Meses na estrada, cozinha e cama improvisadas na mata: o trabalho exaustivo de peões de comitiva no Pantanal

O segundo episódio do “Mochilão” do Profissão Repórter registrou os desafios do transporte de mais de mil cabeças de gado rumo a um dos maiores leilões da região. Edição de 06/05/2025
O Profissão Repórter desta terça-feira (6) acompanhou o trabalho exaustivo de peões de comitivas no Pantanal, encarregadas de transportar mais de mil cabeças de gado por trajetos de difícil acesso.
Os peões enfrentam sol, chuva e poeira durante semanas ou meses na estrada. Dormem em redes e cozinham no meio do mato. Tudo de forma improvisada, até que todo o gado seja entregue e vendido nos leilões da região. Durante 10 dias, a equipe do programa acompanhou uma dessas comitivas.
Sem estradas adequadas e em áreas de difícil acesso, a reportagem precisou usar o único meio de transporte possível no trajeto: a mula.
Assista à íntegra do programa no vídeo acima.
Dormitório no meio da mata
Jovem peão de uma comitiva conversa com o Profissão Repórter
Entre os peões, está Fábio Souza, um dos mais jovens da comitiva. Ele completou 18 anos durante a jornada e aproveitou o momento para fazer um pedido:
“Meu desejo é que a gente tenha muita saúde e a profissão do boi seja valorizada. A gente enfrenta sol, chuva, e ninguém vê. Só vê na hora que a carne está lá no açougue, na churrasqueira, na panela, mas ninguém vê a luta que a gente passa para levar”, afirmou.
Ao anoitecer, os peões montam o que chamam de pouso: lugares onde dormem. Redes armadas entre árvores viram camas.
“Melhor que hotel cinco estrelas”, brinca Fábio.
Cozinha na estrada
Peão de comitiva prepara comida em cozinha improvisada no meio da estrada
Ismael é o responsável pela cozinha. Todos utensílios e alimentos utilizados são levados pela estrada em bruacas, caixas carregadas pelas mulas.
No amanhecer, ele dá início à preparação do almoço com água de um riacho, em um improviso diário. Em pouco tempo, o espaço na beira da estrada, vai se transformando em cozinha. O cardápio: arroz, feijão e carne.
“Tem que comer para ir embora e nós continuarmos a jornada”.
Depois da refeição, Ismael lava e empacota tudo novamente para seguir viagem.
Debaixo de chuva
Sob chuva, comitiva com mil bois atravessa o Pantanal
Perto do fim da jornada, o grupo enfrenta chuva forte. Mesmo encharcados, seguem em frente. À noite, montam barracas e improvisam abrigo. Fábio protege o celular com um saco de arroz para não molhar.
“A estrada vai vencendo as pessoas pelo cansaço. Você vai chegando ao seu limite, seu máximo”, desabafa um peão.
Entre alagamento
Comitiva pantaneira enfrenta trecho alagado e bois atravessam sob água
A repórter Sara Pavani também acompanhou o desafio para a comitiva passar com os bois em um trecho alagado.
Chegada ao leilão
Após 85 dias na estrada, comitiva pantaneira chega em leilão com mil cabeças de gados
No último dia, às 6h, o rebanho volta à estrada. Depois de 85 dias, os bois — muitos já cansados e magros — chegam ao destino: o leilão.
Pantaleão Flores é ex-peão que virou dono de leilão. Ele arca com os custos da comitiva e lucra 6% sobre a venda.
“Meu pai criou dez filhos levando boi na estrada. Amo essa vida.”
A comitiva levou mais de mil bois de três donos. Mas nem todos chegaram: 168 ficaram pelo caminho.
“A gente tenta não perder nenhum, mas às vezes ficam em fazendas no trajeto. Na volta, a gente traz. Fica chato porque a gente sai para não deixar nenhum, mas acontece de ficar. Dei o meu melhor que eu podia ficar, mas ficou, realmente ficou para trás”, explica um peão.
Mais de 100 compradores participaram do leilão. Enquanto os lances aconteciam, os peões seguiam cuidando dos animais.
“Aqui a gente trabalha até o fim”, diz Fábio.
Em duas horas, todos os bois foram vendidos por R$ 2,5 milhões. O gado segue para novas fazendas, e os peões encerram mais uma longa jornada.
“É bom que aí a gente sabe que fez um serviço bem-feito. Conseguimos entregar, leiloar e embarcar. Foi bem vendido. Agora que fiz 18, espero um serviço com carteira assinada” , conclui Fábio.
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