‘Ele saiu de Aimorés, mas Aimorés nunca saiu dele’: a história de amor entre Sebastião Salgado e sua terra natal


Fotógrafo mundialmente conhecido, Sebastião Salgado nunca perdeu o elo com Aimorés — cidade mineira onde nasceu e onde plantou seu maior legado ambiental. “Tião”, como era chamado pelos íntimos, é mencionado até no hino da cidade. Escola Estadual Machado de Assis, em Aimorés, onde Sebastião Salgado iniciou seus estudos.
Léo Olesse/Inter TV dos Vales
Nas ruas de terra batida da pequena Aimorés dos anos 1950, Sebastião Salgado percorria o caminho entre sua casa e a Escola Estadual Machado de Assis, onde começou a moldar o olhar que mais tarde conquistaria o mundo. Sete décadas depois, aquele mesmo menino — agora reconhecido como um dos maiores fotógrafos da história — retornaria à sua terra para realizar sua obra mais pessoal: o renascimento ambiental do Vale do Rio Doce.
A morte de Sebastião Salgado, aos 81 anos, nesta sexta-feira (23), comoveu o mundo da arte e da fotografia. Porém, em Aimorés, a notícia teve um peso diferente — foi sentida como a perda de um parente querido, de alguém que nunca deixou de ser um dos seus.
“Eu nunca vi uma pessoa tão apaixonada pela sua terra natal como foi o Sebastião. Nunca vi.”, afirma Sérgio Rangel, diretor executivo do Instituto Terra.
Sérgio Rangel, diretor executivo do Instituto Terra, era amigo pessoal de Sebastião Salgado.
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A declaração resume a relação visceral entre Sebastião Salgado e a pequena cidade mineira onde nasceu e que jamais abandonou, mesmo depois de se tornar um dos nomes mais respeitados da fotografia mundial.
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“Ele falava nas palestras dele mundo afora que o lugar dele era Aimorés e o lugar dele era para nadar no Rio Doce. Que foi a infância dele aqui, né? O Sebastião morou aqui até os 18 ou 19 anos, quando foi para Vitória estudar economia”, recorda Sérgio.
Com o passar dos anos, Aimorés deixou de ser apenas lembrança para se tornar missão. Ao lado da esposa, Lélia Wanick Salgado, Sebastião criou, em 1998, o Instituto Terra — uma das mais importantes iniciativas de reflorestamento do país.
Onde antes era cinza, Salgado plantou verde
Instituto Terra foi fundado por Sebastião e Lélia Salgado em 1998.
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O que começou como o sonho de recuperar a Fazenda Bulcão — propriedade da família que havia se tornado um terreno árido — transformou-se em um dos projetos ambientais mais ambiciosos do Brasil.
Os números impressionam: cerca de 3,5 milhões de árvores plantadas, 1,5 mil nascentes recuperadas e 7 mil hectares de Mata Atlântica restaurados. Além disso, a fundação gerou aproximadamente 150 empregos diretos e atende, anualmente, cerca de 700 crianças por meio do Projeto Terrinhas.
“A gente tem alicerces no Instituto muito sólidos. Temos certeza que a partida do Sebastião vai ser mais uma inspiração para o instituto crescer ainda mais. Vamos ter um período aí de adaptação sem o Tião participando da rotina, mas os alicerces são tão consistentes que o instituto vai crescer ainda mais, e onde ele tiver, ele vai tá aplaudindo e puxando o pé da gente quando ele não concordar com alguma coisa, como ele sempre fez”, afirmou Sérgio.
A missão de preservar o legado de Sebastião Salgado em Aimorés
Para o prefeito de Aimorés, Adriano Garcia, a morte de Sebastião Salgado representa uma perda irreparável para toda a cidade, mas também um momento para reafirmar o compromisso com o legado deixado pelo fotógrafo.
“Foi um dia muito triste para todos nós. Recebemos a notícia pela manhã da morte do Sebastião, que foi uma pessoa ilustre, natural de Aimorés, e que por onde passou sempre levou o nome da nossa cidade com muito orgulho”, destacou o prefeito.
Em conversa com o g1, Adriano lembrou que o impacto de Sebastião na história local foi muito além da fama internacional.
“Ele sempre lutou muito por Aimorés e construiu o Instituto Terra, que é um exemplo de transformação ambiental e social. O que era uma fazenda de família se tornou um projeto que hoje é referência em reflorestamento no Brasil e no mundo.”
Prefeitura de Aimorés com laço de luto em homenagem a Sebastião Salgado.
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Ao anunciar o decreto de três dias de luto oficial, o prefeito também falou sobre os planos para homenagear o fotógrafo.
“Já estamos com a equipe empenhada em preparar uma homenagem à altura da importância que Sebastião teve para a nossa cidade. Queremos mostrar para o Brasil e para o mundo o quanto ele fez por aqui.”
Neste sábado, dois cortejos em homenagem ao fotógrafo partirão da Prefeitura de Aimorés em direção ao Instituto Terra. Durante o trajeto, a cidade será tomada por um simbólico “piscar de luzes”, gesto coletivo de respeito e despedida. O primeiro cortejo terá início às 18h; o segundo, às 19h.
“Um legado que transformou Aimorés e vai continuar vivo”
Professor de ciências e biologia, Frederico Alves Morais Oliveira cresceu em Aimorés vendo de perto os impactos da obra de Sebastião Salgado. Para ele, a importância do fotógrafo vai muito além do que é visível.
“Sebastião Salgado foi um ícone em Aimorés, uma pessoa que foi além do trabalho que deixou. O Instituto Terra é mais do que uma ação ambiental — é uma ação humanitária, é um gesto de amor à cidade”, resume o professor.
Segundo ele, é impossível ser de Aimorés e não se sentir pessoalmente ligado a Sebastião.
“Mesmo quem nunca o encontrou sentia essa proximidade. Era como se fôssemos todos parte de um mesmo projeto. Hoje é um dia muito triste para Aimorés, mas também é um dia de gratidão. Gratidão pelos 81 anos de vida que ele dedicou não só ao mundo, mas à nossa terra.”
Frederico lembra, com orgulho, que o nome de Sebastião Salgado está eternizado até mesmo no hino do município.
“E merecidamente”, completa. “Porque ele foi um filho ilustre, um homem gigante, que nunca será esquecido.”
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