Câmara de Cachoeiro debate desafios de famílias de autistas

A Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim foi palco, nesta segunda-feira (5), de uma audiência pública dedicada à defesa dos direitos das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O encontro contou com a presença de autoridades, representantes de instituições, profissionais da área, pais, familiares e pessoas autistas. O objetivo central foi ampliar a conscientização sobre os desafios enfrentados por quem convive com o TEA e fortalecer políticas públicas inclusivas no município.

Proponente da audiência, o vereador Creone da Farmácia (PL), que é presidente da Comissão de Saúde da Casa e pai de uma criança autista, abriu o debate. “Eu tenho um filho de 6 anos de idade, que é especial. Eu perdi um filho de 7 anos, também especial. Meu filho não anda, não fala, se alimenta com uma sombra na barriga. Eu tenho um custo mensal de 5 mil reais por mês. Então, eu não sou uma bandeira, eu sou uma causa. Eu vivo isso todos os dias dentro da minha casa. Por isso que eu resolvi abrir essa audiência para trazer as pessoas para cá e trazer opiniões, ideias, e que a gente possa dar sequência e sairmos daqui nesta noite com ideias boas e coisas construtivas”.

A secretária municipal de saúde, Renata Fiório, garantiu que o prefeito Ferraço quer uma política pública que seja voltada para a solução do problema, para não deixar ninguém para trás. “Ele está cuidando pessoalmente de tirar esse projeto do Núcleo de Apoio aos Autistas do papel. Então, não é algo que vai ficar longe e distante, não. É algo tangível, que tem endereço, é algo que tem regra clara, que já tem toda uma formalização para a gente encaminhar. Nós vamos respeitar todas as famílias e nunca desistir. Precisamos muito desta Casa de Lei para apoiar o orçamento e para lembrarem desta causa quando tiverem as emendas impositivas”.

Em sua fala, o deputado estadual Allan Ferreira ressaltou que é preciso falar sobre o autismo o ano inteiro, e não apenas no mês de abril. “Estamos lutando na Assembleia para trazer qualidade de vida para essas crianças, jovens, e para suas famílias. Uma das preocupações das famílias é com o futuro, sobre como essas crianças serão inseridas no mercado de trabalho e por isso criamos o selo ‘Empresa Amiga do Autista’. Em breve teremos aqui em Cachoeiro um Centro Especializado em Transtorno do Espectro Autista (CETEA), que vai ofertar todo tratamento multidisciplinar que o autista precisa e, dessa forma, evitar que as famílias precisem sair daqui para buscar terapias em Vila Velha. O projeto já está em andamento, será gerido pelo Hospital Infantil e será muito importante para as famílias atípicas”.

A presidente da Apae, que também é mãe atípica, Gabriela Betine, explicou que a entidade atente cerca de 900 pessoas e realiza mais de dois mil procedimentos mensais. “Mesmo assim não é suficiente, temos uma longa fila de espera de pessoas que precisam de acompanhamento. Nós gostaríamos de atender muito mais e temos profissionais capacitados para isso”.

Além disso, Gabriela falou sobre a inserção dessas pessoas na sociedade. “Precisamos de um olhar diferenciado da sociedade para nós. Os autistas são pessoas e precisam ter seus direitos preservados. Eles precisam estar nas escolas, nas igrejas e nos ambientes de trabalho. Nós temos um projeto de profissionalização dos jovens, mas o número de inserção no mercado de trabalho é muito baixo, e isso é angustiante. Eles têm sonhos como todo mundo. As pessoas precisam nos enxergar”, lamentou.

Outros pais e mães atípicos também participam do debate e fizeram importantes falas, expondo as dificuldades enfrentadas pelas famílias de pessoas com TEA. “Tenho laudo há dois anos e minha filha está sem terapias. Como mãe eu faço o máximo que eu posso, mas ela precisa de ajuda profissional. Domingo é dia das mães e meu aniversário mas eu não tenho motivos para comemorar. Estou com minha filha sem terapias, regredindo em uma fila de espera e sem previsão de solução”, lamentou Clarita.

O médico e pai atípico, Dr. Valério Resende, cobrou maior envolvimento dos poderes Legislativo e Executivo. “A Apae de Cachoeiro atende hoje 900 pessoas e vocês vereadores sabem o valor dos recursos necessários para atender essa quantidade de pessoas? Precisamos do envolvimento total dessa Casa com as instituições, tanto públicas quanto privadas. Por que não realizar parcerias público-privadas? Vocês podem e devem fazer emendas para destinar verbas para a Apae aumentar o número de atendimentos. E outro problema que precisa ser levado em conta é o número de casamentos desfeitos. A estatística é que 80% dos pais saem de casa, deixando as mães sozinhas e isso é um problema social que se torna um problema de saúde. Algumas dessas mulheres não suportam a pressão e pensam até em se matar. Isso está acontecendo na nossa cara. A cada ano teremos mais autistas nascendo e se nós enquanto sociedade não entendermos que o mundo está mudando, quem vai pagar a conta dessas crianças daqui a 15 anos?”.

“A gente vivencia uma crise, um sofrimento por falta de efetividade nos direitos fundamentais que garantem nossa dignidade e das crianças e adolescentes com TEA. Nós temos a melhor legislação nesse sentido, que garante qualidade de saúde e atendimento educacional para nossas crianças e o que falta de verdade é a efetivação, a vontade de atuação verdadeira e a prioridade política. Se a Apae não consegue atender mais pessoas é porque faltam recursos, e se faltam recursos, falta atuação do Legislativo e do Executivo para garantir que essas crianças e esses adolescentes recebam do Poder Público o atendimento que merecem e precisam”, finalizou a mãe atípica Valéria Onhas.

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