A metamorfose de Pedro Janot: do varejo à aviação, um executivo em transformação

Pedro Janot, conhecido por ter sido o primeiro presidente da Azul Linhas Aéreas (AZUL4) e por liderar a entrada da Zara no Brasil, traçou uma carreira marcada por reviravoltas, saltos de fé e um apetite insaciável por desafios.

Em entrevista ao podcast Do Zero ao Topo, conduzido por Mariana Amaro, o executivo reconstrói sua trajetória — da juventude nas lojas Mesbla até os bastidores das maiores transformações do varejo e da aviação no país.

Entre conquistas e conflitos, Janot revela o que aprendeu ao construir (e reconstruir) empresas e culturas.

A virada começou quando ele trocou o chão da loja pelo setor de compras da Mesbla, um passo que o levou a conhecer de perto a engrenagem das indústrias.

“Durante cinco anos, fiz a vida de viajante, visitando fábricas, conhecendo estoques antigos para conseguir bons preços.”

O ambiente estava em plena transformação, e Janot também. De lá, foi convidado para um cargo de gerência de marketing nas Lojas Americanas, onde o trabalho beirava o insano. “Zé Paulo falava: ‘Janô, está escuro, mas não está tarde’ — e a reunião das 4 da tarde virava 11 da noite”, relembra, com humor.

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Esse ritmo frenético o levou à Richards, marca que sonhava ser o Ralph Lauren brasileiro. A entrada foi um convite do próprio Zé Paulo, e o desafio, imenso: uma empresa com duas lojas, processos desorganizados e estrutura amadora.

“Eu queria ser cabeça de formiga, não rabo de elefante”, diz, justificando o desejo de ter poder de decisão. Na Richards, Janot acabou virando CEO de fato, mesmo sem o título formal, e foi o grande responsável por levar a marca de duas para quase 40 lojas.

Do fiador da Richards ao embaixador da Zara no Brasil

Com o tempo, porém, o executivo percebeu que estava esgotado. “Eu era fiador de 10 lojas, o que mostrava o tamanho da minha responsabilidade”, conta. Quando o fundador Ricardo quis “pegar a bola para ele”, Janot entendeu que era hora de sair.

O chamado veio da headhunter Fátima Russell Reynolds: havia um processo para trazer a Zara ao Brasil, e ele preenchia os dois pré-requisitos: ter experiência com “trapos” e já ter feito uma startup. Aceitou.

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A missão começou com uma imersão de quase um ano na Europa. A cada trimestre, Janot voava à Espanha para apresentar resultados a ninguém menos que Amancio Ortega, fundador da Inditex. Mas o choque cultural logo bateu: “Os biquínis que mandaram serviam para fazer três aqui”, ironiza.

Além disso, a Zara insistia em vender roupas pretas para o Réveillon brasileiro. “Lá era inverno, aqui é praia. Eles não entendiam.” A virada aconteceu com a inauguração da loja no Iguatemi-SP, um símbolo de prestígio que atraiu a atenção da Faria Lima — e do mercado.

Com a consolidação da marca, vieram os embates. A matriz impunha limites, proibia entrevistas, centralizava decisões. Janot, inquieto por natureza, se rebelou. “Falei: não vou ficar nesse ambiente, não sou assim.” Saiu. E mais uma vez, o próximo desafio bateu à porta — dessa vez, de asas abertas.

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A travessia para o setor aéreo e a construção da Azul

Antes de embarcar no setor aéreo, ainda fez uma escala no Grupo Pão de Açúcar, onde foi vice-presidente de não-alimentos em um momento de crescimento do consumo nas classes mais baixas.

Mas o chamado seguinte viria para mudar sua vida — e o mercado brasileiro: “Um headhunter me ligou dizendo que havia um americano maluco querendo abrir uma companhia aérea no Brasil.” Era David Neeleman, fundador da JetBlue, e o projeto era a Azul Linhas Aéreas.

Pedro Janot, que liderou a entrada da Zara no Brasil, participa do programa Do Zero ao Topo (Divulgação/InfoMoney)

Neeleman tinha um trunfo raro: a dupla cidadania brasileira e americana, o que permitia abrir uma companhia aérea nacional mesmo sendo estrangeiro. Janot topou. E o que parecia improvável, virou realidade.

O know-how do executivo no varejo ajudou a montar uma operação centrada no cliente, com capilaridade de rotas regionais, frota moderna e um apelo emocional que nenhuma aérea havia tentado.

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Um executivo que reconstrói empresas — e a si mesmo

Pedro Janot sempre esteve nos bastidores de grandes viradas. “Eu era o cara que tocava banda”, diz, numa metáfora que resume seu estilo: liderar, mas sem a obsessão pelos holofotes.

No fundo, sua habilidade mais rara não era abrir lojas, fazer compras certeiras ou lançar marcas. Era transformar empresas com olhar clínico, foco em execução e coragem para contrariar a matriz — ou o chefe.

Entre episódios de sobrecarga, embates culturais e transformações profundas, Janot deixou sua marca em setores distintos.

Se hoje a Zara é referência de fast fashion no Brasil, e a Azul uma companhia aérea admirada por seu atendimento e rotas inteligentes, muito se deve ao olhar pragmático e à inquietude estratégica de Pedro Janot — um executivo que nunca teve medo de mudar de rota, mesmo quando o céu parecia nublado.

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