“Crackfurt”: cidade alemã planeja criar abrigo para dependentes químicos; entenda

A cidade de Frankfurt, na Alemanha, tem planos de abrir um novo centro de ajuda para viciados em crack perto da principal estação ferroviária da cidade, uma área famosa por seu grande movimentação de drogas ilícitas. Visitantes que chegam de trem à capital bancária da Alemanha, repleta de arranha-céus, muitas vezes se surpreendem ao entrar em um bairro urbano violento, cheio de traficantes de drogas e locais de prostituição.

Centenas de viciados são atraídos para a área de Bahnhofsviertel, onde várias das chamadas salas de consumo oferecem agulhas esterilizadas e permitem que os usuários injetem heroína, fumem crack e usem outras drogas ilegais. Autoridades de saúde pública argumentam que tais medidas há muito tempo ajudam pessoas desesperadas que sofrem de dependência e salvam muitas vidas.

Mas os críticos apelidaram a cidade de “Crackfurt” e o tabloide britânico The Sun batizou o distrito central da cidade de “zumbilândia” no ano passado. O empresário local Frank Lottermann, que dirige uma agência de design nas proximidades, está fazendo lobby para que o novo centro de crack seja transferido para mais longe, para o outro lado dos trilhos ferroviários. Ele disse à AFP que ficou triste ao ver o desespero humano e a higiene, às vezes terrível.

“Teve um efeito na sua cabeça” ter que passar por cima de excrementos humanos no caminho para o trabalho, disse ele. Ele se opõe ao plano de um novo centro com espaço para cerca de 50 pessoas fumarem crack, uma droga poderosa que chegou a Frankfurt na década de 1990 e agora é mais popular que a heroína. “A cidade não é só de drogas”, disse Lottermann. “Só esta região!”

Mas, ele acrescentou que “o cenário das drogas é tão aberto que as pessoas acham que precisam evitar Frankfurt”.

Frankfurt, sede de grandes empresas financeiras e do Banco Central Europeu, também é um importante centro aéreo, ferroviário e rodoviário. O Bahnhofsviertel é um distrito cohnecido pela prostituição desde os anos do pós-guerra, quando os soldados americanos se aglomeravam ali.

“As pessoas acham que você pode se comportar de maneira diferente aqui, que você não se destaca”, disse Wolfgang Barth, um veterano assistente social local.

A primeira sala de consumo de drogas da Alemanha foi aberta em 1996, seguindo o modelo de serviços semelhantes da Suíça. Dentro de uma sala simples com bancos de aço inoxidável, viciados em heroína podem ser vistos “cozinhando” a droga em colheres sobre velas antes de injetá-la nos braços ou virilhas. Hoje, três centros também fornecem comida, camas e aconselhamento aos viciados.

“O objetivo principal é salvar vidas e não criminalizar as pessoas”, diz Christian Rupp, porta-voz de saúde e assuntos sociais da cidade.

No ano passado, 20 pessoas morreram de overdose de drogas em Frankfurt, abaixo do pico de 147 em 1991. “Ninguém morreu de overdose em uma sala de consumo até agora”, disse Rupp. Mas alguns se preocupam que a concentração de centros de ajuda seja um sinal de atitude permissiva, atraindo ainda mais viciados para a área.

Turismo de drogras

O primeiro-ministro conservador do estado de Hesse, Boris Rhein, acusou em março o Bahnhofsviertel de ter se tornado um “ímã para o turismo de drogas […] um ecossistema fechado de compras, consumo de drogas, tratamento, cuidados e aconselhamento, tudo em um só lugar”. Membros locais do partido pró-empresas Democratas Livres (FDP) pediram neste mês o fechamento total das salas de consumo da área.

“Viciados em drogas precisam de ajuda”, disse Lottermann. “Mas montar salas bem no meio do tráfico só promove o uso de drogas.” Rupp insistiu que o novo centro precisa ficar no Bahnhofsviertel para ser acessível aos viciados, que ele disse serem “doentes”. “Uma pessoa em estágio terminal desta doença não tem condições de caminhar quase dois quilômetros”, disse ele.

Um usuário de crack, um jardineiro 43 anos chamado Stirpan, concordou.

“Quem vai andar por 15 minutos quando tudo isso está aqui?” ele disse. “As pessoas pegam as drogas e querem fumá-las imediatamente, não querem esperar.”

Barth, que abriu o primeiro centro de ajuda da área em 1989, disse que não se surpreendia com a oposição local. Naquela época, ele lembrou, o dono de um bordel local ameaçou: “Se um viciado vomitar na minha Mercedes, eu vou até sua casa e bato em todo mundo”. “É importante conversar com seus vizinhos”, disse Barth.

Ele acrescentou que o novo centro de crack deve ser aberto conforme planejado, onde a demanda é maior. Lottermann, por sua vez, também argumentou que Frankfurt deveria tolerar o tráfico de drogas em centros de atendimento, para acabar com a prática nas ruas. Barth disse que duvidava que isso fosse tolerado na Alemanha em um futuro próximo. Stirpan, brincando com seu cachimbo de crack, disse que era difícil ver o que poderia ser feito para limpar o Bahnhofsviertel.

“Você teria que fazer algo drástico. Você teria que expulsar as pessoas da área”, disse ele. “As pessoas aqui fazem qualquer coisa por um pouco de crack.”

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