Cemitério de Dois Irmãos se transforma em símbolo de preservação histórica

Para quem olha de fora, um cemitério pode ser apenas um espaço de saudade e tristeza. Mas para além dos ares de despedida e até melancolia, eles guardam parte da história de uma comunidade e, por isso, o conhece-los se torna uma importante ferramenta para a preservação do patrimônio histórico.

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Foto: Ingrid Arandt/Divulgação

Foi com essa proposta que no final de abril a comunidade de Dois Irmãos foi convidada a participar da Oficina de Fotografia de Arte Cemiterial. Em uma manhã ensolarada, os participantes da oficina puderam conhecer as obras de arte que compõem o Cemitério Evangélico do Travessão, além de aprender mais sobre técnicas de fotografia.

Professora de história na cidade, Tânia Luiza Becker, foi uma das pessoas que participou da atividade. Mesmo já estando atenta ao tema da preservação patrimonial, a professora destacou o fato de que a oficina permitiu a ela, e aos outros 14 participantes, entender o cemitério como um local que vai além de um espaço de despedida. “Ele não é só um local de sepultamento, ele é um local de integração entre as pessoas que visitam, é um local de arte, de história e memória.”

Motivações diversas

Tânia lembra que durante a oficina, o local que muitas vezes pode estar ligado à tristeza ligada com partidas e despedidas, se transformou naquele sábado, 26 de abril em um espaço de confraternização, alegria e descoberta. “Todos estavam bem animados, interessados, não teve quem tivesse vindo e desistido. Todos participaram de maneira bem animada. A sensação quando estávamos lá não era de que estávamos em um cemitério, era como um logradouro público onde as pessoas conversam, brincam, riem aprendem, ajudam uns aos outros e foi nesse ritmo que andou a oficina. O que menos se lembrou é que aquele era um lugar de sepultamento.”

A relação com o patrimônio histórico foi o motivo determinante para Tânia participar da atividade. “O que me motivou foi poder estar junto neste projeto ligado ao patrimônio que é uma área à qual eu gosto e poder aprender técnicas de fotografia e poder usufruir o local.”

Morador de Porto Alegre, o administrador Marcione de Souza Krai, percorreu os 60 quilômetros que separam a Capital de Dois Irmãos para se aprofundar na história da revolta dos Muckers. “Eu pesquiso o caso Mucker, tenho parentesco com os envolvidos, então às vezes se precisa a ir a cemitérios para confirmar alguma informação. Essas pesquisas que faço envolve às vezes os primeiros anos da imigração”, relata Krai.

Dentro do cemitério, o administrador se deparou com obras de arte que lhe encantaram até para além de seu objetivo inicial. “Me chamou atenção a beleza do cemitério do Travessão, ele é ímpar em beleza, as lápides são verdadeiras obras de arte. Quem não conhece tem que visitar, e o poder público é obrigado a preservar aquele local”, convida Krai.

Técnicas de fotografia

Segundo a professora de história, a leveza da oficina foi um dos pontos altos do encontro que contou com público bastante diversificado. “O que menos se lembrou é que aquele era um lugar de sepultamento. Todos participaram de maneira bem animada”, lembra Tânia, que acredita em um impacto positivo vindo da atividade. “Na medida em que as pessoas conhecem elas passam a cuidar, a valorizar aquilo e olhar com outros olhos, sentir aquilo de outra maneira.”

Só que para além da preservação histórica, os participantes foram convidados a registrar em fotos as impressões do que viram no espaço. “Pude conhecer mais sobre a técnica da fotografia, agora eu posso traduzir e passar o meu olhar dos locais”, destacou Krai.

Responsável por ministrar a aula, Cristânia Kramatschek, também pode se surpreender com o ineditismo da proposta. “Já ministrei oficinas de fotografia em outros momentos, mas de fotografia cemiterial foi a primeira vez.” Segundo a fotógrafa profissional, o maior desafio não era adaptar a técnica fotográfica, mas a sensibilidade.

“Fotografar sempre é bom, é sobre aprender a ver a luz e se conectar, não importa o tema. Mas nesse caso é necessário ajustar a sensibilidade, a conexão interna com a temática cemiterial. Tendo esse alinhamento, o olhar se abre para os detalhes, a beleza e a contemplação desses espaços”, explica ela, que embora tenha feito seu primeiro trabalho ministrando oficina sobre foto cemiterial, já tinha experiência como autora de fotos.

Resultados

Por parte dos trabalhos fotográficos, Cristânia avaliou o resultado de forma muito positiva. “Os participantes foram super curiosos e cheios de energia para experimentar. A maior parte deles se relacionam através do trabalho ou de interesses pessoais ao patrimônio histórico cultural da região. Os alunos foram engajados e produziram fotos muito boas.”

Idealizadora do projeto Cemitérios Patrimoniais, a Mestre em Arquitetura Ingrid Arandt, também avaliou de forma positiva o objetivo principal da oficina. “O impacto desse tipo de trabalho se reflete na sensibilização de diversos perfis de pessoas sobre o valor cultural dos cemitérios. Tudo se soma no objetivo de preservar a história e envolver mais pessoas no desafio da conservação e da valorização dos cemitérios patrimoniais”, resume.

Uma exposição com as fotos feitas durante a oficina, além de outras atividades de preservação em cemitérios devem ser lançados nos próximos meses. Todas as atividades buscam sensibilizar a população à importância da preservação patrimonial. “Dois Irmãos tem muitos registros culturais e históricos em seus cemitérios evangélico-luteranos, não podemos perder essa riqueza”, finaliza Ingrid.

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