Lewandowski nega ação em larga escala de espiões russos no Brasil

Ministro Ricardo Lewandowski 24/03/2024 REUTERS/Ueslei Marcelino

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta quinta-feira (22) que não há evidências concretas de uma operação em larga escala de espiões russos — ou de outras nacionalidades — em atuação no Brasil. Segundo ele, existe um único caso em andamento, sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Existe um caso isolado que está sob responsabilidade do STF. Quando o Judiciário decidir, o governo tomará a decisão correspondente à decisão da Corte”, afirmou Lewandowski durante entrevista coletiva concedida após a abertura da 4ª Reunião da Interpol para chefes de polícia da América do Sul, em Brasília.

Participaram também da entrevista o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza. Rodrigues reiterou que o caso de espionagem é responsabilidade do Poder Judiciário e que a PF atua em colaboração com autoridades internacionais.

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PF monitora atuação russa desde 2022

Apesar da fala do ministro, investigações da Polícia Federal indicam que o Brasil pode ter sido sistematicamente usado pela Rússia como base para formar agentes de inteligência desde pelo menos 2022. O tema ganhou novo fôlego após o jornal The New York Times afirmar, em reportagem publicada nesta quarta-feira (21), que o país se tornou uma “fábrica” de identidades falsas para espiões russos.

Segundo o NYT, os serviços secretos russos operaram no Brasil por meio de agentes conhecidos como “ilegais”, infiltrados sob disfarces civis. Eles criaram empresas, cultivaram relações pessoais e construíram novas identidades, longe de qualquer associação direta com o governo de Vladimir Putin. Ao menos nove desses espiões teriam atuado com documentos brasileiros falsos, segundo as investigações.

Entre os nomes citados está Serguei Tcherkasov, preso no Brasil após ter sido deportado da Holanda em 2022, quando tentava se infiltrar no Tribunal Penal Internacional. O STF, em decisão do ministro Edson Fachin em dezembro de 2023, negou a soltura de Tcherkasov e condicionou eventual extradição à conclusão das investigações no país.

Atratividade do Brasil para espionagem

Autoridades brasileiras apontam diversos fatores que facilitam a atuação de agentes estrangeiros no país. Um deles é a facilidade de se obter documentos oficiais, como certidões de nascimento e passaportes, a partir de identidades falsas. O passaporte brasileiro, bem aceito globalmente, também é atrativo para ações de espionagem.

A Polícia Federal identificou movimentações financeiras ligadas a Tcherkasov que levaram a suspeitas sobre integrantes do governo russo estabelecidos no Brasil. Já em abril de 2024, uma nova apuração revelou que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) descobriu outro espião russo atuando sob cobertura diplomática na embaixada da Rússia em Brasília.

O agente, Serguei Alexandrovitch Chumilov, deixou o país após ser identificado pela contrainteligência brasileira. Segundo os relatórios, ele atuava para recrutar brasileiros como informantes e estava vinculado a uma entidade cultural acusada de ações de espionagem nos Estados Unidos e na Europa.

Governo aguarda o STF

Por ora, o governo brasileiro evita tratar o tema como uma operação internacional coordenada, optando por classificar os episódios como pontuais. Segundo Lewandowski, quaisquer providências dependerão da deliberação judicial em curso.

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