Sanções dos EUA a Moraes: o Planalto deveria ser sóbrio na reação

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse em depoimento a uma comissão da Câmara dos Representantes que é grande a possibilidade de o governo dos Estados Unidos aplicarem sanções ao ministro Alexandre de Moraes.

Ele fez a afirmação ao responder a um deputado republicano da Flórida, que lhe perguntou o seguinte:

“Nós temos visto censura generalizada e perseguição política a toda a oposição, incluindo jornalistas e cidadãos comuns. E o que estão fazendo agora é uma iminente prisão por motivos políticos do ex-presidente Bolsonaro. Essa repressão se estende para além das fronteiras do Brasil e atinge indivíduos em solo americano. O que o senhor pretende fazer a respeito?”

Noticia-se que o STF quer que o governo brasileiro reaja em defesa de Alexandre de Moraes, caso o ministro seja mesmo atingido por um arco de sanções que vai da proibição de entrar nos Estados Unidos à proibição de transações com empresas americanas.

Os ministros do tribunal dizem que qualquer sanção a Alexandre de Moraes seria “inadmissível”, uma intromissão no judiciário brasileiro. Compreendo a indignação, mas inadmissível não é.

Sem entrar no mérito das acusações contra o ministro, observo que, assim como o Brasil está livre para sancionar um cidadão americano que julga ter desrespeitado as suas leis, os Estados Unidos também o estão para impor sanções a um cidadão brasileiro que julgam ter ferido os seus princípios.

Os motivos ideológicos que levariam o governo de Donald Trump a punir Alexandre de Moraes estão dados — o presidente americano é aliado de Jair Bolsonaro —, mas é fato da vida que governos ajam politicamente no campo internacional, o que certamente não os torna imunes a críticas e até a retaliações.

É no tom e na amplitude da sua reação que o governo brasileiro deveria pensar com imenso cuidado, antes de tomar as dores do ministro do STF  e de atrair para si a ira do governo americano.

Divulgar uma nota firme e sóbria de solidariedade à Justiça brasileira, evitando ao máximo a fulanização, vá lá. Ir além disso, em um momento de relações delicadas com os Estados Unidos, pode ser contraprodutivo para os interesses brasileiros, já suficientemente ameaçados pela sanha tarifária de Donald Trump. Uma reação desproporcional reforçaria, ainda, a interpretação alardeada pelos bolsonaristas, mas não só por eles, de que Lula e a instância máxima do nosso judiciário se movimentam em dobradinha.

Em horas como esta, chama-se a diplomacia para tentar evitar o pior cenário. Ainda há tempo. Sem perder de vista que o governo brasileiro não é o STF  e que Alexandre de Moraes sempre poderá recorrer à Justiça americana se vier a ser sancionado.

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