As Pesquisas Eleitorais: como ler? (por Ricardo Guedes)

Segundo Carl Hempel, em “Philosophy of Natural Science”, a ciência é um modelo da realidade, e não a realidade em si. Na Física, a Mecânica Clássica explica a trajetória de uma nave para Marte, mas não explica a órbita de Mercúrio em torno do Sol. Já a Mecânica Relativística explica o movimento dos planetas através da deformação do espaço que a massa gera, em conceito mais abrangente do que o modelo anterior. Nas palavras de Thomas Kuhn, em “The Structure of Scientific Revolution”, a ciência avança em sucessivos modelos, cada vez mais representativos da realidade. E nas palavras de Diane Crane, em “The Invisible College”, a comunidade cientifica sucessivamente consensualiza os métodos de pesquisa e de validação daquilo que se afirma e a que se chega.

Em seus resultados, as Ciências Físicas são mais preditivas do que as Ciências Biológicas; e as Ciências Sociais com menor capacidade de previsão.

Na Estatística, o conceito de “amostra” e de “margem de erro” são conceitos difíceis de se entender, que escapam do nosso “common sense”. O Cálculo Integral é difícil de se assimilar, mas retrata o que se vê. Já as Variáveis Complexas, requerem um nível de percepção abstrata que nem todos nós podemos atingir.

Uma “amostra” guarda as características da totalidade, com variações em torno da “média”. Às variações em torno da “média”, dá-se o nome de “margem de erro”.

Em inglês, a palavra “erro”, ou “error”, pode ser entendida como variação técnica; e “mistake”, o juízo de valor sobre o ato cometido.  A palavra “erro”, em português, implica em algo equivocado. Melhor teria sido chamado, em nossa língua, de “índice de variação técnica”, o que não emprestaria atribuição linguística negativa ao conceito.

As Pesquisas Eleitorais aferem o fenômeno político no instante coletado. Quanto mais estável é um ambiente político, maior será a equivalência entre a pesquisa e as eleições. Em ambientes políticos de contínua variação, a possibilidade de equivalência fica cada vez mais distante. A estatística não foi feita para prever os resultados das eleições, mas sim indicativa de tendências, no momento. Se a “margem de erro” de uma pesquisa for igual a ± 3%, 51% x 48% e 48% x 51% são resultados equivalentes, em “empate técnico”. Esta afirmação, embora tecnicamente correta, destoa de nosso “senso comum”.

As Pesquisas Eleitorais medem a popularidade do Presidente e do Governo de duas formas: a Avaliação do Governo, através dos indicadores “ótimo”, “bom”, “regular”, “ruim” e “péssimo”; e o Desempenho Pessoal do Presidente, através dos indicadores “aprova” e “desaprova”. A primeira variável, a Avaliação do Governo, mede o grau de satisfação para com a vida em geral da população, no que tange à economia, política, e condições sociais. A segunda variável, o Desempenho Pessoal do Presidente, mede o reconhecimento ao Executivo em sua tarefa administrativa, em suas tentativas e êxitos. A Avaliação do Governo é o que mais pesa na decisão de voto do eleitor.

São dados que merecem a atenção.

Em primeiro lugar, o Voto Espontâneo, que traz o voto consolidado no momento; o Voto Estimulado, que traz o voto se as eleições fossem hoje; e a Rejeição, o quanto o eleitor não votaria em um candidato de jeito nenhum. Candidatos com Rejeição de 40% ou mais dificilmente conseguem se eleger, dado que de 100% do total do eleitorado cerca de 20% vão em média para abstenção, branco e nulo, e no 80%do eleitorado votante quem tem 40% de Rejeição ou mais não passa pelo 2º Turno.

Em segundo lugar, a Avaliação Positiva do Governo é relevante para a análise da eleição, o “ótimo + bom”. As Pesquisas Sensus mostram que um candidato, quando incumbente, para se reeleger, tem que ter uma Avaliação Positiva de Governo de 55% ou mais; acima de 40% para concorrer; e dificilmente se reelegerá abaixo dos 40%.

E assim são as Pesquisas Eleitorais, na aferição de tendências, em conjunturas políticas mais, ou menos, estáveis. Na avaliação geral de sua propriedade e utilidade, se ruim com elas, melhor com elas, posto que não há produto substitutivo. Através das pesquisas, temos a indicação de tendências, segundo diferentes graus de probabilidade, no curso de cada eleição.

 

Ricardo Guedes é formado em Física pela UFRJ, Ph.D. em Ciência Políticas pela Universidade de Chicago, e CEO do Instituto de Pesquisa Sensus

 

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