“Os adultos sentaram na sala”, diz especialista Roberto Dumas sobre acordo EUA-China

O anúncio de pausa na disputa tarifária entre Estados Unidos e China abre caminho para um acordo definitivo sobre as alíquotas de importação entre os dois países, que devem chegar a um denominador comum, avalia Roberto Dumas, mestre em economia chinesa e professor de economia internacional no Insper.

Nesta segunda-feira (12), EUA e China declararam que vão manter tarifas reduzidas durante 90 dias. Os EUA, que haviam estipulado imposto de 145% sobre produtos chineses, passarão a cobrar até 30% (10% sobre produtos em geral e 20% a substâncias relacionadas ao opioide fentanil). A China, que havia respondido à taxação americana elevando a 125% os impostos de importação para produtos americanos, passará a cobrar 10%.

“É um bruta de um recuo do [presidente dos EUA, Donald] Trump. Agora, pelo menos, vamos começar a discutir uma nova política tarifária. Ou a China vai acabar aumentando para 30% também, ou os Estados Unidos vão cair para 20%”, avalia.

Para ele, foi retirada a “espada de Dâmocles” sobre a cabeça da economia global porque agora há um norte nas negociações. “Os adultos sentaram na sala”, afirmou.

Confira, abaixo, a entrevista de Roberto Dumas para o InfoMoney sobre o acordo:

InfoMoney: O que a pausa de 90 dias significa? É o início do fim da disputa comercial?
Roberto Dumas:
Isso é um bruta de um recuo do [presidente dos EUA, Donald] Trump. Agora, pelo menos, vamos começar a discutir uma nova política tarifária e eles devem chegar em um acordo, um denominador comum. Ou a China vai acabar aumentando para 30% também, ou os Estados Unidos vão cair para 20%. Não vai ter essa discrepância de 30% para 10%.

IM: É possível que as tarifas estipuladas neste período de 90 dias se prolonguem e virem permanentes?
RD
: Sim, até mesmo porque, vamos combinar, que 145% e 125% não era guerra tarifária, era embargo. Você não vai comprar e não vai vender nada [com essas tarifas]. E os EUA estavam com risco de recessão doméstica, porque ia faltar produto chinês.

A ideia de Trump [de estimular a indústria local] está correta em um mundo atemporal. Ele falava que as empresas iriam entrar [na produção dos produtos que até então eram importados], mas isso não acontece em três, quatro, cinco, seis meses. Você precisa de tempo.

IM: Qual o impacto do anúncio no panorama econômico global?
RD
: A gente estava com uma “espada de Dâmocles” [expressão relacionada a um perigo iminente] na cabeça, que era a possibilidade de um crescimento global menor. Por isso que os preços das commodities estavam despencando e o Federal Reserve não cortou a taxa básica de juros, porque não sabia onde essa guerra tarifária iria parar. Agora estamos tendo um norte. Os adultos sentaram na sala.

Enquanto as empresas não sabiam quanto ia ser a tarifa, elas não conseguiam fazer um plano de negócios para saber se valia a pena investir nos Estados Unidos ou em qualquer outro país.

Agora, pelo menos, a “espada” na cabeça do comércio internacional foi, de certa forma, removida no curto prazo. O Trump viu que o mercado estava meio assustado, com curva de juros subindo nos EUA. Não dava para esperar o mercado precificar e vir com discurso populista.

IM: Como o Brasil pode se beneficiar do acordo entre EUA e China?
RD: O Brasil se beneficia não tanto pela tarifa, que deve permanecer em 10%, mas pelo preço da commodity, que está subindo. Isso eventualmente pode ajudar na redução do nosso câmbio porque, se vende mais lá para fora, entra mais dólar. A cotação deve sofrer um período de apreciação do dólar, e não de depreciação do real.

O acordo também deve melhorar as taxas de juros dos Estados Unidos na próxima reunião do Fomc [Comitê de Política Monetária do Federal Reserve]. E não vai adiantar ler a ata das reuniões da semana passada, tanto do Fomc quanto do Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central], porque foram feitas com base no cenário de tarifas vigentes.

IM: Quais são os riscos de os dois países não chegarem a um acordo?
RD
: Existe o risco de entrarem assuntos que não são a guerra tarifária na mesa de negociação, como a questão de Taiwan [província que a China considera rebelde e parte do seu território, o que não é apoiado pelos EUA].

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