“Retornei à minha vida normal”, diz Nedy de Vargas Marques sobre volta à advocacia

“Costumam dizer que o advogado que não se veste bem, não sabe advogar”, brinca Nedy de Vargas Marques, ao receber a reportagem do DC, em sua casa, com um sorriso no rosto e um olhar de serenidade.

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Doutor Nedy, como é popularmente conhecido, tem sido visto, nos últimos meses, circulando em Canoas em ternos lustrosos e bem alinhados. Isso porque retornou à advocacia e para o Direito Criminal que tanto ama.
Afastado da vida pública desde que encerrou o mandato como vice-prefeito, no final do ano passado, Nedy hoje vive uma rotina tranquila entre casa, escritório e o Fórum de Canoas.
À reportagem, garantiu que, aos 75 anos, deu como encerrado o ciclo na política. Ele admite a turbulência sofrida durante o último mandato, quando assumiu a gestão de Canoas durante um período total de um ano e onze meses.
Em entrevista, Nedy lembra de fatos que marcaram sua passagem pela Administração e diz viver com a consciência tranquila e com a sensação de dever cumprido com a população de Canoas.
“Fico emocionado com o carinho que recebo das pessoas enquanto caminho pela rua”, revela. “Me perguntam quando eu volto. Mas tenho convicção que não voltarei à vida pública.”

DC – O que tem feito Nedy de Vargas Marques nos últimos meses?

Nedy – Retornei à minha vida normal e me recuperei completamente do problema de saúde que havia enfrentado. Depois que deixei a função pública, em consequência do mandato de vice-prefeito para o qual fui eleito, eu me senti em amplas condições para exercer uma atividade produtiva, então resolvi voltar ao exercício da advocacia. Minha especialidade no direito é a advocacia criminal, especialmente a atividade no Tribunal do Júri. Sou um apaixonado pelo Direito e tenho um carinho mais que especial ao Direito Criminal. Me sinto maravilhado hoje por poder exercitar a advocacia.

DC – Em retrospectiva, acredita que o trabalho na administração de Canoas prejudicou sua saúde?

Nedy – Fui submetido a uma cirurgia para colocação de ponte de safena. A cirurgia foi um sucesso, mas, durante a recuperação, fui acometido por uma infecção. Posso garantir que a atividade na função pública não teve nenhuma relação com o que aconteceu. Não teve nenhuma influência. Eu estava exercendo a função de vice quando aconteceu. Tenho a percepção que nunca houve impacto em termos emocionais ou físicos que pudessem resultar em um percalço de saúde. A atividade na função pública não teve relação com o problema cardíaco.

DC – O afastamento do prefeito Jairo Jorge obrigou o senhor a assumir a gestão de Canoas. Como avalia sua atuação como prefeito em exercício?

Nedy – Minha vida política neste último mandato foi muito tumultuada e com altos e baixos. Nunca tive a pretensão de fazer daquela eleição que participei como vice um trampolim para me tornar prefeito da cidade de Canoas. Dediquei-me ao lado do candidato à Prefeitura Jairo Jorge, e posteriormente eleitos, desenvolvi a minha atividade como vice com a consciência tranquila. De forma inesperada, o Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul deliberou o afastamento do prefeito Jairo Jorge. Por decorrência legal, fui notificado para que assumisse. Isso ocorreu três vezes. Alternei as funções como vice-prefeito e prefeito em exercício. Procurei trabalhar com muita dedicação. Formei um secretariado com servidores de carreira. Escolhi e trabalhei com pessoas que estavam obstinadas em prestar um bom serviço à população.

DC – O senhor se sentia preparado para a função?

Nedy – Eu não concorri a prefeito. Como convidado, me preparei para ser vice. Fui pego de supetão e tive que assumir de uma hora para outra. Procurei fazer o possível. Procurei olhar para os quatro cantos da cidade com o aporte de ações do poder público. Trabalhei com honestidade. Pensei, agora eu estou com a caneta na mão para deliberar sobre recursos públicos da cidade, que devem ser empregados somente em prol da sociedade de Canoas. Quase diariamente, tinha reuniões para que todos tomássemos consciência que nós deveríamos atuar para o bem da sociedade de Canoas. Consegui, pelo menos, demonstrar que o dinheiro público foi aplicado para o bem e benefício da sociedade de Canoas.

DC – O senhor lembra do episódio envolvendo o polêmico sumiço do livro ata que deveria ser assinado para o seu retorno à administração?

Nedy – Eu ainda estava no hospital quando aconteceu o episódio do livro. Para dizer a verdade, achei aquilo de uma pequenez imensurável, porque eu, muito embora estivesse passando por um problema de saúde, era o vice-prefeito eleito democraticamente e, tendo recebido alta hospitalar, não havia nenhum impedimento legal para regressar ao cargo diante de um novo afastamento do prefeito Jairo Jorge. Essa história de sumir com o livro era mais uma tramoia para criar um obstáculo para que eu recebesse o comando. Obviamente, não havia sustentação legal em esconder o livro para o vice-prefeito não assumir. À luz do tempo, isso serviu de riso para muita gente na nossa cidade e fora dela. Reassumi e permaneci até que o prefeito Jairo Jorge pudesse voltar ao cargo igualmente por deliberação judicial.

DC – Além da turbulência política, os últimos quatro anos foram marcados por catástrofes naturais que adicionaram dificuldades à gestão da cidade. Como avalia sua atuação?

Nedy – Qualquer pessoa que decide assumir um cargo público, precisa estar preparada para o exercício do cargo. Eu me sentia preparado para exercer o cargo de vice-prefeito. Porém, primeiramente, quem nesta cidade imaginaria o afastamento do prefeito Jairo Jorge? Assim como, posteriormente, ninguém imaginava uma microexplosão. Foi um horror na nossa cidade. Eu tinha uma responsabilidade com a sociedade de Canoas. Eu lembro que andava à noite observando a destruição. Milhares de casas destruídas. Baixei um decreto emergencial para as despesas com telhas. Determinei que os Cargos de Comissão fossem para a rua distribuir telhas. Lembro de um advogado da Procuradoria descarregando telhas de uma caminhoneta em uma casinha destelhada no Guajuviras. Tenho hoje a consciência que fiz tudo o que pude diante do quadro. E não gastei um centavo sem o respaldo legal.

DC – E sobre as enchentes?

Nedy – Eu vou ser sincero que, na condição de vice-prefeito, estava constrangido para deliberar sobre qualquer ação que pudesse ser tomada. Após o terceiro retorno do prefeito Jairo Jorge, meu gabinete foi retirado do prédio da Prefeitura. Fui colocado distante do Paço Municipal, em uma sala como uma assessora indicada pelo Executivo. Eu não tinha nenhum aparato do Poder Público na época. Ajudei, mas não tinha condições de resolver os problemas das pessoas diante da tragédia. Quem tinha força era o Poder Público, comandado pelo prefeito Jairo Jorge. Fiz o que pude para algumas pessoas, mas não contava com o respaldo financeiro do Poder Público para socorrer a população.

DC – O senhor pretende retornar à política?

Nedy – Tenho convicção que não voltarei para a vida pública. Sou um homem dedicado à família e ao exercício da advocacia. Estou à disposição para quem precisar como cidadão e advogado, mas não tenho nenhuma pretensão de voltar à política.

DC – Mas soube que as pessoas o encontram e perguntam se retornará, não é verdade?

Nedy – Fico emocionado com o carinho que recebo das pessoas enquanto caminho pela rua. Me perguntam quando eu volto? Mas tenho convicção que não voltarei à vida pública. Então ficam me dizendo muito obrigado e me desejam saúde e sucesso. É uma demonstração que, no exercício da vida pública, ao longo de aproximadamente quase 30 anos, fiz as escolhas certas.

DC – E como o senhor avalia a atual gestão de Canoas?

Nedy – Eu acho que o atual governo, com o prefeito Airton Souza está com um tempo muito curto para poder mostrar para a população o que tem em mente me prol da sociedade de Canoas. Acredito e espero que o prefeito Airton possa fazer um bom mandato, porque acredito em um governo calcado na honestidade. Porque Canoas dizem que os problemas são de falta de recursos, mas eles existem e se forem aplicados em prol da população é possível alcançar sucesso. Moro em Canoas e, como cidadão, só tenho a desejar o sucesso da atual gestão.