Atingidos pela enchente histórica ainda lutam por um recomeço na região; veja relatos

Há um ano, o Rio Grande do Sul vivia a maior enchente de sua história. E entre as várias cidades afetadas, São Leopoldo, que se desenvolveu às margens do Rio dos Sinos, foi uma das mais afetadas na região metropolitana, com milhares de desabrigados após as águas da cheia inundarem centenas de casas e prédios. Com o nível do rio ultrapassando os 8 metros e superando as marcas das grandes cheias de 1941 e 1965, milhares de pessoas precisaram deixar seus lares em maio de 2024.

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Com o nível do rio ultrapassando os 8 metros e superando as marcas das grandes cheias de 1941 e 1965, milhares de pessoas precisaram deixar seus lares em maio de 2024.

Seu Almirante conta os desafios ainda enfrentados um ano depois da enchente | abc+



Seu Almirante conta os desafios ainda enfrentados um ano depois da enchente

Foto: Amanda Krohn/Especial

Seu Almirante, com a casa (ao fundo) inundada no São Miguel, vivia em barraca improvisada no viaduto sobre a BR-116  | abc+



Seu Almirante, com a casa (ao fundo) inundada no São Miguel, vivia em barraca improvisada no viaduto sobre a BR-116

Foto: Fotos Amanda Krohn/Especial

De volta ao lar, após recuo das águas no ano passado, Almirante mostrava móveis, eletrodomésticos e diversos documentos perdidos na cheia | abc+



De volta ao lar, após recuo das águas no ano passado, Almirante mostrava móveis, eletrodomésticos e diversos documentos perdidos na cheia

Foto: Amanda Krohn/Especial

Um ano depois, as famílias afetadas vivem o recomeço ao mesmo tempo em que esperam medidas para que o drama nunca mais se repita. Em paralelo a isso, o município e o Estado trabalham, a passos lentos, nas necessárias melhorias do Sistema de Combate às Cheias.

O drama

Um dos bairros que teve 100% da sua área inundada foi o São Miguel. Do dique até a BR-116, das margens do rio até a Avenida João Corrêa, milhares de pessoas foram atingidas e tiveram que deixar suas casas e estabelecimentos. Uma dessas pessoas é Alcino Almirante Gonçalves, de 84 anos, morador do bairro São Miguel desde a primeira metade do século passado.

Em maio do ano passado, acampado improvisadamente em uma barraca (juntamente com dezenas de outras pessoas) no viaduto sobre a BR-116, ele, que também viveu na época das enchentes históricas de 1941 e 1965, contou que viu sua casa ficar submersa próxima à sede da escola de samba Império do Sol, a praticamente uma quadra da BR-116. Com a ajuda do Auxílio Reconstrução (concedido pelo governo federal), conseguiu apenas comprar um fogão e uma geladeira. “O resto compramos sozinhos (ele e o filho)”, afirma.

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Seu Almirante e seu filho, que tem o mesmo nome, seguem morando no mesmo local, na Rua São Domingos, paralela à BR-116 (junto à rótula do viaduto de acesso à Avenida Dom João Becker e à rodovia) com as roupas ainda penduradas em locais improvisados e dormindo em colchões (sem os móveis).
Sem saber como solicitar outros benefícios quando foi atingido, Seu Almirante sente que a prefeitura deveria dar mais apoio a pessoas como ele naquela época.

“Para algumas pessoas eles deram coisas, para outras não”, reclama. Além de recursos próprios empregados para recuperar o que foi possível após a perda total das cheias, eles contaram também com doações da comunidade. Hoje, com a casa que teve que ser higienizada após as enchentes, eles ainda buscam reconstruir parte do que foi levado pelas águas de maio do ano passado.

No ano passado, Wagner e sua esposa Andréia vieram de Sapucaia do Sul para ajudar no socorro aos moradores de São Leopoldo atingidos pela cheia | abc+



No ano passado, Wagner e sua esposa Andréia vieram de Sapucaia do Sul para ajudar no socorro aos moradores de São Leopoldo atingidos pela cheia

Foto: Amanda Krohn/GES-Especial

Histórias de quem precisou de ajuda e ajudou muita gente

Além dos que foram atingidos, havia também os que ajudavam, como era o caso de Wagner Zanderlei, de 39 anos. Membro da Central Única das Favelas (Cufa) Sapucaia do Sul, ele veio até São Leopoldo auxiliar na força-tarefa dos moradores do entorno da Avenida João Corrêa quando o dique do bairro Vicentina se rompeu. Na época, se mostrou abalado contando o que via.

“A gente tá há 38 horas sem dormir, jogado no chão, com frio… mas nós temos que pensar nas pessoas. Muitas não querem sair de casa porque temem ser assaltadas… e nós vimos corpos”, dizia, sem conseguir conter as lágrimas.

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“A gente fez uma força-tarefa em Canoas, Sapucaia do Sul, Esteio e etc. Naquele dia, estávamos em São Leopoldo”, lembra, acrescentando que sua residência não foi atingida, mas ficou cercada pelas águas no bairro Vargas. “Toda a volta da minha casa ficou ilhada e muitos amigos próximos de mim foram atingidos.

Meu comércio [um salão de cabeleireiro] virou praticamente um centro de distribuição de tudo o que vinha.” Para Wagner, o que lhe marcou foram os detalhes da rotina de resgates e doações. “Sinto na minha memória os pequenos momentos no chão, ajudando uma senhora acamada em Sapucaia do Sul… e a questão de eu ter visto corpos ficou muito gravado, apesar de eu não saber quem eram aquelas pessoas”, diz.

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