Por que C&A (CEAB3) salta 16% mesmo após reportar queda de 94% do lucro no 1T25?

As ações da C&A (CEAB3) disparavam 16,15%, cotadas a R$ 14,96, às 14h (horário de Brasília) desta quinta-feira (8), após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25). O movimento chama atenção porque, no período, o lucro líquido da varejista despencou 94,3% em relação ao mesmo intervalo do ano anterior, totalizando R$ 4,1 milhões.

Apesar da forte queda no resultado final, os dados operacionais vieram acima das projeções de analistas e mostraram avanços importantes na gestão da companhia. O lucro líquido ajustado, por exemplo, ficou em R$ 2,5 milhões — revertendo prejuízo de R$ 61,4 milhões no primeiro trimestre de 2024.

O Bradesco BBI afirmou que o desempenho reafirma a trajetória de recuperação iniciada ainda no fim de 2022. Segundo o banco, a expansão da margem bruta em 1,9 ponto percentual na comparação anual, o controle das despesas com vendas, gerais e administrativas e a contribuição positiva da operação financeira da empresa justificam uma leitura otimista. O banco manteve recomendação de compra (outperform) e preço-alvo de R$ 14.

Entre janeiro e março, a receita líquida da C&A somou R$ 1,612 bilhão, avanço de 10,9% na base anual. O lucro bruto consolidado cresceu 13,2%, atingindo R$ 872 milhões, e a margem bruta subiu para 54,1%. Já o lucro antes dos juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) ajustado pós-IFRS16 ( International Financial Reporting Standard 16) chegou a R$ 244,5 milhões, com margem de 15,2% — 2,7 pontos percentuais acima do mesmo período do ano passado.

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Mesmo com a queda nas vendas mesmas lojas (SSS), que recuaram 6,9 pontos e ficaram em 15%, os analistas dizem que o número ainda é visto como forte, especialmente diante de uma base de comparação mais alta e do calendário do Carnaval, que atrasou a concentração de vendas de verão. De acordo com o Bradesco BBI, o desempenho do vestuário foi o melhor da categoria, sustentado por maior tráfego nas lojas físicas e crescimento da taxa de conversão.

O Morgan Stanley também avaliou os números de forma positiva. A corretora classificou os resultados como uma surpresa relevante e apontou que o lucro por ação (EPS) deve seguir em trajetória ascendente nos próximos 12 meses. A recomendação segue neutra (peso igual), com preço-alvo de R$ 14,50.

Para os analistas do banco americano, a precificação dinâmica e a maior precisão na seleção de produtos elevaram a margem do vestuário em 60 pontos-base. Já a redução gradual na exposição a eletrônicos, de menor margem, ajudou a elevar o resultado consolidado. A margem bruta da divisão de beleza, mais rentável, também teve participação positiva.

Outro fator observado pelos estrategistas foi a melhora operacional dos serviços financeiros. O Ebitda da unidade somou R$ 33 milhões, apoiado por menores gastos com provisões e inadimplência em queda no cartão C&A Pay. Segundo o Bradesco BBI, foi o terceiro trimestre consecutivo com evolução nesse segmento, com redução de 60 pontos-base na inadimplência acima de 90 dias.

A relação entre dívida líquida e Ebitda se manteve em 0,5 vez, patamar considerado saudável pelos bancos, especialmente por se tratar de um trimestre com vendas normalmente mais fracas no varejo.

O mercado também enxergou uma oportunidade de entrada nas ações da empresa. Com a melhora nas margens e eficiência operacional, os analistas do Bradesco BBI reforçaram que a C&A ainda tem espaço para revisões positivas de lucro por ação e ganhos adicionais de participação no mercado de moda.

Otimismo com os números

Na mesma linha, o Itaú BBA compartilhou uma visão otimista sobre os números e elevou a recomendação para desempenho acima da média, com preço-alvo de R$ 15 ao final de 2025. O banco aponta que a margem bruta do vestuário chegou a 54,6%, com aumento de 50 pontos-base em relação ao ano anterior. O Ebitda do varejo foi de R$ 78 milhões, e a margem Ebitda ficou em 5,2%. No consolidado, a alavancagem operacional elevou o Ebitda para R$ 108 milhões, número 64% acima do previsto. O lucro líquido ficou em R$ 7 milhões, superando com folga a estimativa do banco, que previa prejuízo de R$ 52 milhões.

As vendas por metro quadrado também chamaram atenção. Um grupo de 75 lojas — cerca de 23% da base total — apresentou crescimento acima da média, com avanço de dois dígitos. Cálculos do banco indicam que o crescimento das vendas por metro quadrado ajustadas pela inflação foi 8% superior ao índice de preços no trimestre. A diferença de produtividade em relação à Lojas Renner (LREN3) vem diminuindo. A estimativa mais recente aponta 38% no primeiro trimestre, frente a 47% um ano antes.

Apesar de uma leve queda na penetração do C&A Pay, que atingiu 24,2%, os indicadores de crédito do produto financeiro continuam melhorando, segundo o BBA. A taxa de rolagem entre 61 e 90 dias recuou 160 pontos-base em relação ao ano anterior. A inadimplência também teve queda, com redução de 28% nas perdas.

Essa mudança foi atribuída a uma carteira mais saudável, alavancada por uma abordagem menos agressiva na oferta de produtos financeiros. O Ebitda dessa operação alcançou R$ 30 milhões, superando a expectativa do banco, que era de R$ 16 milhões.

Por outro lado, o ciclo de conversão de caixa aumentou em sete dias em relação ao ano passado. O prazo com fornecedores subiu 13 dias, os estoques cresceram cinco dias, enquanto as contas a receber diminuíram 11 dias — reflexo da menor presença de eletrônicos no mix de produtos. A geração de caixa livre, contudo, foi considerada forte, somando R$ 375 milhões. A alavancagem total recuou 0,4 ponto em relação ao trimestre anterior.

Com isso, os analistas do Itaú BBA veem espaço para revisões positivas nos lucros e seguem confiantes na divisão de vestuário, especialmente considerando uma base comparativa mais favorável para o segundo trimestre, influenciada por temperaturas mais altas e chuvas no Sul do país em 2024.

Segundo o relatório, a tese da empresa é clara: replicar os acertos já realizados em 2024. Pelas estimativas do banco, caso a C&A consiga equiparar sua produtividade à da principal concorrente, pode dobrar seus lucros nos próximos anos. Hoje, a ação negocia a nove vezes o lucro projetado para 2026, e o papel é apontado como a principal aposta do Itaú BBA no setor.

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