Mercado Livre: Argentina vira destaque do balanço – e analistas elevam projeções

Mercado Livre

O Mercado Livre (MELI34) recebeu avaliações positivas tanto do Morgan Stanley quanto do Itaú BBA após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre deste ano (1T25) e do formulário 10-Q divulgado na quinta-feira (8), um relatório trimestral que empresas de capital aberto nos Estados Unidos devem apresentar à Securities and Exchange Commission (SEC) — o equivalente à CVM no Brasil.

A receita líquida do Mercado Livre alcançou US$ 5,94 bilhões no 1T25, um avanço de 37% em relação ao mesmo período do ano anterior e 7,4% acima da estimativa dos analistas, beneficiada por uma forte expansão do volume bruto de mercadorias (GMV), que cresceu 17,3% na comparação anual e somou US$ 13,3 bilhões, e do volume total de pagamentos (TPV), que aumentou 43,2% no mesmo intervalo, atingindo US$ 58,3 bilhões — desempenho considerado acima da média mesmo diante da queda sazonal típica do primeiro trimestre.

O Morgan Stanley elevou o preço-alvo das ADRs (American Depositary Receipts) negociadas na Nasdaq de US$ 2.560 para US$ 2.850, mantendo a recomendação de compra. O Itaú BBA foi além, revisando o preço-alvo para US$ 3.133 e reafirmando a avaliação de desempenho acima da média, com base na melhora operacional, na expansão da margem e no avanço em e-commerce e serviços financeiros.

A revisão considera a perspectiva de crescimento dos lucros operacionais, com alta projetada de 4% no lucro, antes de juros e impostos (Ebit) estimado para este ano, que deve atingir US$ 3,8 bilhões.

Ambos os bancos apontam a operação na Argentina como um dos principais vetores do resultado acima do esperado. O lucro de contribuição no país, segundo o Morgan Stanley, avançou 190% na comparação anual, atingindo US$ 648 milhões. O Itaú BBA observa que a Argentina continua surpreendendo positivamente, e essa percepção levou à elevação de 5% nas estimativas de lucro líquido para este ano e 2026, que passaram a ser de US$ 2,58 bilhões e US$ 3,51 bilhões, respectivamente. O relatório do BBA também aponta a importância da recente análise aprofundada sobre o desempenho no país, considerando fatores locais e operacionais.

O 1T25 foi alavancado por um diferencial entre a inflação local, estimada em 69% no trimestre, e a desvalorização cambial média de 21%. Esse descompasso elevou os resultados reportados em dólares. Apesar da expectativa de uma convergência maior entre inflação e câmbio ao longo do ano, o banco projeta que a margem de contribuição da Argentina seguirá elevada. A participação do país no lucro de contribuição total da companhia deve passar de 34% em 2024 para 39% em 2025.

No crédito, o Itaú BBA aponta que a inadimplência de mais de 90 dias como proporção da carteira total teve leve deterioração anual em dólares, atingindo 12,7%. Em reais, contudo, os números se mostram mais estáveis. O banco enfatiza a melhora nas taxas de rolagem de dívidas vencidas em faixas iniciais e tardias, além da redução do custo de risco nos empréstimos ao consumidor, que compensou parcialmente o aumento nas linhas de cartões e empréstimos a lojistas.

O Morgan Stanley estima que os cartões responderam por perdas de cerca de US$ 60 milhões no trimestre, enquanto os produtos não relacionados a cartões geraram lucro de US$ 470 milhões. O lucro líquido de juros após perdas (Nimal) foi de US$ 407 milhões, superando as expectativas anteriores.

No marketplace, o Itaú BBA calcula um aumento de 25 pontos-base no take-rate anual, atingindo aproximadamente 22,9%, impulsionado sobretudo pela receita publicitária, que teria crescido 50% em moeda local. O banco também chama atenção para o crescimento de 64% nas vendas de produtos próprios (1P), com avanço em categorias como alimentos, eletrônicos e eletrodomésticos. Embora a composição dos produtos tenha influenciado a margem do 1P, o BBA avalia que o sortimento mais amplo contribui para a expansão da plataforma.

Logística, equipe e vendas

Do lado logístico, os dois bancos apontam para a continuidade dos investimentos, com aumento de 73% no capex anual, alcançando US$ 256 milhões no trimestre. O Morgan Stanley estima que US$ 123 milhões foram direcionados à ampliação da infraestrutura logística. Já o Itaú BBA calcula que esse valor corresponde a 2,1% da receita do trimestre, mais que o dobro do registrado um ano antes. O banco observa que os aportes refletem a construção de novos centros de distribuição no Brasil, México e Argentina. Apesar da pressão temporária nas despesas, os analistas avaliam que os investimentos estão ligados à ampliação da presença da companhia no comércio eletrônico.

No quadro de funcionários, houve aumento de 16% na equipe de produto e desenvolvimento e de 11% na área administrativa, com expansão mais acentuada em vendas e marketing, que cresceu 26% em relação ao ano anterior.

No pré-pagamento de recebíveis, o Morgan Stanley reporta uma receita de US$ 506 milhões, alta de 39% em relação ao primeiro trimestre de 2024, mesmo com o avanço dos juros no Brasil. O Itaú BBA não se deteve nesse ponto, mas disse que o crescimento da operação financeira vem sendo acompanhado por uma melhora no perfil da base de clientes, com maior penetração em faixas de renda mais altas.

O custo líquido de envio no trimestre foi estimado em US$ 420 milhões, representando 3,4% do volume bruto de mercadorias (GMV) da rede administrada. Isso indica uma leve redução em relação aos trimestres anteriores. A penetração de fulfillment no Brasil, processo logístico e operacional que permite entregar produtos a clientes no e-commerce, aumentou em 10 pontos percentuais no ano, chegando a 60%, o que contribui para ganhos de eficiência operacional.

As vendas de produtos próprios (1P) do Mercado Livre chegaram a US$ 600 milhões no trimestre, avanço de 64% na comparação anual, superando a receita dos serviços de comércio, que subiram 27%. A margem bruta dos produtos próprios foi estimada em 21%, superior aos 18% registrados no mesmo período de 2024. O crescimento inclui categorias como alimentos, que requerem investimentos adicionais, mas não comprometeram a rentabilidade da operação.

Investimento no Brasil

O Mercado Livre pretende investir R$ 34 bilhões no Brasil neste ano, segundo o vice-presidente sênior da companhia e responsável pelas operações de marketplace no país, Fernando Yunes. O valor, que inclui parte das despesas operacionais, representa um recorde de aportes no mercado brasileiro e corresponde a um aumento de 47,8% em relação ao montante investido no ano anterior.

Em comparação com 2018, quando o investimento somou R$ 1 bilhão, o crescimento é mais de trinta vezes maior. Durante evento realizado em um centro de distribuição da empresa em São Paulo, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Yunes afirmou que a companhia projeta gerar cerca de 14 mil empregos no Brasil em 2025, totalizando mais de 50 mil funcionários até o fim do ano.

O Brasil já representa mais da metade da receita total do Mercado Livre. De acordo com comunicado da empresa, os recursos serão direcionados para ampliar a infraestrutura logística, desenvolver tecnologia para os negócios de e-commerce e serviços financeiros, e financiar ações voltadas a fidelização de usuários, marketing, entretenimento e novas contratações. Em abril, a companhia também anunciou um investimento de US$ 3,4 bilhões no México, seu segundo maior mercado.

Ações

Com a revisão nos números e as novas projeções, o Itaú BBA calcula que as ações do Mercado Livre são negociadas a cerca de 36 vezes o lucro estimado para 2026. Já o Morgan Stanley projeta múltiplo de 38 vezes.

No fechamento mais recente, os papéis eram negociados a 48 vezes o lucro projetado para 2025 e 33 vezes o de 2026. O Morgan Stanley vê uma relação de 1,8 para 1 entre o cenário mais otimista, com valor de US$ 3.600, e o mais pessimista, com US$ 1.800.

Segundo os analistas, o crescimento contínuo dos lucros e a eficiência das operações em diferentes frentes justificam a manutenção da recomendação de compra das ações do Mercado Livre.

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