‘É o puro creme do milho verde’: pamonha de Piracicaba sustenta famílias e é tradição há décadas


No Dia do Milho, confira histórias da receita que virou símbolo da cidade e de famílias que vivem da produção do quitute. Conheça a história da pamonha de Piracicaba que conquista gerações
No som que ecoa pelas ruas — “Está passando o carro da pamonha, pamonha caseira, pamonha de Piracicaba (SP)” — está guardada a memória afetiva de gerações. Neste sábado (24), é comemorado o Dia do Milho e moradores de Piracicaba comemoram a popularização da receita que sustenta famílias.
A tradição começou lá atrás, na década de 1950, com a dona Wasthy. Ela quem teve a ideia de costurar a palha do milho para embalar a pamonha feita só com o puro creme do milho verde, como conta o irmão João Batista Rodrigues Filho.
“Foi uma época difícil pra ela, porque o marido tinha perdido o emprego. Ela precisava arrumar uma maneira de sustento pra casa”, relembra João Batista.
Além dela, outros piracicabanos contribuíram para a fama da receita. Dirceu Bigeli era um dos vendedores de pamonha de Dona Whasty. Ele comprou um carro, um gravador e um alto falante, que instalou no veículo.
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Receita de sucesso
“Até então ninguém sabia fazer assim. Nunca ninguém tinha feito isso”, conta João Batista. Ele inclusive pagou a faculdade que fez em Jundiaí vendendo o quitute da irmã. Com o crescimento das vendas, a pamonha de Piracicaba cruzou fronteiras.
“[Era] a única maneira de me sustentar. Eu gritava: ‘pamonhas, pamonhas, pamonheirooo’”, afirma.
Do início, na varanda de casa, à fabrica
Fabrica de pamonha em Piracicaba
Reprodução/EPTV
Já nos anos 1990, outro capítulo importante dessa história começou a ser escrito. Uma empresa para a produção de pamonhas foi aberta por seu Ademir Assarisse e dona Wanda Assarisse. O casal iniciou o negócio na varanda da própria casa, em Piracicaba.
“A gente fazia 10, depois 20, 50… e foi indo”, diz Wanda. Hoje, são cerca de 1.200 pamonhas feitas por dia.
Tudo começou com o milho que sobrava da vendas realizadas por Ademir nas ruas da cidade. “Eu vendia milho, e sobrava um pouquinho de milho cascado. Aí eu falei: o que fazer com esse milho?”, lembra Ademir. A resposta veio, incialmente, em forma de curau, mas a pamonha acabou conquistando o paladar dos clientes e virou especialidade da empresa.
Atualmente, a fábrica da família tem 20 funcionários. A produção é feita à noite para garantir que o produto esteja fresco no dia seguinte.
Palha costurada à mão
Para a produção da pamonha, também é necessário confeccionar a palha que serve de embrulho. Primeiro, são escolhidas as palhas dos milhos de tamanho maior, que não estejam rasgadas. Depois, o material é costurado por Cissa Tomazzi, ex-costureira de roupas de cama. “Hoje minha especialidade é costurar palha ‘pra’ pôr a pamonha”, diz.
Esse modo de fazer é o que torna a pamonha piracicabana única. “Em outras regiões, a palha é dobrada. Aqui, a gente costura. Faz uma bolsinha em forma de gota ou decoração”, explica Ademir.
Na cozinha, dona Amália Guimarães é quem cuida do preparo da massa. “Tem praticamente 20 anos que eu tô vivendo disso. Aposentei aqui e continuo”, conta, entre uma mistura e outra de milho com açúcar.
Processo de produção da pamonha de Piracicaba
Reprodução/EPTV
‘Pamonhas caseiras, pamonhas de Piracicaba’
E se a receita e o modo de preparo encantam, foi a propaganda que eternizou a pamonha de Piracicaba.
Dirceu Bigeli, vendedor e irmão de Airton Bigeli, teve a ideia de gravar o famoso jingle que virou marca registrada. “Ele viu que era cansativo andar pela cidade gritando. Comprou um carro velho, um gravador, um alto-falante e foi a um estúdio”, lembra Airton.
A voz de Dirceu se espalhou pelas ruas da cidade. “A gravação ganhou fama. Todo mundo usava. Ele vendia 300, 500 pamonhas por dia”, diz o irmão.
Para Airton, ouvir o anúncio ainda emociona. “A gente lembra da voz dele, daquela voz caipira, arrastada. Realmente emociona.”
A gravação ganhou fama com a clássica frase “está passando o carro das pamonhas, venha provar as pamonhas caseiras, pamonhas de Piracicaba”. Com o tempo, outros vendedores passaram a usar a voz de Dirceu para realizar, de carro, as vendas que antes eram feitas a pé.
A tradição segue viva. Do talento de dona Wasthy à força de trabalho da família Assarisse, passando pela voz marcante de Dirceu, a pamonha de Piracicaba conquistou seu lugar na história e no coração dos brasileiros.
Alto-falante que transmitia o jingle que virou marca registrada das vendas de pamonha em Piraciacba
Reprodução/EPTV
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