Ao invés de comprar R$ 100 mil em cadeiras, Fundação de Saúde restaura 70 unidades por R$ 24 mil

A polêmica proposta de compra de 140 cadeiras giratórias tipo presidente pela Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo, além de ir na contramão da realidade do Município — que decretou calamidade financeira por dívidas superiores a R$ 200 milhões —, contrasta com a realidade de outros setores da administração pública, como a saúde.

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Cadeiras reformadas já estão sendo distribuídas a setores da saúde | abc+



Cadeiras reformadas já estão sendo distribuídas a setores da saúde

Foto: Arquivo pessoal

Praticamente no mesmo período em que o Legislativo encaminhava o processo licitatório para a compra de cadeiras de alto padrão, o setor de patrimônio da Fundação de Saúde Pública de Novo Hamburgo (FSNH) optou por uma alternativa mais econômica: em vez de adquirir cadeiras novas, providenciou a reforma de 70 unidades que estavam abandonadas no depósito da instituição. As cadeiras restauradas agora atendem à demanda de diferentes setores do Hospital Municipal e da UPA Centro.

O investimento da FSNH foi de R$ 24 mil para recuperar as cadeiras, que apresentavam diversos tipos de danos, como assentos quebrados, encostos rasgados e rodízios danificados. Antes de decidir pela reforma, o setor de patrimônio chegou a orçar a compra de 70 cadeiras novas, que custariam cerca de R$ 100 mil. A economia obtida com a recuperação representou um quarto do valor necessário para uma nova aquisição.

Após a reforma, as cadeiras já começaram a ser redistribuídas aos setores com maior defasagem, inclusive para o laboratório do hospital, que havia sido notificado pela Vigilância Sanitária por utilizar mobiliário fora das especificações técnicas exigidas.

“Não é possível que nessa montanha de cadeiras não tenha nada que a gente possa recuperar e colocar de volta à rede (de saúde). Enquanto essas cadeiras estão aqui, paradas, temos pacientes esperando de pé pela consulta”, declarou o gerente de patrimônio da FSNH, Renan Gobbi, em um vídeo postado nas redes sociais quando anunciou o conserto das cadeiras velhas.

Já a Câmara de Vereadores, que é um poder independente, encaminhou a compra de 140 novas cadeiras giratórias, modelo presidente, ao custo estimado de R$ 117 mil. A licitação tramitou em menos de 30 dias, com a assinatura do contrato ocorrendo no dia 30 de abril. Embora a modalidade de licitação não obrigue a compra imediata da totalidade das unidades, o número estipulado indica a intenção do Legislativo de adquirir essa quantidade ao longo dos próximos 12 meses.

Contraponto da Câmara de Vereadores

A Câmara justificou a abertura da licitação alegando o desgaste extremo do mobiliário atual, em uso desde 1983. Segundo a Mesa Diretora, apesar das manutenções realizadas ao longo dos anos, muitas cadeiras tornaram-se irrecuperáveis, comprometendo a ergonomia e a segurança dos cerca de 150 servidores da Casa.

A nota ainda destaca que a compra está prevista no Plano Plurianual 2022-2025 e será executada por etapas, conforme a necessidade real de cada setor, com critérios técnicos e financeiros. O processo licitatório estabelece o número de 140 cadeiras como teto, com o objetivo de garantir um menor preço unitário. Até o momento, apenas uma amostra do mobiliário foi entregue pela empresa vencedora.

As cadeiras serão distribuídas de forma equilibrada entre gabinetes, setores administrativos, plenário, comissões e Escola do Legislativo. Não haverá substituição integral do mobiliário nem ampliação estrutural, exceto na sala de reuniões da Presidência, que enfrenta falta de cadeiras. Os móveis substituídos serão realocados internamente, caso ainda utilizáveis, ou devolvidos à Prefeitura como bens inservíveis.

Por fim, a Câmara ressaltou que, apesar da situação delicada enfrentada pelo Município, trata-se de um poder com orçamento próprio. “A compra está sendo conduzida com cautela, legalidade e transparência. Trata-se, portanto, de uma medida de necessidade operacional, e não de luxo ou ampliação desnecessária”, afirma a nota.

A Mesa Diretora conclui destacando que compreende e compartilha das preocupações da sociedade quanto ao momento financeiro do Município. “Tanto é que, recentemente, devolvemos R$ 1 milhão ao Executivo, reforçando nosso compromisso com o uso racional dos recursos públicos”, finaliza o comunicado. Na semana passada, os vereadores também aprovaram a mudança do horário das sessões, da noite para a tarde, com o objetivo de reduzir despesas da Casa.

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