Rebaixamento dos EUA pela Moody’s é alerta político contra pacote fiscal, diz BofA

A decisão da Moody’s de rebaixar nota de crédito dos Estados Unidos de Aaa para Aa1 não trouxe surpresas ao mercado, mas carrega um peso político claro: um alerta contra o novo projeto de lei tributária em discussão no Congresso, afirmam analistas do Bank Of America (BofA) em relatório enviado ao mercado nesta segunda-feira (19). O momento da revisão da nota, na avaliação do banco, está longe de ser coincidência.

A Moody’s foi a última das três grandes agências a retirar a classificação máxima dos EUA — a S&P já havia feito isso em 2011 e a Fitch, em 2023. Mesmo assim, a resposta do mercado foi moderada. O rendimento dos Treasuries de 30 anos subiu cerca de 12 pontos-base após o anúncio, um movimento que não chegou a configurar uma reação alarmante.

Segundo os estrategistas do BofA, os rebaixamentos de rating geralmente não trazem fatos novos aos investidores. São movimentos que confirmam preocupações já bem conhecidas, como o avanço da dívida pública e a dificuldade em equilibrar as contas. A dívida americana está em torno de US$ 36 trilhões e os gastos com juros já superam o orçamento da defesa.

O que chamou a atenção do BofA foi o timing do rebaixamento. Em meio a discussões sobre cortes de impostos e possível aumento de tarifas, a Moody’s parece ter usado sua decisão como uma mensagem: o pacote tributário proposto é irresponsável do ponto de vista fiscal. Para os analistas do banco, essa crítica faz sentido. A arrecadação gerada por tarifas não seria suficiente para compensar o custo das reduções de impostos planejadas, o que agravaria ainda mais o déficit.

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O relatório do banco questiona se a mudança de nota pode funcionar como um empurrão para que o Congresso aprove uma legislação mais prudente. Isso significaria cortes de impostos mais modestos ou espaçados no tempo, possivelmente acompanhados de reduções nos gastos públicos. Ainda que esse caminho implique em menor crescimento econômico no curto prazo, ele poderia contribuir para estabilizar as contas federais.

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No entanto, os analistas não veem essa alternativa como o cenário mais provável. A expectativa é que o Congresso avance com uma proposta expansionista, o que manterá a pressão sobre os juros de longo prazo. O risco, segundo o BofA, é que Washington continue adiando decisões difíceis até que restem poucas opções. E nesse ponto, o aumento de tarifas pode acabar se tornando a única ferramenta restante para reduzir o déficit, uma escolha com potenciais custos econômicos mais altos do que um ajuste fiscal bem calibrado.

Efeito

Nos mercados, o efeito imediato do rebaixamento foi limitado. Os títulos de 30 anos dos EUA atingiram rendimento de 5,02%, o maior desde 2023, enquanto os de 10 anos chegaram a 4,55%. Analistas afirmam que não devem ocorrer vendas forçadas desses papéis, já que o novo rating ainda mantém os EUA dentro dos critérios dos principais índices globais de renda fixa.

A decisão da Moody’s se soma a uma sequência de rebaixamentos recentes em grandes economias. A lista de países com nota máxima pelas três principais agências caiu para 11, número bem inferior ao que se via antes da crise financeira de 2007-2008. Entre os remanescentes estão Alemanha, Suíça, Holanda, Canadá, Cingapura e Austrália — juntos, representam pouco mais de 10% do PIB global.

O alerta fiscal da Moody’s também alimenta discursos mais amplos sobre a estabilidade do dólar como moeda de reserva global. Corretoras como a Coinbase já exploram o rebaixamento para reforçar o apelo do Bitcoin como alternativa independente de autoridades estatais.

Apesar disso, o papel do dólar continua inabalado, e a maioria dos investidores ainda considera a dívida americana como o ativo mais seguro do mundo. Para o BofA, a ameaça maior não está no curto prazo, mas na persistência de uma postura fiscal sem correções. A questão colocada pelo banco é direta: os Estados Unidos estão caminhando sonâmbulos rumo a um buraco fiscal?

Se as taxas longas continuarem subindo e o custo do financiamento da dívida seguir pressionando o orçamento, o Congresso poderá ser forçado a reagir, ainda que tardiamente. Até lá, o rebaixamento da Moody’s permanece como um lembrete incômodo de que os limites da política fiscal americana estão cada vez mais próximos.

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