Farra do INSS: mulher laranja de entidade processou o Metrópoles morta

São Paulo — Uma faxineira usada como laranja por uma das entidades que mais faturaram no esquema bilionário de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apelou contra o Metrópoles em um processo judicial no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) depois de morta.

Maria Inês Batista de Almeida (foto em destaque) foi presidente da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) entre 2023 e o início de 2024, período em que a entidade aumentou o número de filiados de 30 mil para 600 mil, faturando R$ 30 milhões por mês, em meio a uma avalanche de denúncias de fraude.

Em julho de 2024, ela processou o Metrópoles após ser citada como laranja da Ambec na reportagem publicada em dezembro de 2023, a mesma que deu origem ao inquérito da Polícia Federal (PF) que resultou na megaoperação contra a farra dos descontos.  Na ocasião, a reportagem mostrou como a entidade estava no nome dela, mas era controlada pelo empresário Maurício Camisotti, alvo da PF.

Nas reportagens seguintes da série, o Metrópoles mostrou e-mails, depoimentos e entrevistas que mostraram que Maria Inês era apenas uma das laranjas de Camisotti, dono de planos de saúde e seguradoras que, por meio de parentes e funcionários, controlava também outras duas associações da farra do INSS. Ela nunca respondeu ao Metrópoles, que foi procurado por um advogado do empresário.

A ação por danos morais foi julgada improcedente pela Justiça de São Paulo no dia 31 de janeiro de 2025. A Justiça considerou que houve “escorreita averiguação dos fatos ocorridos na sede da associação, e, neste sentido, não se verifica a intenção de ofender” Maria Inês “ou de indevidamente qualificá-la como criminosa”.

Com o avanço das investigações, a Polícia Federal confirmou que Maria Inês fazia parte de um laranjal em torno do empresário. As investigações mostraram que Maria Inês era faxineira da Prevident, uma das empresas ligadas a Camisotti e a seu sócio, que era secretário-geral da Ambec.

Na última semana, a reportagem da Record foi à casa do filho de Maria Inês e ele disse que ela havia morrido em novembro de 2024. “Como uma presidente de uma empresa tão milionária, agente ia continuar como um monte de carnê? Sabe, não faz sentido, nem lógica.A gente junta latinha. Se a gente fosse presidente de alguma coisa, não estaria juntando latinha”, afirmou seu filho, Fernando.

Procurado pelo Metrópoles, ele indagou: “Quando vocês divulgaram a foto dela duas semanas atrás se preocuparam em saber se ela estava viva ou não? Se isso iria ferir alguém ou não?”. A foto à qual o filho de Maria Inês foi divulgada pela própria Ambec em seu site. Nela, ela segurava uma nota de repúdio contra o Metrópoles.

Mesmo após sua morte, Maria Inês trocou de advogado em fevereiro de 2025, pagou as custas judiciais para apelar contra a sentença e apelou contra o Metrópoles e o repórter Luiz Vassallo. O valor de R$ 1,3 mil foi pago à Justiça em dinheiro vivo, segundo consta no comprovante.

Maria Inês era inicialmente representada na ação pelo advogado Rena Eduardo Manzoni. Ele não foi localizado pela reportagem. Após sua morte, em fevereiro, ele substabeleceu a ação para Stefany Gomes, responsável pela apelação.

Questionada pela reportagem, a advogada se recusou a responder sobre como Maria Inês lhe expressou o desejo de apelar contra o Metrópoles mesmo após sua morte. Ela disse que as questões “dizem respeito à relação entre cliente e advogada, cuja confidencialidade é protegida pelo sigilo profissional previsto no Estatuto da Advocacia”.

“Devo ressaltar ainda, que qualquer divulgação indevida de informações pessoais minhas, do escritório no qual atualmente atuo ou inverdades acerca da representação mencionada, não estão autorizadas, e caso ocorram, tomarei as medidas processuais cabíveis contra você e contra o Metrópoles”, emendou.

A defesa do Metrópoles, exercida pelas advogadas Alessandra Maestri e Taynara Deummond, pediu à Justiça para que o caso seja enviado à OAB e ao Ministério Público em razão da suspeita de crimes cometidos por advogados de Maria Inês.

“Ora, Exa., se houve a interposição de recurso e o pagamento de custas em valor considerável, é de se esperar que o representado, no caso, a Requerente, tivesse ciência de todos os atos promovidos pelos patronos em seu interesse – o que, no presente caso, encontra-se extremamente distante da realidade”, afirmaram.

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