São Leopoldo tem o menor número de vítimas de homicídios dos últimos 10 anos

São Leopoldo segue sendo exemplo de boas práticas de segurança no Estado. Em 2025 a cidade continua apresentando, como em anos anteriores, queda nos indicadores criminais, sobretudo num dos mais graves da lista: os homicídios. De 1º de janeiro até o dia 15 de maio haviam sido registradas três vítimas deste tipo de crime no Município, o menor número da última década.

Delegacia de Homicídios de São Leopoldo fica na Feitoria



Delegacia de Homicídios de São Leopoldo fica na Feitoria

Foto: Polícia Civil/Especial

Nos primeiros cinco meses do ano passado foram registradas 10 vítimas, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do RS. O dado de 2025 fica ainda mais expressivo comparando com 2017, ano mais violento da série, quando de janeiro a maio haviam sido 63 vítimas.

Para o titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), o delegado Ericson Mota, os bons números são reflexo de uma série de fatores.

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“Atribuo ao brilhante trabalho dos agentes aqui lotados e aos protocolos de dissuasão focada, aplicados pela gestão do diretor (do Departamento de Homicídios da Polícia Civil), Mario Souza e pelo diretor (da Divisão de Investigação de Homicídios da Região Metropolitana), Rafael Pereira. Protocolo este que tem contribuído de forma decisiva e eficaz na queda abrupta do número de homicídios na Capital e na Região Metropolitana”, diz.

“Temos aplicado o protocolo de dissuasão focada, conforme determinação da direção, bem como estamos focando em punir com rigor os infratores, seja com prisões preventivas e temporária, com buscas e apreensões, bem como com os indiciamentos, quando devidos, dos investigados que de fato houverem cometido crimes contra a vida ou quais quer crimes relacionados”, completa.

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De acordo com o delegado, a maioria dos homicídios praticados em São Leopoldo estão ligados ao tráfico de drogas. “Em uma menor escala estão ligados a crimes de agiotagem, a desavenças pessoais, a dívidas ou a motivos torpes ou fúteis”, esclarece.

O perfil das vítimas, também de acordo com o delegado, é o mesmo, na maioria dos casos. “Em regra são pessoas de baixa escolaridade, pretas ou pardas, com baixo poder aquisitivo e, normalmente, moradoras de locais onde o Estado não se faz presente com serviços básicos e políticas públicas sociais, o que é um catalisador para o uso de entorpecentes e para a entrada de jovens para o tráfico”, pontua.

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Foto: Reprodução

 

Trabalho integrado e tripé de ações

Comandante do 25º Batalhão de Polícia Militar (25º BPM), o tenente-coronel Marcelo da Silva Bueno, credita a redução ao trabalho integrado entre as forças policiais, entidades e sociedade civil e a um tripé de ações executado pela BM.

“Atribuo esses resultados positivos ao trabalho conjunto desenvolvido pelas forças de segurança atuantes no município (BM, PC, PP, IGP, GCM), bem como, outras estruturas como o Ministério Público, Poder Judiciário e sociedade civil organizada (CONSEPRO/CDL/ACIST/CONSEGUR). Muitas reuniões são realizadas com a participação de todos objetivando o bem comum, o qual nesse caso, é a segurança pública”, frisa.

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“Temos um protocolo bem estruturado, fundamentado em um tripé de ações: a primeira é a revisão sistemática dos Pontos Bases (PBs), que são aqueles locais em que nossas guarnições são colocadas em dias, horários e locais estratégicos do Município, fundamentada em dados de análise criminal. Esses PBs servem de referência para os cidadãos de bem, visualizando o policial militar e prevenindo os crimes naquele raio de ação. A segunda ação são as operações com dissuasão focada, com barreiras policiais militares instaladas em dias, horários e locais diversificados, também pautadas em mapas criminais de calor, resultando na apreensão de veículos roubados ou furtados, drogas, armas, bem como prisão de foragidos da Justiça. Já a terceira é o trabalho integrado entre as forças de segurança com a troca de informações entre os setores de inteligência, onde, de posse dessas informações, realizamos estudos dos dados de análise criminal em reuniões de governança que ocorrem internamente no batalhão, semanalmente. Nessa reunião são analisados os dados da semana anterior, uma prospecção para ações da próxima semana e observação de pontos positivos e necessidades de alerta”, explica.

Repressão ao tráfico

Conforme o coronel, na maioria dos casos, os homicídios têm vinculação com tráfico de drogas, seja por cobrança de dívidas, ou, por disputa de espaço. Segundo ele, a ação da Brigada Militar nesse tipo criminal em específico é feita por meio da prevenção, a qual ocorre ainda na escola por meio do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência – PROERD e palestras em geral.

“No aspecto repressivo, são desenvolvidas buscas de informações por meio dos setores de inteligência, estudos de análise criminal e, a partir daí, empregados nossos recursos humanos e materiais em operações policiais militares nos locais, dias e horários identificados como necessários, sufocando o tráfico de drogas naquele local por meio de barreiras e incursões naquele palco de operação, e, se possível, realizar a prisão das pessoas envolvidas no tipo criminal”, destaca.

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Segundo ele, até o último dia 15 de maio a BM havia realizado 57 prisões ligadas diretamente ao tráfico de drogas neste ano em São Leopoldo.

O que é o protocolo de dissuasão focada? 

Em novembro de 2024, o governo do Estado formalizou o Acordo de Cooperação entre órgãos do Poder Executivo, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) e o Ministério Público estadual (MPRS) tendo como objetivo a execução de um plano estratégico que inclui diversas ações para reduzir homicídios dolosos decorrentes de conflitos entre grupos criminosos.

As medidas são baseadas na teoria da dissuasão focada, aplicada nos Estados Unidos, que foca na extinção de ordens de execuções por parte de líderes de organizações criminosas, deixando claras as penalidades e as medidas a serem aplicadas nos casos.

A Polícia Civil tem um papel importante na estratégia. Ela foca no crime como prioridade a ser combatida e na diretriz de concentração da energia do Estado contra o grupo de pessoas que cometem esse tipo de delito. Nesse contexto, os comportamentos dos grupos criminosos são acompanhados constantemente por evidências técnicas.

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O método vem sendo aplicado pela Polícia Civil em um trabalho integrado de enfrentamento que concentra esforços contra o crime organizado envolvido em homicídios, executando, juntamente da BM, da Polícia Penal, do MP e do TJ, medidas específicas contra os grupos criminosos.

As medidas adotadas são: operação de saturação de área; investigações para responsabilizar executores, mandantes e lideranças do crime organizado; operações especiais; operações contra lavagem de dinheiro; revistas em presídio; e transferências de presos para presídios estaduais e federais.

Aumento em tentativas de feminicídio em relação ao ano passado 

Apesar de não ter registrado nenhum feminicídio consumado de 1º de janeiro a 15 de maio de 2025 (no ano passado no período havia sido um feminicídio consumado), São Leopoldo apresentou aumento no número de ocorrências de tentativas de feminicídios e estupros, em comparação ao mesmo período de 2024.

Neste ano, foram quatro tentativas e ainda 21 ocorrências de estupro e 144 ocorrências de lesão corporal na cidade. No ano passado, em cinco meses, haviam sido registrados, além de um feminicídio consumado, também um tentado, 18 ocorrências de estupro e 157 ocorrências de lesão corporal.

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Uma das tentativas registradas neste ano teve como vítima uma adolescente de 16 anos, esfaqueada dentro de casa pelo próprio pai, no bairro Feitoria. O crime aconteceu no dia 4 de maio. O homem, de 36 anos, foi preso. A menina, atingida por oito facadas, após alguns dias de internação no Hospital Centenário, recebeu alta e passa bem. 

A motivação para o ataque, segundo depoimento da vítima à Polícia, teria sido um desentendimento por causa da internet. “Foi um desentendimento por vários motivos, pelo que percebemos. Mas a agressão iniciou quando ele quis desligar o roteador e ela contrariou o pai”, explica a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), a delegada Michele Arigony.

De acordo com a delegada, desde a implementação da Deam na cidade, em dezembro de 2019, mais de 13 mil ocorrências foram registradas na especializada. Conforme ela, os principais crimes registrados na delegacia são lesão corporal e ameaça.

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“Importante sempre reforçar que o crime não é somente aquele que deixa marcas, como a lesão corporal. A violência pode ser de várias formas, inclusive psicológica”, destaca.“Quando esta mulher se percebe como vítima, ela deve procurar ajuda. Nós não estamos aqui para julgar. Só esta mulher sabe o que ela está passando. E nós atendemos todos os casos com urgência, para dar celeridade à demanda desta vítima”, frisa Michele.

Atendimento

A Deam de São Leopoldo fica na Rua São Paulo, 970, no Centro, e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30. No local, são feitos atendimentos e registros de ocorrências que envolvam violência de gênero que ocorra no ambiente doméstico ou familiar e crimes sexuais em que a vítima seja mulher.

Na Deam, os atendimentos são feitos, preferencialmente, por policiais femininas. Fora do horário de atendimento da Deam e nos fins de semana, as ocorrências são registradas na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), na Sala das Margaridas, um espaço reservado para o acolhimento às vítimas de violência doméstica.

Abril de índices positivos no Estado 

O mês de abril foi positivo para a segurança gaúcha como um todo. Levantamento feito pela SSP/RS divulgado no último dia 13 de maio aponta que em 2025 o Estado registrou o mês de abril com os menores índices de criminalidade em toda a série histórica, iniciada em 2010.

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Os homicídios dolosos tiveram queda de 33%, passando de 117 vítimas em 2024 para 78 em 2025. O total de crimes violentos letais intencionais, categoria que engloba homicídios dolosos, feminicídio, lesão corporal seguida de morte e latrocínio (roubo seguido de morte) caiu 20%, de 138 para 111 vítimas.

Os crimes contra o patrimônio também seguem diminuindo. Nenhuma ocorrência bancária foi observada no período. Outra queda expressiva foi no número de roubos em transportes coletivos, que passou de 39 para 21, uma redução de 46%. Os roubos a pedestres caíram 34%, de 1.485 para 982 casos.

O RS também registrou queda no número de abigeatos, de 253 para 211 ocorrências, numa redução de 17%. O roubo de veículos caiu 12%, de 187 para 165. As ocorrências comerciais, que em 2024 eram 491, caíram para 310 casos, diminuindo 37%. A única alta registrada no período foi a de feminicídios, com dez casos em quatro dias, durante o feriado de Páscoa.

 

 

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