A caçada promovida por Rússia e Ucrânia contra mercenários brasileiros

No conflito mais documentado da história, Rússia e Ucrânia abriram uma nova frente de batalha, desta vez usando o poder da informação e da internet como arma. Na mira de Moscou e Kiev, estão brasileiros que viajaram ao Leste Europeu para lutar ao lado de unidades militares russas e ucranianas.

Em um dos esforços para diminuir o número de brasileiros combatendo pela Rússia, o projeto Quero Viver divulgou, recentemente, uma lista com 38 mercenários do Brasil que atuam ao lado das Forças Armadas russas, todos da 144ª Divisão de Fuzileiros Motorizados. O documento foi publicado em 15 de maio, dias após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Moscou.

Ligado ao Ministério da Defesa da Ucrânia, o sistema visa ajudar soldados russos e combatentes estrangeiros a se renderem, de forma voluntária. Em troca, Kiev promete o cumprimento de leis internacionais, a prestação de assistência médica, o oferecimento de refeições e a chance de asilo no país ou em outras nações europeias.

Alistamento forçado

De acordo com o governo da Ucrânia, tanto brasileiros quanto cidadãos de outros países estariam sendo cooptados por Moscou, mediante falsas promessas de trabalho. Ao chegarem à Rússia, contudo, esses homens são forçados a assinar um contrato e acabam enviados para o campo de batalha.

Esse roteiro é semelhante ao denunciado por familiares de Caio Henrique de Lima, natural de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, no último ano. Ao Metrópoles a família do jovem brasileiro afirmou que ele viajou para a Rússia sob a promessa de um emprego com bom salário. Ao chegar ao país liderado por Vladimir Putin, no entanto, acabou sendo encaminhado para a guerra, à força.

Meses depois, o jovem retornou ao Brasil e negou a versão dada pela família à imprensa e ao Ministério das Relações Exteriores. “Cheguei a Moscou, procurei um ponto de alistamento para entender como funcionava, e me alistei normalmente, como qualquer cidadão”, revelou Caio.

 

Ucrânia quer brasileiros lutando pelo país

Ao mesmo tempo que pede a rendição de brasileiros e de outros estrangeiros, o governo da Ucrânia aumenta os esforços para que mais militares do Brasil se juntem a unidades ucranianas.

Logo nos primeiros dias de guerra, a Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia foi implantada pelo governo de Volodymyr Zelensky. A criação do grupo de mercenários foi seguida de um apelo do líder ucraniano, que pediu a ajuda de pessoas ao redor do mundo que desejavam lutar contra “os criminosos de guerra russos”.

Atualmente, a Legião Internacional já oferece uma versão traduzida para o português da página oficial de alistamento na unidade militar, com ofertas de salários que vão de US$ 550 a US$ 4.800, proporcionais à área de atuação e aos riscos que os combatentes podem enfrentar. As cifras chamam a atenção de brasileiros, apesar do risco.

“Oi, pessoal, boa noite! Eu estou em Kiev agora, quero entrar no Exército da Ucrânia. Alguém pode me ajudar?”, escreveu um cidadão do Brasil em um grupo de brasileiros que vivem na Ucrânia, em 21 de abril.

Kiev não fornece dados oficiais sobre o número de brasileiros que lutam hoje junto aos militares ucranianos. Estimativas recentes, no entanto, apontam que até 100 cidadãos do Brasil podem estar incorporados à Legião Internacional.

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Rússia tem “Wikipedia” com mercenários brasileiros

No último dia 21 de maio, um grupo pró-Kremlin ligado à busca de estrangeiros que combatem ao lado de ucranianos anunciou a morte de mais um brasileiro em combate.

Identificado como Gabriel Ferreira Silva, o jovem natural de Ipojuca, Pernambuco, teria atuado ao lado de militares da 47ª Brigada das Forças Armadas da Ucrânia. Segundo informações extraoficiais, ele foi morto durante combates na região de Belgorod, cidade russa atacada recentemente por forças ucranianas.

O brasileiro foi dado como morto em um canal do Telegram – um dos muitos veículos que estão ligados ao Kremlin e que funcionam como uma espécie de banco de dados sobre mercenários que atuam pela Ucrânia.

É o caso da iniciativa Foreign Combatants, liderada por dois blogueiros de guerra russos que já chegaram a trabalhar em órgãos estatais da Rússia.

Nos primeiros meses de guerra, o Ministério da Defesa da Rússia chegou, até mesmo, a divulgar o canal, que também possui uma página semelhante à Wikipedia, com informações sobre mercenários que atuam ao lado dos ucranianos. No site, é possível ver uma ficha militar de soldados estrangeiros, com dados como nome, país de origem, experiência militar anterior e onde atuam na guerra da Ucrânia.

5 imagensBrasileiros também estão listados na "Wikipedia" russa de mercenáriosEntre eles, mortos, aqueles que ainda estão e combates e os que já saíram da UcrâniaCada perfil trás uma pequena biografia dos combatentesE informações sobre seu histórico na guerra da UcrâniaFechar modal.1 de 5

O ex-policial militar Maxuel Vukapanavo morreu, na Ucrânia, em fevereiro de 2024. Ele é um dos nomes presentes na “Wikipedia” russa de mercenários

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Brasileiros também estão listados na “Wikipedia” russa de mercenários

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Entre eles, mortos, aqueles que ainda estão e combates e os que já saíram da Ucrânia

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Cada perfil trás uma pequena biografia dos combatentes

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E informações sobre seu histórico na guerra da Ucrânia

Reprodução/Foreign Combatants

Ao todo, o site apresenta informações de 1.189 combatentes estrangeiros na guerra da Ucrânia, de 65 países diferentes. Do número, 58 soldados são brasileiros. Os dados, no entanto, englobam combatentes que continuam no conflito, detidos e cidadãos do Brasil que já morreram em combate, como o ex-policial militar Maxuel Vukapanavo.

Durante entrevista ao Metrópoles em 2023, o ex-agente da Polícia Militar de São Paulo revelou que deixou o Brasil em 2022 para lutar contra a tentativa russa de “escravizar uma nação soberana”. Ao lado de militares da Ucrânia e de combatentes estrangeiros, ele atuou na operação de mísseis antitanques, até ser morto durante combates em fevereiro do último ano.

Assim como Vukapanavo, mais 8 brasileiros já morreram no conflito desde 2022, segundo fontes ligadas à diplomacia nacional. Outros 14 cidadãos do Brasil continuam com status de desaparecidos na guerra que se estende há mais de três anos, sem solução diplomática.

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