Impeachment no Corinthians: Augusto Melo enfrenta votação decisiva

O Conselho Deliberativo do Corinthians vota, nesta segunda-feira (26/5), o impeachment do presidente Augusto Melo. O mandatário foi indiciado pela Polícia Civil na investigação sobre o caso Vai de Bet, que apura possíveis irregularidades no contrato firmado entre a empresa de apostas e o Corinthians, em janeiro de 2024.

A data do impeachment já estava marcada antes do indiciamento de Augusto. O presidente do conselho deliberativo corintiano, Romeu Tuma Júnior, afirmou no início do mês que a votação ocorreria ao final das investigações policiais sobre o caso.

Uma primeira votação já havia sido marcada no início deste ano, porém, foi adiada. Na primeira tentativa, a reunião foi suspensa após o rito de admissibilidade passar por 126 votos a favor e 114 contrários à votação.

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Em uma entrevista coletiva concedida por Augusto Melo, junto com o advogado dele, Ricardo Cury, na última sexta-feira (23/5), o defensor questionou a divulgação do relatório policial na semana da votação do impeachment, alegando uma motivação política por trás da ação. Segundo o advogado, na votação desta segunda, será a primeira vez que eles terão de fazer uma “defesa ampla” em relação aos pontos investigados.

Apesar do momento aguardado pela defesa, Cury adiantou que o relatório policial “não tem nada” contra o cliente. “Não há individualização da conduta do presidente Augusto. É só ilação”, afirmou.

Caso a votação seja favorável ao afastamento do atual mandatário corintiano, uma segunda votação será feita com todo o quadro associativo do clube. Apesar do contexto conturbado e do indiciamento, o presidente deixou claro que não irá renunciar ao cargo.

Gaviões pede o afastamento

  • A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, publicou na última sexta uma nota em que pede o afastamento de Augusto Melo da presidência do clube.
  • Segundo o posicionamento da agremiação, a medida se faz necessária “para preservar a imagem do Corinthians”. A atual posição da Gaviões da Fiel mudou em relação à primeira votação do impeachment, quando a torcida defendeu Augusto Melo com gritos de “não vai ter golpe”.
  • O Metrópoles apurou que o grupo não deve se mobilizar para aparecer no Parque São Jorge nesta segunda, visto que na próxima terça-feira (27/5), o clube alvinegro tem jogo na Argentina. A Gaviões deve ir nas chamadas caravanas ao país vizinho.
  • Apesar disso, são esperados alguns torcedores na sede do clube.

Indiciamento

Além de Augusto Melo, outras três pessoas foram indiciadas pelos crimes de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro: dois ex-dirigentes do Corinthians, Marcelo Mariano e Sérgio Moura; e o responsável por intermediar a negociação, Alex Cassundé.

As autoridades apontaram no relatório policial uma série de contradições nos depoimentos dos envolvidos, especialmente no relato de Cassundé sobre a suposta intermediação do contrato da Vai de Bet com o Corinthians. Segundo o inquérito, a polícia tem certeza que essa negociação não foi intermediada por Cassundé, mas sim por outras três pessoas: Antônío Pereira dos Santos (conhecido como Toninho), Sandro dos Santos Ribeiro e Washinston de Araújo e Silva.

Cassundé conta em depoimento que tudo começou quando Sérgio Moura entrou em contato com ele no final de dezembro de 2023, pedindo para que procurasse patrocínio para o time feminino do Corinthians, visto que a chapa de Augusto Melo havia vencido a eleição para a presidência do clube e precisava começar a trabalhar nas questões do ano seguinte.

O intermediário, então, pesquisou em conversas com um amigo, buscas na internet e na inteligência artificial sobre como ter contatos, visto que ele não atuava na área de intermediação. Assim, ele teve a ideia de ir atrás da Vai de Bet, empresa de apostas que não figurava em nenhum patrocínio grande envolvendo clubes de futebol. Cassundé conta que achou um telefone fixo da empresa e começou o contato com um representante, chegando a elaborar uma proposta.

A informação sobre ter achado um telefone fixo da empresa já havia surpreendido a polícia, pois as autoridades estavam procurando um contato da empresa há muito tempo e, em todo esse período, os agentes encontraram apenas um e-mail de suporte.

Ainda segundo a sequência do depoimento, Cassundé então avisa Sérgio sobre o possível patrocínio. Sérgio, por sua vez, pede para que o homem fosse ao Parque São Jorge conversar sobre o assunto com Marcelo Mariano. A polícia diz que a história muda de versão a cada depoimento. Em um deles, os três (Marcelo, Sergio e Cassundé) estavam nesse encontro. Já em outros somente, dois dos três homens e, na versão de Augusto, o mandatário também estava presente: “Augusto se colocou no episódio”.

Apesar das diversas versões desse suposto encontro, a polícia acredita que Cassundé nunca esteve no Parque São Jorge durante o final de 2023. Para os investigadores, todos os depoimentos foram mentirosos. A conclusão das investigações possível a partir dos sinais do GPS do celular do indiciado no período.

Além das contradições neste primeiro encontro, as investigações também apontam algumas incongruências na cronologia da negociação e nas datas de eventos importantes, como as da assinatura do contrato. Neste aspecto, Augusto Melo afirmou na coletiva da última sexta que foi o último a assinar o documento que firmava o patrocínio e só o fez a partir da aprovação dos seus auxiliares jurídicos.

Os verdadeiros intermediadores

A Polícia Civil ouviu em depoimento os três apontados como os verdadeiros intermediadores. A versão trabalhada como a mais provável na intermediação do contrato entre Vai de Bet e Corinthians começa quando Toninho recebeu a missão de um dos diretores da empresa de apostas de conseguir contato com o clube alvinegro.

Ele então entrou em contato com o amigo Washington, esse sim com contatos dentro do clube. Uma reunião foi marcada no final de dezembro de 2023, época em que o contrato foi firmado. Sandro Ribeiro também participou dessa negociação.

Apesar da participação dos três, na hora de fechar contrato, Toninho disse que foi passado para trás pelo Corinthians. O clube afirmou que já havia cadastrado uma empresa para intermediar essa negociação. A empresa era a Rede Social Media Design. O dono? André Cassundé.

“Note-se que, com isso, o inquérito aparentava desvendar o porquê a versão especialmente de Alex [Cassundé] havia sido tão desconexa da realidade. Simples, não fora ele o intermediário”, diz o relatório policial

Na coletiva de imprensa realizada na sexta-feira (23/5), Augusto Melo negou saber da atuação de intermediários no contrato. Ele explicou que ouviu falar do Alex Cassundé – peça central no relatório policial e apontado como um dos pivôs do esquema criminoso – pela primeira vez ao usar um estúdio da agência dele para gravar com alguns influenciadores de blogs segmentados.

Na negociação com a Vai de Bet, contou que conversou com Marcelo Mariano – outro indiciado no esquema – no final de dezembro de 2023, nas alamedas do Parque São Jorge, visto que, por não estar empossado, não tinha uma sala fixa ainda. Nesta conversa, Marcelo falou de Cassundé e sobre um encontro com o presidente da empresa de apostas, que estaria em São Paulo naquela época.

A partir deste momento, Augusto afirmou que deixou a negociação sobre a responsabilidade de Marcelo e só ficou sabendo de outro intermediário depois. O contrato foi assinado no início de janeiro.

Transferência para o PCC

Um relatório da Polícia Civil anterior já havia indicado que parte da comissão paga pelo Corinthians à empresa que intermediou o patrocínio da Vai de Bet, no valor de R$ 1.074.150, foi transferida para a conta bancária de uma empresa ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Após uma sequência de operações, a investigação identificou que o dinheiro recebido pela intermediadora foi parar nas contas da empresa UJ Football Talent, apontada pela investigação como um dos braços do PCC no futebol. Cassundé nega conhecimento dessas movimentações.

A relação da empresa com a facção foi descrita em delação premiada de Antonio Vinícius Gritzbach, que foi assassinado a tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro passado. Segundo o delator, o empresário de futebol Danilo Lima de Oliveira, conhecido como Tripa, tem participação na UJ Football Talent — ele é tratado pela polícia como suspeito de lavar dinheiro do PCC.

De acordo com o inquérito, o Corinthians foi a vítima de um esquema que desviou dinheiro do clube.

“Parece-nos nítido, destarte, que aqueles que deram causa ao desvio de dinheiro dos cofres do Sport Club Corinthians Paulista se utilizaram das tradicionais estratégias de lavagem de dinheiro para, não só introduzir os valores no sistema financeiro e distanciar o capital ilícito da sua origem, visando, assim, evitar uma associação direta com a infração antecedente” escreveu o delegado Tiago Correia, responsável pelo caso.

Agora com o indiciamento dos envolvidos, a polícia acredita que o dinheiro foi repassado à UJ Football Talent “possivelmente para fazer frente a contraprestações e compromissos pendentes da direção [do clube]”.

“Não se trata de coincidência, muito menos de mero acaso, o dinheiro ter saído das contas de um renomado clube brasileiro para ser abocanhado por uma afamada agência de assessoria esportiva”.

À época do relatório policial, o Corinthians se manifestou em nota oficial. “O Sport Club Corinthians Paulista informa que, até o momento, não há qualquer demonstração de autoria relacionada aos fatos mencionados. O presidente do clube reafirma seu total apoio às investigações em andamento, bem como a todas as iniciativas que visem apurar eventuais envolvimentos do crime organizado no futebol brasileiro”, diz o texto.

O clube afirma ser vítima das movimentações investigadas e que “não possui controle sobre o que terceiros fazem com valores recebidos em decorrência de contratos firmados”.

Na época do relatório, a empresa Lion Soccer Sports, da qual Danilo Lima de Oliveira é sócio, afirma que ele “nunca integrou, sob qualquer forma, o quadro societário ou de gestão da empresa UJ Football”. O comunicado também diz que o empresário “não possui qualquer envolvimento com os fatos sob investigação, tampouco figura como parte no processo”, além de não conhecer “os elementos que compõem o referido caso”.

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