Braskem ganha fôlego para produzir resina no México com terminal de US$ 450 milhões

CIDADE DO MÉXICO – As operações da Braskem no México estão prestes a ganhar um esperado reforço para a produção de polietileno na fábrica de Coatzacoalcos, cidade de difícil pronúncia no estado de Veracruz. O Terminal Química Puerto México (TQMP), investimento previsto há quatro anos, por fim será inaugurado nesta quarta-feira (7). O projeto demandou recursos da ordem de US$ 450 milhões e foi concebido para trazer, dos Estados Unidos, uma matéria-prima que anda em falta na planta mexicana: o etano.

O composto químico é ponto de partida para a produção do polietileno, resina industrial utilizada na produção de uma infinidade de itens de plástico do dia a dia e altamente demandado pela indústria de embalagens. Mas a carência de etano se acentuou nos últimos anos, fazendo com que a fábrica de Veracruz chegasse a operar na metade de sua capacidade e até paralisasse a produção.

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“Hoje a gente não consegue passar de 80% da capacidade. [….] Empresa de capital intensiva precisa rodar a plena carga”, afirmou Isabel Figueiredo, CEO da Braskem Idesa, em encontro com jornalistas na sede da empresa, na Cidade do México.

O TQMP promete acabar com esse gargalo, com estrutura para receber navios vindos do Texas, onde estão os maiores produtores e exportadores de etano do mundo – e a uma distância de apenas dois dias de navegação pelo Golfo do México. A Braskem investiu mais de US$ 200 milhões em duas embarcações com estrutura apropriada para transportar a matéria-prima, que é embarcada em estado liquefeito e acondicionada em temperaturas negativas. Os navios serão dedicados para a logística do TQMP.

A Braskem toca a operação no México com uma sócia minoritária local, a Idesa, petroquímica que atualmente é controlada pelo Grupo Carso, de Carlos Slim. Para a construção do Terminal, a Braskem Idesa fez joint venture com um terceiro nome, a Advario, divisão holandesa da alemã Oiltanking, especializada em construção, financiamento e operação de terminais portuários.

Navio dedicado à logística do Terminal foi construído com investimento de US$ 100 milhões da Braskem (Foto: Divulgação)

Fornecimento de estatal mexicana comprometeu produção

Braskem e Idesa se juntaram em 2009 para participar dos leilões da Petróleos Mexicanos (Pemex) e venceram o certame. No acordo, assinado no ano seguinte, a estatal mexicana se comprometia a fornecer 66 mil barris diários de etano à Braskem Idesa por duas décadas.

A fábrica de etileno em Coatzacoalcos começou a operar em 2016, às custas de um investimento de US$ 5,2 bilhões. Os problemas de fornecimento de etano pela Pemex começaram dois anos depois e escalaram, gerando ruídos com o governo de Andrés Manuel López Obrador. O presidente no poder à época chegou a questionar a legitimidade do contrato que classificou como “leonino”, alegando que a Braskem Idesa adquiria o etano por apenas uma fração do que a matéria-prima custava no mercado.

Em 2021, as partes chegaram a um acordo com um aditivo contratual que reduziu a obrigação de fornecimento da Pemex para 30 mil barris por dia até a entrada em operação do TQMP. A estatal mexicana também acertou que iria contribuir com projeto, concedendo áreas para a construção do terminal.

A nova estrutura portuária tem capacidade para importar 80 mil barris diários de etano equivalente. “O terminal consegue nos fornecer além da nossa capacidade hoje”, explicou Isabel Figueiredo. A capacidade total de produção da Braskem Idesa hoje é de 1 milhão e 50 mil toneladas de polietileno por ano. Com a nova estrutura, a empresa estuda a possibilidade de expandir a capacidade de produção para até 125%.

“Isso ainda não está decidido, tem que ser aprovado pelo conselho. Mas faz muito sentido, pois vamos ter etano disponível, e a nossa planta de polietileno foi concebida para conseguir operar além da capacidade nominal”, explica a CEO.

No momento de partida do Terminal, a Pemex deixa de ter a obrigação de fornecer etano para a Braskem Idesa. Mas a executiva diz que a Braskem Idesa vai tentar seguir comprando a matéria-prima da estatal. “É o [etano] mais competitivo, pois vem de dutos. Sempre vai ser nossa melhor alternativa. E nós já dissemos isso à Pemex, que estamos dispostos a comprar”.

Isabel Figueiredo, CEO da Braskem Idesa (Foto: Divulgação)

Foco no mercado mexicano

A operação no México responde por aproximadamente 15% dos volumes e faturamento global da Braskem e o aumento da produção tende a elevar esse percentual. Hoje, 60% do polietileno que sai da planta de Veracruz é vendido dentro do próprio país, o que faz a empresa ser o player local com maior participação de mercado – cerca de 20%. “Os 80% restantes vêm praticamente dos Estados Unidos”, explica Isabel.

O que não abastece o mercado interno, é exportado, principalmente, para América Central, Caribe e a porção norte da América do Sul, regiões em que as facilidades logísticas tornam a exportação mais competitiva.

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“A gente quer focar no mercado mexicano, porque ele é deficitário e importa 80% do que consome. Temos vantagens em relação ao produto que vem de fora. Estamos aqui, garantimos disponibilidade e entrega, porque somos um produtor local”, diz a CEO.

Questionada sobre como a guerra tarifária iniciada pelo presidente americano Donald Trump poderia impactar a logística no novo Terminal, a executiva diz não estar preocupada. “Dificilmente o governo mexicano vai colocar alguma taxação no etano [dos Estados Unidos], porque o próprio governo mexicano depende muito de gás americano”, diz.

Por outro lado, mercados que por ventura decidirem taxar o polietileno americano, podem se tornar potenciais compradores da Braskem Idesa. “O México tem acordos com bilaterais com mais de 50 países do mundo. Não vai faltar mercado para a gente”, conclui a executiva.

*A reportagem viajou para a Cidade do México à convite da Braskem

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