Preços do frango e dos ovos: gripe aviária testará elasticidade do mercado

Três pedaços de carne de frango sobre uma bandeja branca carnes halal
Foto: Cidasc

O foco de gripe aviária registrado recentemente no Rio Grande do Sul acendeu o alerta em um setor estratégico da economia brasileira: a avicultura. Embora o caso tenha sido detectado em uma criação comercial — o primeiro do tipo no país —, as autoridades sanitárias atuaram com rapidez e transparência, reforçando o padrão elevado de controle sanitário que há décadas sustenta a reputação do Brasil no mercado internacional.

Ainda assim, a simples confirmação do foco foi suficiente para que importantes mercados internacionais aplicassem bloqueios temporários às importações de todo o país. Até agora, já anunciaram restrições China, União Europeia, Argentina, Uruguai, Chile e México — países que juntos representam uma parcela expressiva das exportações brasileiras de carne de frango e derivados.

Do ponto de vista econômico, o momento exige uma análise criteriosa sob a ótica da elasticidade e inelasticidade dos preços, conceitos fundamentais para entender os próximos movimentos do mercado de frango e ovos.

A carne de frango é hoje a principal alternativa proteica do brasileiro, especialmente em um cenário de renda baixa. Isso a torna um bem de demanda relativamente inelástica: mesmo diante de variações de preço, o consumo se mantém, justamente por ser um substituto mais acessível à carne bovina.

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Contudo, o bloqueio de importações por parte desses países pode redirecionar parte da produção inicialmente destinada ao exterior para o mercado interno. Isso tende a aumentar a oferta doméstica, o que em teoria poderia exercer pressão baixista nos preços.

No entanto, essa pressão tem limites: do produtor ao consumidor, os custos da cadeia são elevados, e o setor já opera com margens apertadas. Além disso, a avicultura — por ser um setor de ciclo curto — consegue reagir rapidamente a oscilações de mercado, ajustando sua produção conforme a demanda.

Outro ponto de sustentação é o comportamento do consumidor. O ovo, por exemplo, é um dos alimentos mais inelásticos da cesta básica brasileira. Além de acessível, é um insumo versátil e essencial, o que sustenta sua demanda mesmo em situações adversas.

Já no setor de proteína suína, mais da metade da produção é consumida no próprio mercado interno, o que dá à cadeia uma proteção adicional diante de choques externos. Esse consumo consistente evidencia a força do mercado doméstico como pilar de sustentação da agropecuária brasileira.

Conclusões sobre a crise do frango

Diante desse cenário, a avicultura brasileira segue firme — não por sorte, mas por competência. O país é um dos maiores produtores de carne de frango do mundo e exporta para mais de 150 países, graças ao seu rigor sanitário e à confiabilidade internacional construída ao longo de décadas.

O Brasil combina controle sanitário, inteligência de mercado e adaptabilidade produtiva, algo raro entre os grandes players globais. Mesmo com os bloqueios temporários, é provável que o foco seja contido rapidamente, e a credibilidade sanitária do Brasil preservada.

Se o mundo observar com cautela os riscos sanitários, o Brasil mostra que tem controle, eficiência e um mercado interno resiliente. Num ambiente global de incertezas, a nossa avicultura não é o elo fraco — é o ponto de equilíbrio entre segurança alimentar e força econômica.

E que fique claro: quando se trata de proteína acessível, segura e estratégica, o Brasil não balança. Ele lidera. A agropecuária brasileira é a força silenciosa de uma nova revolução — tecnológica, sustentável e imbatível, mesmo em tempos de crise.

Miguel Daoud

Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural

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