Direita contra a Direita (por Leonardo Barreto)

O desfile de governadores presidenciáveis – Tarcísio, Eduardo Leite, Ratinho Júnior, Romeu Zema e Ronaldo Caiado – nos EUA rascunha a reestruturação da direita pós Bolsonaro.

A movimentação casa com a proposta feita pelo ex-presidente Michel Temer de que o grupo se reúna para estruturar um projeto nacional que, por sua vez, possa servir como plataforma de lançamento de uma coalizão para 2026.

Juntos, esses governadores comandam estados que concentram 46% do eleitorado brasileiro, população na qual possuem o índice médio de aprovação de 63%. Com exceção de Tarcísio, todos estão no segundo mandato e não podem concorrer à reeleição. Considerando os partidos de cada um, a federação União/PP, o PSD, Republicanos e o Novo, essa força política agrega 158 deputados federais, 31 senadores, 13 governadores e 2.102 prefeitos.

Além dos problemas naturais de acomodação de interesses, há, no entanto, o fator Jair Bolsonaro.

O senador Flávio Bolsonaro, ao se referir à proposta de Michel Temer, sugeriu que o ex-presidente e, por associação, os cinco governadores, possuem liderança política, mas não exercem liderança eleitoral. Em outras palavras, não haveria vida para a direita fora de Bolsonaro.

A disputa entre o bolsonarismo e a centro-direita está sendo ensaiada desde as eleições municipais, que opôs as duas forças em diversos centros importantes, como Goiânia, Belo Horizonte e Curitiba.

A construção de uma coalizão da direita, que pode até incluir Bolsonaro, mas sem submeter-se à sua liderança, é vista pelo núcleo familiar do ex-presidente como uma ameaça à sua estratégia de defesa no processo que corre na Justiça.

Emulando o que Donald Trump fez nos Estados Unidos, o clã acredita que enquanto for possível manter a expectativa de Bolsonaro candidato em 2026, melhor.

A ideia é de que a pressão popular pode constranger o STF, que o julgará por eventual envolvimento nos eventos de 08/01 e, mais importante, servirá de combustível para manter uma trajetória de conflitos institucionais entre Judiciário e Legislativo que ajuda a deslegitimar o processo.

Bolsonaro deseja uma unidade em torno de si e dos seus movimentos.

Para a centro-direita, no entanto, mesmo reconhecendo o poder eleitoral de Bolsonaro, há um desconforto em se submeter ao timing do ex-presidente.

O tempo, nesse caso, é favorável à coalizão de governadores (se ela realmente se formar). Considerando Bolsonaro um inimigo público, o STF deve tornar a usa inelegibilidade uma condição dada e irreversível.

A centro-direita acredita que a condenação obrigará Bolsonaro a decidir pragmaticamente pelo apoio a algum dos governadores. O clima de estranhamento, portanto, teria data para acabar. No papel, faz sentido. Mas, se tratando do ex-presidente, é preciso esperar para ver.


Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília

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