças em madeira esculpidas por artistas aqui mesmo de Canoas.

“Eu sei que teria gente que catalogaria tudo, embalaria e manteria o material organizado de modo coeso, mas eu apenas enchi a casa e, quando faltou espaço, comecei a levar as coisas para a rua.”

Fora de casa estão os itens mais rústicos, especialmente as rodas de carroça, usadas por muitos tradicionalistas e, por isso, consideradas itens importantes.

“Tudo começou com uma roda de carroça”, diz. “É por isso que tenho várias no pátio com pesos e tamanhos bem diferentes uma da outra.”

Tecnologia

Quando passou a dedicar parte do tempo para o antiquário, Badin lembra que já vivia com um aparelho celular com internet na mão. Ele só não imaginava que a tecnologia dominaria tanto o dia a dia da juventude.

Um apaixonado pela História, ele se ressente de que as novas gerações não tenham muito interesse pelo passado, permanecendo mais antenadas em novas tecnologias e poucos jovens conheceram seu antiquário.

“A meu modo, mantenho viva uma parte da história de Canoas”, diz. “Mas tenho até dificuldade de lembrar o último jovem que visitou minha casa. Pessoal mais antigo se interessa, mas a cabeça da gurizada de hoje não está no passado.”

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