Casal da região inicia a jornada para atravessar todo continente americano

Uma despretensiosa ida ao supermercado durante um domingo foi o momento em que um estalo fez com que Tiago Vargas propusesse uma mudança radical de vida para a família.

Ao chegar em sua casa, um sítio no bairro Lomba Grande, área rural de Novo Hamburgo, ele conversou com a esposa Marcia Ilgenfritz, 40 anos, e sugeriu que os dois deixassem a segurança da casa por uma vida na estrada. “É aquela velha questão da crise de meia idade, a crise dos 40. Estava meio desanimado da vida assim e comecei a ter um desejo de mudar tudo”, relembra Vargas.

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Vargas, Marcia e a mascote Nina viajam de Pajero | abc+



Vargas, Marcia e a mascote Nina viajam de Pajero

Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

Quatro anos depois que a ideia foi lançada, o casal começou na manhã do último dia 21 de maio a primeira etapa de uma aventura que tem o objetivo de percorrer todo o continente americano. A bordo de uma caminhonete Mitsubishi Pajero 2006, que a partir de agora virou a casa do trio, formado também pela cadelinha Nina, Vargas e Marcia começaram a percorrer o Brasil.

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O plano prevê que durante o próximo ano eles percorram mais de 20 dos estados brasileiros, subindo pela costa do País e retornando depois de 12 meses a Campo Bom, onde moraram desde que decidiram vender o sítio em Lomba Grande. Serão cerca de três meses em terras gaúchas, resolvendo compromissos profissionais e se preparando para aquela que é o objetivo central do projeto, percorrer a Rota Panamericana. O propósito é chegar até o Alasca.

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Sem Porteiras

Naquele domingo, quatro anos atrás, quando chegou em casa, Vargas decidiu compartilhar sua epifania com a esposa e a enteada Ana Caroline, hoje com 21 anos. 

Marcia diz que ao ouvir a proposta de deixar para trás a vida tradicional e trocar por uma rotina de estrada, não titubeou em aceitar. “Quando o Tiago veio com essa ideia, eu de imediato adorei porque, realmente, a gente gosta muito de viajar. Já fomos para outros países e Estados rodando de carro”, conta.

Só que, enquanto Marcia aceitou de primeira a ideia, a filha se mostrou mais conservadora. “A Ana, a nossa filha, disse: ‘amo viajar, mas eu gosto de ter para onde voltar, então vou ficar morando com a minha avó’”, conta Marcia. Mesmo com as experiências de viagens anteriores de carro para Uruguai, Paraguai e Rio de Janeiro, entre outros destinos, a decisão de mudar de vez para a estrada exigiu uma preparação muito maior.

Em meio a empolgação inicial, Vargas precisou dar um tempo de tudo para tratar da saúde, um período classificado por ele como fundamental para uma preparação mais adequada.

“Tínhamos uma caminhonete Frontier, então o plano original era botar uma camper em cima dessa e morar nela. Aconteceu que, no meio disso, eu tive um problema de saúde que trancou o projeto momentaneamente. Hoje enxergo que foi a melhor coisa que aconteceu, porque na época nós não estávamos preparados totalmente, era mais empolgação do que propriamente planejamento.”

Toda a crise de saúde também ajudou a comprovar a necessidade do casal de mudar de vida. “Tive crise de ansiedade, depressão, e era o resultado desse burnout louco de trabalho que a gente vinha tocando”, conta Vargas, que é cientista político, e, junto com Marcia, toca uma empresa de marketing político. Sequiosos por encontrar um estilo de vida mais saudável, os dois começaram então a planejar efetivamente a vida na estrada.

Além de vender o sítio no bairro Lomba Grande para custear os gastos dos preparativos, o casal lançou a campanha Sem Porteiras. Através de um canal no Youtube e páginas nas redes sociais, Vargas e Marcia começaram a contar a preparação do carro para a viagem, e aos poucos foram conquistando apoio de empresas em uma velocidade que até surpreendeu o casal.

“Selecionamos algumas empresas e marcas, fomos entrando em contato com eles e graças a Deus foi melhor do que nós esperávamos, porque como é um projeto que está iniciando, a gente vê que as pessoas têm que rodar bastante, para às vezes conseguir um apoiador aqui, outro ali”, comemora Marcia.

O planejamento prevê que, em 2026, depois de encerrar a primeira volta pelo Brasil, os dois comecem a travessia mais longa. Cruzar todo o continente americano através da Rota Panamericana será a jornada que eles pretendem iniciar no próximo ano. “Ela começa no Sul do nosso continente, que é no Ushuaia [Argentina], e leva até o Norte. Então é de ponta a ponta até o Alasca. Para nós, isso é um marco, atravessar todo o continente”, comenta Vargas sobre o projeto.

Lar sobre rodas

Apesar de não ter a companhia da filha, o casal não viajará sozinho, já que junto deles vai também a cadelinha Nina, de 12 anos. Resgatada ainda no início do relacionamento do casal, que está junto há 13 anos, ela tem sido uma peça importante no planejamento da viagem.

Depois de vender o sítio de Lomba, eles passaram a morar em Campo Bom e investiram o dinheiro na adaptação da Pajero para a viagem. O veículo 4×4 passou por diversas mudanças, não apenas para se transformar em uma casa, mas para garantir uma viagem segura. Um computador de bordo informa com precisão e em tempo real dados como a pressão dos pneus e a navegação, entre outras informações essenciais para ter segurança na estrada.

Já no quesito “casa”, a otimização do espaço é fundamental, pois cada lugar vira um armário ou local para guardar objetos. A estrutura conta inclusive com uma barraca de banho, e uma forma encontrada para garantir água quente na hora da higiene pessoal.

As adaptações seguirão sendo feitas no carro durante a travessia da Rota Panamericana. “Na hora que gente chegar no frio vamos ter que, provavelmente, adaptar um aquecedor a diesel para não congelar no Alasca”, projeta Tiago.

Além de toda estrutura de casa, o carro também servirá como escritório, já que o casal não vai deixar de trabalhar, apenas trocar a rotina diária que desgastou Vargas por uma vida mais leve. “Viver com menos, mas viver mais.”

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