Os filhos de Lula e os filhos de Trump

Ao ler a reportagem que o New York Times publicou sobre os negócios de Donald Trump Jr. e Eric Trump em três continentes, fiquei com inveja: os americanos pelo menos sabem o que os filhos do seu presidente fazem no seu cotidiano.

Nós, brasileiros, nunca soubemos exatamente o que os filhos de Lula fazem, e olhe que ele já está no terceiro mandato.

Antes que você diga que sabemos, sim, esclareço que a nossa ignorância é sobre as atividades com as quais os filhos do presidente brasileiro preenchem o seu tempo, exercem as suas habilidades, não sobre a forma como eles já conseguiram ter a vida ganha. Não há necessariamente uma relação de causa e efeito entre uma coisa e outra.

No caso dos filhos de Donald Trump, essa relação existe, e o dinamismo dos rapazes tem razão de ser, para além da inquietude empreendedora herdada da genética: eles têm apenas quatro anos de mandato paterno para passar por cima dessa coisa ultrapassada chamada conflito de interesses e faturar os bilhões de dólares que estabeleceram como meta.

De acordo com o New York Times,  “ambos os filhos de Trump estão envolvidos em uma ampla gama de empreendimentos familiares. Eric Trump, o filho do meio do presidente, dirige a Trump Organization, a principal empresa familiar, especializada em imóveis. Ele também faz parte do conselho de uma holding que supervisiona a World Liberty Financial, a empresa de criptografia da família, e recentemente uniu forças com o seu irmão mais velho, Donald Trump Jr., para iniciar uma operação de mineração de bitcoin, a American Bitcoin”.

Rico brasileiro está pagando de R$ 650 mil a R$ 950 mil por um título de clube que tem piscina com ondas, além de mensalidades da ordem de R$ 25 mil. Na verdade, ele está pagando esse preço para não ter de suportar… Não, você completou errado. Não é para não ter de suportar gente pobre. É para não ter de suportar gente de classe média, como você e eu. O apartheid brasileiro atingiu outro patamar.

Desculpe a volta. Eu queria apenas comparar o preço de clube de rico brasileiro com o preço de clube de rico que os filhos de Donald Trump vão inaugurar em Washington.

O Executive Branch, tal o nome do clube, será aberto no verão americano. O interessado terá de pagar US$ 500 mil para se tornar sócio — ou seja, R$ 2 milhões e 830 mil, ao câmbio de hoje.

O clube dos Trump não terá piscina com onda. Terá dois bares, um lounge, um restaurante e uma sala de reuniões. É um clube de lobby, e talvez eu tenha comparado alho com bugalho, mas há atenuante: a ideia dos seus fundadores é que seja também “um lugar para sair em Washington para o republicano mais jovem, mais moderno e alinhado com Trump”, como disse um deles ao New York Times.

Precisamos urgentemente de um Executive Branch no Brasil, mas sem delimitações partidárias. Nesse ponto, somos muito mais avançados do que os americanos.

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