O Brasil no exterior (por André Gustavo Stumpf)

O exercício da política no Brasil possui características muito especiais. Nos últimos tempos, deputados, senadores, governadores e ministros de estado têm procurado desenvolver debates e eventuais conchavos no exterior. Já foram realizados vários congressos em Lisboa, inúmeros em Londres, mas é em Nova Iorque que ocorre o maior número de encontros políticos brasileiros. A todo momento figuras de destaque no Brasil se reúnem na cidade norte-americana para trocar ideias diante de repórteres convidados para ouvir ideias e presenciais negociações.

Há uma explicação para a preferência pela cidade norte-americana. Ali estão sediados os grandes bancos capazes de financiar os megalômanos projetos idealizados por alguns políticos. São eles, também, que se encarregam de escorregar um agrado para este ou aquele nome em posição de solucionar problemas no país. E também é a sede das empresas de análise de risco, que indicam aos financiadores os países em que se pode confiar. Ou seja, aquele em que o dinheiro vai e vem com relativa facilidade. Estas agências costumam errar muito, sobretudo quando está em foco alguma empresa norte-americana, mas isso é outra história.

O avassalador avanço do PSD sobre os destroços do PSDB e outras siglas menores está sendo percebido pelos estudiosos de Brasil no país do norte. Lá estão sendo fechados os primeiros acordos para a eleição presidencial de 2026 que terá um forte candidato da direita não truculenta. Há vários governadores capazes de expor obras significativas durante seus mandatos em alguns estados brasileiros. Todos eles vão disputar a vaga até o momento em que terão que fazer acordo. Como acontece nestes momentos cruciais para a política nacional, os especialistas norte-americanos terão o privilégio de conhecer o resultado antes dos brasileiros. Nenhuma novidade, sempre foi assim.

Outro polo da política brasileira foi estabelecido em Pequim. Lá, por estranho que pareça, foi realizado o encontro dos países membros da CELAC, que vem a ser a Comunidade Econômica de países latino-americanos e do Caribe. O encontro dos dirigentes, que vivem sob a guante dos Estados Unidos (Washington considera a América Central seu quintal) foi realizada na China, com a presença do líder máximo chinês, Xi Jinping. Este é exemplo claríssimo de que o mundo das relações internacionais mudou muito.

Mas, ao lado desta reunião, o presidente Lula assinou acordos em diversas áreas com o supremo governante do país asiático. A China que já era o principal parceiro econômico do Brasil, agora se transforma numa superpotência que desembarca no maior país da América do Sul. No terreno das empresas privadas, apareceu uma mala cheia de promessas. Foram assinados trinta e seis atos de cooperação intergovernamental. Os anúncios de negócios entre empresas alcançaram a cifra de R$ 27 bilhões. Entre eles, a chegada ao Brasil de uma nova marca de serviços de entrega (delivery), a Keeta, investimentos em uma fábrica de trens em São Paulo, uma nova montadora de veículos, a GAC Motor, em Goiás, e R$ 5 bilhões para produção de SAF (combustível sustentável de aviação) no Rio. Sistemas de armazenamento de energia, uma plataforma de vacinas, produção de insulina e equipamentos médicos de imagem. Ainda surgiu a história de que a primeira dama Janja teria se dirigido ao presidente chinês para pedir a regulação do Tik Tok. Tremenda gafe diplomática.

Mas o presidente passou por cima o episódio e disse que “nossa relação não é uma coisa trivial, é muito estratégica. A gente quer tudo que eles possam compartilhar conosco”, definiu o petista. “Não temos medo de retaliação. Espero que o Trump compreenda bastante bem a relação de 200 anos entre Brasil e EUA. Quando quero melhorar minha relação com a China, não quero piorar com ninguém.” Nem tudo saiu conforme esperado. O projeto da ferrovia bioceânica, que pretende ligar a ferrovia norte-sul ao porto de Chancay, no Peru, continua a ser apenas uma ideia. É possível que novos núncios de parceria Brasil-China sejam anunciados em julho, quando será realizada a Cúpula do Brics, no Rio de Janeiro. Alguma decisão de interesse dos brasileiros poderá, afinal, ser anunciada no Brasil.

Além do passeio dos presidenciáveis por várias cidades no exterior, dentro do país o noticiário frequenta as páginas policiais. Ninguém consegue ocultar o tremendo escândalo da corrupção abissal ocorrida no INSS. O esquema criminoso começou por volta de 2019, aumentou e se aperfeiçoou ano a ano. Chegou aos bilhões no benefício para sindicatos de diversos calibres. O ex-presidente da instituição chegou a dizer que não havia qualquer indício de fraude. Ridículo, trágico e criminoso. Este será, sem dúvida, um bom assunto na campanha eleitoral de 2026.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])

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