Brasil: mercado se destaca no ano com impulso externo, apesar de fragilidade interna

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Com momentum (conceito da análise técnica que indica a força que impulsiona a oscilação dos preços das ações) global jogando a favor, Brasil e demais países da América Latina, lideraram os mercados globais em 2025. A região registrou o melhor desempenho no ano, com alta de 23%, impulsionada pela combinação de valorização das bolsas e apreciação cambial.

Segundo o JPMorgan, o Brasil tem se destacado nos mercados globais, embora não necessariamente por méritos próprios. Os desafios que vêm pressionando os ativos locais, como a frágil situação fiscal e a elevação das taxas de juros, continuam presentes.

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No entanto, o cenário internacional tornou-se mais favorável ao país. Entre os fatores que explicam essa mudança estão o fato de a economia brasileira ser pouco afetada por tarifas globais, os ativos ainda estarem baratos, o posicionamento técnico seguir leve, os juros reais elevados sustentarem o câmbio e os resultados corporativos apresentarem forte desempenho — com crescimento de 20% no lucro líquido em reais, na comparação anual.

Ainda assim, conforme analistas, há dois catalisadores domésticos que devem ganhar protagonismo nos próximos meses: o início do ciclo de cortes de juros e a aproximação da corrida eleitoral de 2026. “Até lá, o Brasil deve seguir como destino de fluxos internacionais — a menos, é claro, que Brasília volte a gerar instabilidade, como já ocorreu em alguns momentos de 2024”, comentam.

Corte de juros no Brasil

O JPMorgan prevê que o Banco Central eleve a Selic mais 25 pontos-base, para 15%, e só comece o ciclo de cortes em dezembro deste ano, com redução até 10,75%. Esse patamar é bem abaixo do consenso (12,5% de taxa terminal), mas acima da projeção anterior, que era de 9,75%.

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Segundo o relatório, a revisão se deve à expectativa de crescimento do PIB em 2025 de 2,3%, acima dos 1,9% estimados antes da trégua comercial entre EUA e China.

“De um jeito ou de outro, a queda nos juros vai beneficiar a Bolsa — e acreditamos que isso ainda não está precificado”, comenta o banco.

De acordo com JPMorgan, os papéis mais sensíveis aos juros só reagem de fato quando o corte começa. “É verdade que small caps e cíclicas domésticas já tiveram uma boa performance, mas isso se deve muito mais aos valuations extremamente baixos e à normalização da curva de juros após níveis bastante estressados.”

Eleições de 2026

Para o JPMorgan, as eleições de 2026 são o tema mais importante para os próximos 18 meses — embora tenha saído um pouco do foco com a cobertura em torno das tarifas.

“Ainda é cedo para saber como a disputa eleitoral vai se desenhar, mas é essencial acompanhar os índices de popularidade do presidente Lula”, comenta o banco.

No campo de centro-direita, a principal dúvida é se o ex-presidente Bolsonaro vai tentar disputar (mesmo inelegível) e, se não for ele, quem receberá sua bênção como sucessor. Os mercados parecem apostar no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, mas a chance de algum membro da família Bolsonaro concorrer no lugar do ex-presidente não está totalmente descartada.

América Latina

O JPMorgan comenta que a valorização dos mercados da região é justificada, mas o movimento foi rápido e intenso demais, especialmente considerando a recente trégua comercial entre China e EUA, que deve provocar uma mudança na liderança dos mercados.

A Ásia, por exemplo, está bem atrás de América Latina e CEEMEA (Europa Central e Oriental, Oriente Médio e África) e tende a assumir a dianteira a partir de agora.

“Achamos que é hora de uma consolidação nos mercados da América Latina, mas os índices acionários ainda podem oscilar entre os alvos de cenário-base e otimista até o final do ano”, pontua.

Os países da América Latina devem enfrentar uma desaceleração do crescimento econômico nos próximos trimestres, o que pode pressionar os lucros corporativos.

Além disso, o JPMorgan espera que o Federal Reserve mantenha os juros estáveis até dezembro, o que pode desestimular os bancos centrais da região a acelerar o afrouxamento monetário.

A recente trégua comercial entre China e Estados Unidos também deve provocar uma rotação setorial nos mercados, com maior apetite por setores globais, como tecnologia, em detrimento de nomes mais domésticos — o que representa uma desvantagem para a América Latina, cuja exposição ao setor de tecnologia é limitada, salvo exceções como Nubank e Mercado Livre.

Embora um dólar mais fraco normalmente favoreça os preços das commodities, isso não ocorreu até agora. E, segundo o banco, mesmo um eventual crescimento mais robusto da China — que tende a ser mais voltado para o mercado interno — não deve ser um gatilho significativo para os mercados da região.

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