Após um Dia das Mães marcado pela enchente, data este ano vem para transformar

Neste domingo (11), a família de Graziela Batista Pereira, 44 anos, se reunirá para celebrar o Dia das Mães de uma forma especial, ainda marcada pela tragédia que atingiu a região no ano passado. A festa será na área de sua casa, no bairro Canudos, onde as águas da histórica enchente de 2024 invadiram a Rua Presidente Costa e Silva, afetando o lar que ela construiu ao longo da vida.

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Na casa de Graziela, expectativa para o almoço é grande   | abc+



Na casa de Graziela, expectativa para o almoço é grande

Foto: Susi Mello/GES-Especial

Para a dona de casa, será um momento de confraternização com seus oito filhos e cinco netos. Desta vez, haverá fotos, após muitas imagens terem sido perdidas na tragédia climática que assolou o Rio Grande do Sul. A expectativa para esta comemoração não é apenas de Graziela. Muitas mães que, no ano passado, passaram o Dia das Mães longe de casa, abrigadas em coletivos ou na casa de amigos e familiares, agora vivem uma nova realidade.

A data deste domingo promete ser cheia de significados para aquelas que participaram da reconstrução de lares devastados pela enchente. “Está todo mundo garantido para o almoço. Teremos um churrasco, como todo bom gaúcho gosta. Vamos comer lá fora”, conta Graziela, que sorri ao imaginar a mesa da cozinha na área externa, móvel que ganhou ao voltar para sua casa, cheia de familiares.

Expectativa

Segundo a dona de casa, a expectativa para o Dia das Mães não é diferente para outras famílias que ficaram abrigadas na escola estadual Seno Frederico Ludwig, o conhecido Ciep, em Canudos. “Acho que todas que enfrentaram a enchente esperam o mesmo que eu: estar reunidas com seus familiares. Aquelas pessoas que estavam no Ciep não perderam nenhum familiar e, apesar de termos perdido móveis, as doações ao longo do ano nos ajudaram bastante. Será um domingo em família”, estima.

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Em São Leopoldo, família vai celebrar com alegria

Em São Leopoldo, a dona de casa Aline Lopes Martim, 30, da Vila Brás, no bairro Santos Dumont, havia passado o Dia das Mães de 2024 no abrigo da Universidade Feevale. “Minha irmã, irmão e cunhada foram transferidos para o Concórdia antes de mim. Eu, minha mãe e as crianças ficamos na Feevale, chorando ”, lembra. A leopoldense é mãe de quatro meninas, Isis, de 1 ano e 7 meses, Yzadora, de 9 anos, Yzabelli, de 7, e Beatriz, de 10.

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Na família de Aline, terá 11 crianças celebrando a data especial | abc+



Na família de Aline, terá 11 crianças celebrando a data especial

Foto: Acervo pessoal

Na época, Aline precisou trocar de abrigo quatro vezes. Primeiro, saiu de casa, prestes a ser inundada, e foi para a residência de sua tia, também no bairro Santos Dumont. Porém, a enchente chegou lá também. Então, seguiu para um abrigo no bairro Scharlau, mas teve que ser realocada para a Universidade Feevale devido à superlotação do espaço. Da Feevale, precisou ir para o Colégio Luterano Concórdia devido ao fechamento do abrigo.

Mesmo com o emocional ainda abalado pelo trauma, o almoço deste domingo já está marcado entre Aline, sua mãe, três das quatro irmãs, suas quatro filhas e sobrinhas, somando 11 crianças. “Vai ser muito gratificante passarmos o Dia das Mães juntas, e depois de tudo. Ano passado, nós chegamos a ficar juntas depois, mas estávamos no abrigo e não teve nada”, aponta.

Em Canoas, artesã vê no trabalho a reconstrução

Em Canoas, o sentimento é diferente em comparação com a data do ano passado. Na casa da artesã Viviane Ricardo Infância Ramires, 47, vai ter a família reunida para relembrar o que ficou para trás. “Vou trazer minha mãe, sogra, meus irmãos, meus filhos e marcar esse um ano do que aconteceu. Foi de perdas, mas só materiais. Não perdemos ninguém”, afirma aliviada.

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Viviane participa da Feira do Dia das Mães com artesanatos | abc+



Viviane participa da Feira do Dia das Mães com artesanatos

Foto: Paulo Pires/GES

Além da preocupação com a família e amigos, a moradora do bairro Mato Grande viu as águas invadirem sua casa e danificar os seus materiais de trabalho. “Ano passado foi gratificante estar viva depois do que aconteceu. Mas em questão do serviço, foi um período crítico e precisávamos expor”, conta a artesã.

Ela participa da Feira do Dia das Mães na Antiga Estação de Trem, no Centro da cidade, comercializando bolsas e necessaires. “Tenho uma expectativa de que as pessoas voltem a enxergar o sentido da vida. Muitos perderam tudo aqui na feira, na cidade, e ainda estão se reconstruindo. Muitos só têm essa renda. Espero que as pessoas tenham empatia de que o artesanato não é um hobby, é um trabalho, uma dedicação”, completa Viviane.

Mãe é a força em períodos de crise

O papel das mães vai além do cuidar, pois elas sustentam e fortalecem laços. No contexto das enchentes, essa força se tornou ainda mais presente. Para a professora do curso de Psicologia da Universidade Feevale Muriel Closs Boeff uma das principais formas de valorizar as mães é reconhecer a importância do respeito e do apoio em suas atividades.

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“As pessoas devem realmente entender que o cuidado, delegado para filhos e família, cobra um preço muito alto das mulheres. Quando somos valorizadas, respeitadas, compreendidas, quando as pessoas nos apoiam, quando as pessoas também estão disponíveis para compartilhar as tarefas do cuidado, isso realmente diminui a sobrecarga das mulheres e as fortalece”, explica.

Durante as enchentes, as mães se destacaram ainda mais ao administrar o caos e oferecer segurança emocional. A psicóloga relata que houve muita insegurança, medo e aflição, por conta da situação. “Então, nesse retorno para casa, o almoço reunindo todos os filhos é um retrato simbólico da força que a mãe tem dentro da família”, observa.

Muriel, que também teve o Dia das Mães de 2024 marcado, pois foi mãe pela segunda vez justamente no período das cheias, enfatiza que a mãe sempre busca estruturar e reunir a família ao redor da mesa, celebrando conquistas e momentos de união. “Além da questão da segurança física da família com o retorno para casa, há a manutenção de vínculos familiares por meio do afeto”, acrescenta.

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Entretanto, a professora alerta para a vulnerabilidade que as mulheres, especialmente as mães, passam em situações como as registradas na enchente. “A mãe sustenta, é responsável e organiza. Se a família se torna vulnerável, a mãe, que carrega inúmeras funções, se torna duplamente vulnerável, porque, novamente, ela é sobrecarregada”, analisa.

*Colaboraram Amanda Krohn e Nicole Goulart

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