Gol levanta bilhões para sair do “Chapter 11”, mas BBI vê pouco voo para acionista

Aeronave da Gol no aeroporto de Brasília

A confirmação da Gol Linhas Áreas (GOLL4) sobre o financiamento de US$ 1,9 bilhão (ou cerca de R$ 10,8 bilhões) nesta sexta-feira (16) representa um avanço importante na tentativa da companhia de concluir seu processo de recuperação judicial nos Estados Unidos (ou Chapter 11), segundo o Bradesco BBI.

A equipe de analistas do banco considera positivo o fato de a empresa ter assegurado os recursos necessários para quitar o financiamento Debtor-in-Possession (DIP), etapa-chave para sua saída do Chapter 11, prevista para ocorrer até junho deste ano. A notícia também anima o mercado. Às 11h40 (horário de Brasília), poucas horas após o anúncio, as ações da companhia aérea subiam 3,16%, cotadas a R$ 0,98.

Apesar desse passo, o banco manteve sua recomendação underperform (desempenho inferior) para os papéis da empresa, com preço-alvo de R$ 0,50, valor abaixo do negociado no pregão de hoje. O motivo, segundo o BBI, é a expectativa de diluição acentuada do capital acionário, já que o plano de reestruturação prevê a conversão de até US$ 2,7 bilhões em dívidas para ações. Na visão do banco, esse ponto compromete o retorno potencial para os atuais acionistas, mesmo com uma operação que avança dentro do cronograma.

Para o Bradesco BBI, embora a engenharia financeira mostre uma execução bem-sucedida da gestão, o ganho potencial para o investidor da base atual é limitado. A prioridade da Gol é reorganizar sua estrutura de capital e manter a operação em funcionamento, o que passa, inevitavelmente, por uma redistribuição dos papéis da companhia no mercado. A recomendação negativa, segundo o banco, está amparada justamente nessa perspectiva de diluição agressiva, que deve ocorrer com a capitalização das dívidas pendentes.

Arrecadação

Os analistas apontam que o plano estratégico de cinco anos da Gol prevê uma melhora modesta no desempenho operacional, sem alterações relevantes nas margens. Ainda assim, o rearranjo da estrutura de capital, necessário para viabilizar a continuidade da companhia, tende a reduzir consideravelmente a participação dos atuais investidores no capital social.

Do valor arrecadado para quitar o financiamento, US$ 1,25 bilhão virá dos fundos Castlelake e Elliot Investment Management, que já haviam sinalizado apoio financeiro à companhia. Um grupo ad hoc de detentores de títulos da Gol com vencimento em 2026, inicialmente disposto a aportar US$ 125 milhões, teve sua participação reduzida para US$ 50 milhões após novos investidores se comprometerem com uma parcela maior do montante.

Outros US$ 30 milhões serão captados por meio de uma oferta de direitos, também com vencimento em 2026, e os US$ 570 milhões restantes virão de uma base ampliada de investidores institucionais.

A procura superou as expectativas. A Gol precisava levantar cerca de R$ 495,5 milhões (em torno de US$ 95 milhões) para fechar a conta, mas obteve R$ 796,9 milhões em compromissos adicionais. Com isso, a empresa conseguiu negociar condições mais vantajosas: a taxa de juros do financiamento foi reduzida de 14,625% ao ano para 14,375%, e a chamada “work fee” paga ao grupo ad hoc caiu de US$ 10 milhões para US$ 4 milhões.

A notícia de que a Gol conseguiu US$ 1,9 bilhão em financiamento para sair de recuperação judicial surge um dia após a companhia aérea divulgar ao mercado que teve lucro líquido de R$ 1,376 bilhão no primeiro trimestre deste ano (1T25), montante 63,7% inferior ao mesmo período de 2024.

O Ebitda, que representa o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, ficou em R$ 1,236 bilhão, leve queda de 0,2% na comparação anual, enquanto a margem Ebitda caiu 4,3 pontos percentuais, para 22%. Apesar disso, a receita líquida da companhia cresceu 19,4%, chegando a R$ 5,6 bilhões, impulsionada principalmente pelo aumento de 18% na receita de transporte de passageiros.

No fechamento do trimestre, a Gol manteve R$ 1,6 bilhão em caixa e equivalentes, além de R$ 50 milhões em aplicações financeiras e R$ 3 bilhões em contas a receber, totalizando R$ 4,6 bilhões, equivalente a 23,4% da receita dos últimos 12 meses.

A dívida bruta consolidada subiu para R$ 33,2 bilhões, alta de 40% em relação ao 1T24, influenciada pela desvalorização cambial e pelo saldo remanescente do DIP Loan. A relação dívida líquida ajustada sobre o Ebitda recorrente dos últimos doze meses ficou em 5,8 vezes. Os resultados operacionais ficaram abaixo das estimativas do mercado e do consenso da Bloomberg.

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