Água contaminada durante cheia provoca mais de 400 casos de doenças gastrointestinais em 15 dias em município do AM


Na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, Benjamin Constant sofre com avanço das águas e já tem quase 21 mil pessoas afetadas pelo fenômeno. Cheia do Rio Solimões em Benjamin Constant em 2025
Alexandro Pereira/Rede Amazônica
Em meio à cheia dos rios, moradores de Benjamin Constant, no interior do Amazonas, enfrentam dificuldades também na saúde. O contato com água contaminada, devido ao alto volume de água, já provocou mais de 400 casos de doenças gastrointestinais nos primeiros 15 dias de maio — quase o mesmo número registrado em todo o mês de abril, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
Localizado na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, o município de Benjamin Constant está entre os mais atingidos pela cheia dos rios. Já são quase 21 mil pessoas afetadas diretamente nas zonas urbana e rural, o que corresponde a aproximadamente 45% da população local.
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Embora o nível exato das águas não tenha sido divulgado, na atualização mais recente do Painel de Monitoramento Hidrometeorológico da Defesa Civil do Estado, a cheia em Benjamin Constant já colocou o município entre os 20 municípios em situação de emergência, além deo incluir na lista dos oito municípios que entraram em emergência na área da saúde.
Apenas nas duas primeiras semanas de maio, o município registrou 419 casos de doenças gastrointestinais, de acordo com a Secretaria de Saúde — número quase igual ao de todo o mês de abril, que teve 420 notificações.
Em entrevista à Rede Amazônica, a autônoma Sofia Alves Ruiz contou que levou a filha, Luna Monalisa, de seis anos, ao hospital com sintomas de contaminação. “Ela disse que estava doendo muito a barriga dela”, contou.
Quem também procurou atendimento médico foi a professora Maria da Conceição da Silva Lomas, com o filho Christopher Lomas dos Santos, de quatro anos.
“Ele apresentou primeiramente vômito, e logo em seguida diarreia e dor abdominal. Não conseguia mais aceitar nenhum tipo de alimentação ou água. Nada”, relatou.
A pesquisadora em Ciências Ambientais e Agrárias da Universidade Federal do Amazonas, Geise Canalez, explicou que estudos realizados no município comprovam a contaminação das águas em vários pontos do rio Javari, que banha a cidade, gerando consequências para a população que tem maior contato com a água durante a cheia.
“Altos índices de coliformes fecais são o primeiro alerta, pois atingem diretamente a saúde humana, especialmente de crianças, idosos e pessoas vulneráveis. Esses índices comprometem a potabilidade da água, pois o contato, como no banho, pode causar contaminação, não apenas a ingestão ou o consumo alimentar”, disse Geise Canalez.
Para combater as doenças, agentes de saúde do município percorrem as comunidades situadas entre os rios e a floresta, distribuindo medicamentos e hipoclorito de sódio. Além disso, orientam a população sobre o uso adequado das gotinhas para purificar a água.
“Evitar muitas doenças, matar o micróbio na água, para não dar diarreia, não adoecer, não ter febre e garantir uma água tratada”, explicou.
💧 CHEIA: Sobe para 20 o número de municípios em situação de emergência no AM pela cheia dos rios; mais de 209 mil pessoas são afetadas
Situação de emergência
A cheia que atinge o Amazonas já atinge mais de 209 mil pessoas, de acordo com o Painel de Monitoramento Hidrometeorológico da Defesa Civil do Estado, divulgado no sábado (17).
A previsão é de que o cenário se prolongue. De acordo com o Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, as nove calhas dos rios amazonenses devem continuar em processo de cheia até, pelo menos, o mês de junho.
Confira a lista dos 20 municípios que estão em situação de emergência e as medições registradas no sábado (17):
Humaitá – Rio Madeira – 22,22 metros;
Apuí – Rio Madeira – não divulgado;
Manicoré – Rio Madeira – 27,46 metros;
Boca do Acre – Rio Purus – 8,73 metros;
Guajará – Rio Juruá – 7,98 metros;
Ipixuna – Rio Juruá – 10,38 metros;
Novo Aripuanã – Rio Madeira – não divulgado;
Benjamin Constant – Rio Solimões – não divulgado;
Borba – Rio Madeira – 21,32 metros;
Tonantins – Rio Amazonas – 16,08 metros;
Itamarati – Rio Juruá – 19,33 metros;
Eirunepé – Rio Juruá – 14,01 metros;
Atalaia do Norte – Rio Solimões – 12,49 metros;
Careiro – Rio Solimões – 19,32 metros;
Santo Antônio do Içá – Rio Solimões – 13,72 metros;
Amaturá – Rio Solimões – não divulgado;
Juruá – Rio Solimões – 23,40 metros;
Japurá; – Rio Amazonas – 13,15 metros
São Paulo de Olivença – Rio Solimões – 14,28 metros;
Jutaí – Rio Jutaí – 25,32 metros.
Além dos municípios em emergência:
Três estão em estado de atenção;
37 em alerta;
e dois em normalidade.
20 cidades do Amazonas estão em emergência por causa da cheia de rios
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