Do curso técnico ao espaço, Marcos Pontes cobra prioridade para a educação profissional

Educação profissional do SENAI tem ênfase no desenvolvimento de atividades práticas que reproduzem situações reais da indústria – Foto: Filipe Scotti

Na semana em que a Frente Parlamentar em Favor da Educação Profissional e Tecnológica se reuniu no Senado para ouvir especialistas sobre o tema, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) relembra sua própria trajetória, de menino da periferia até o espaço, e diz que falta dar maior atenção ao ensino técnico no Brasil.

Marcos Pontes foi o primeiro brasileiro a ir ao espaço, após ser selecionado para uma missão da Nasa, agência do governo norte-americano responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial; e comandou a pasta da Ciência e Tecnologia durante o governo de Jair Bolsonaro.

E por isso o senador sabe bem o que fala quando cobra mais atenção e investimentos para a educação técnica, já que ele mesmo encontrou no curso de eletricista do Senai uma maneira de terminar o ensino médio, quando ainda morava em Bauru, no interior de São Paulo. Depois veio a profissionalização em técnico em eletrônica, no Liceu Noroeste.

“E olha aonde cheguei”, diz o senador, orgulhoso. Para ele, é preciso dar importância a esta área, e mostrar que a educação profissional é uma excelente solução para que muitos brasileiros, principalmente jovens, possam ter acesso ao mercado de trabalho.

25/01/2019. Brasília-DF. Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Astronauta Marcos Pontes, durante entrevista coletiva de imprensa.Foto: Bruno Peres/MCTIC. – Foto: Bruno Peres/MCTIC/ND

De acordo com dados do Senai – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, empresas do mundo todo se ressentem hoje da falta de qualificação profissional em diveras áreas, o que poderia ser melhorado com o ensino técnico e profissionalizante.

75% das empresas, no mundo inteiro, relatam dificuldades para encontrar pessoas com o perfil adequado.No Brasil, esse número chega a 80%, de acordo com o Senai. Especialistas na área apontam que uma das causas para a falta de qualificação é velocidade com que as transformações tecnológicas chegam ao mercado.

Essa rapidez faz com que o perfil de competências do trabalhador seja mais robusto, e para isso é fundamental a existência de uma educação melhor e qualificação adequada. Outro fator que contribuiu para essa dificuldade é o fato idade. Enquanto o mundo envelhece, os jovens são mal qualificados ou não estão preparados para o mercado.

educação profissional e tecnológica no Brasil carece de mais investimentos

Os ambientes de ensino do Senac são modernos e bem equipados, propiciando uma experiência educacional imersiva – Foto: Senac Santa Catarina/Divulgação

Falta dinheiro e incentivo para a educação profissional no Brasil

Na avaliação do senador Marcos Pontes, a política de governo de Luiz Inácio Lula da Silva na área da educação deixa a desejar. O presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Educação Profissional e Tecnológica diz que hoje, vê com preocupação os planos para o setor.

“Como alguém que começou a carreira justamente nesse caminho, vejo com grande preocupação a política atual do governo Lula para o setor de educação, especialmente a educação profissional e tecnológica. Infelizmente, a educação não é prioridade neste governo”, alerta.

O senador Marcos Pontes relatou sua experiência e falou das preocupações com a falta de prioridade para a educação numa conversa exclusiva com o portal ND mais.

Confira abaixo a entrevista com Marcos Pontes:

Qual sua avaliação sobre a política educacional, principalmente na área técnica, do governo Lula?

Marcos Pontes: No pacote de corte de gastos divulgado no final do ano passado, o governo federal retirou R$ 42 bilhões, nos próximos 5 anos, do orçamento do MEC. Esses cortes afetam diretamente a qualidade do ensino, a infraestrutura das instituições e o incentivo à pesquisa e inovação. E os dados não mentem. 32,5% dos municípios do país estão na faixa de baixo desenvolvimento em educação.

Falta pessoal qualificado?

Marcos Pontes: 57% das turmas do ensino fundamental não têm professores com formação adequada. (Esses dados são da Firjan). Outra pesquisa (Inaf) mostra que 29% da população não sabe identificar palavras isoladas ou ler frases muito simples, o que chamamos de analfabetismo funcional. São brasileiros na faixa de 15 a 64 anos que são incapazes de entender e utilizar a leitura, a escrita e a matemática nas tarefas básicas do dia a dia.

Falta investimento na área?

Marcos Pontes: Além disso, você não vê investimento ou incentivo deste governo na área da educação profissional e tecnológica, uma área que é fundamental para o desenvolvimento social e econômico do Brasil. A educação técnica profissional é extremamente importante para preparar os jovens e adultos para o mercado de trabalho, principalmente nesse momento de grandes mudanças tecnológicas em um mercado em crescente e constante evolução. É preciso prepará-los para as demandas dos setores estratégicos que garantem a competitividade do nosso país. Não vejo o governo nem preocupado nem preparado para isso. O atual governo parece não compreender essa importância, deixando de lado investimentos que poderiam transformar a vida de milhões de brasileiros.

Qual a importância hoje do ensino técnico?

Marcos Pontes: A formação técnica nas universidades é uma excelente alternativa para os estudantes que buscam adquirir, aprimorar e aplicar conhecimentos em áreas específicas. Ela permite que os jovens se qualifiquem de maneira prática e direcionada, aumentando suas chances de inserção no mercado de trabalho e garantindo uma base sólida para suas carreiras.

Falta estímulo ao ensino técnico no Brasil?

Marcos Pontes: Para um governo que diz defender , falta estímulo para que as universidades e institutos federais possam expandir seus programas de educação técnica e tecnológica. Sem recursos suficientes, essas instituições enfrentam dificuldades para manter cursos, investir em equipamentos modernos e atrair professores qualificados. Como alguém que começou a vida profissional na área técnica, sei da importância desse tipo de ensino para ampliar oportunidades e transformar vidas. É por isso que, como Senador e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Educação Profissional e Tecnológica, sigo trabalhando para reverter essa situação, defendendo mais investimentos e políticas públicas para que essa modalidade de ensino seja valorizada e fortalecida em nosso país.

Matrículas subiram, mas desafios persistem

Em 2025, a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é alcançar 4,8 milhões de matrículas na educação profissional técnica de nível médio. O Censo Escolar de 2024 revelou um aumento de 15,8% na proporção de estudantes do ensino médio matriculados em programas vocacionais da educação profissional e tecnológica (EPT), passando de 15% para 17,2%.

A meta do PNE é triplicar as matrículas na educação profissionalizante de nível médio, chegando a 4,8 milhões de alunos. O número de matrículas na educação profissionalizante cresceu em 2024, com um aumento de 2,4 vezes em relação ao ano anterior.

A rede pública concentra 1,57 milhão de matrículas na educação profissionalizante. Apesar disso, a educação profissional ainda enfrenta desafios como a carência de professores e a necessidade de adaptar a formação profissional às demandas do mercado de trabalho.

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