Após perder dois bebês, mulher se torna terapeuta e ajuda mães em luto parental: ‘Acolhimento da dor’


Luciana Coutinho de Melo, de Campinas (SP), conta sobre como foi lidar com as perdas e como a falta do acolhimento amplia o sofrimento. Lei do Luto Parental foi sancionada pelo presidente Lula. Após perder dois bebês, mulher se forma terapeuta e ajuda mães em luto parental
Luciana Coutinho de Melo é mãe de quatro filhos: duas meninas, que a acompanham, e dois meninos, que morreram ainda bebês. Depois de viver o luto por duas vezes, a moradora de Campinas (SP) fez uma transição de carreira, se tornou terapeuta, e agora ajuda pais e mães que passam por essa difícil experiência.
“Eu sinto que é um primeiro passo para que essas mães e esses pais possam se sentir mais vistos e acolhidos. Não é o suficiente, porque cada dor é única, mas eu acho que é um primeiro passo para a gente evoluir para esse acolhimento da dor”, diz.
Avançar no acolhimento e no direito de famílias que vivem tal luto será possível com a lei que institui a Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental.
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O texto sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva garante que famílias que enfrentam a perda de um filho — durante a gestação, no parto ou nos primeiros dias de vida — recebam tratamento psicológico e acolhimento estruturado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Além da assistência médica e psicológica, a lei também altera a legislação de Registros Públicos para permitir que os natimortos sejam oficialmente registrados com o nome escolhido pelos pais.
Luciana mostra anjinho que era lembrancinha de recém-nascido de um dos filhos que morreu
Reprodução/EPTV
Luca e Gabriel
Luciana conta que viveu gestações de Luca e Gabriel cheia de amor, mas que vieram com notícias muito difíceis.
A primeira perda foi em 2011. Com seis meses de gestação, ela descobriu que Luca tinha uma condição rara e logo depois o filho faleceu. “Eu fiquei três dias em trabalho de parto”, conta.
Para lidar com a dor, contou com o apoio da empresa que trabalhava à época, quando conseguiu antecipar as férias. “Eu pude viver um pouco esse luto, nesse um mês de férias, para elaborar essa dor que é imensa”.
Luciana conta que deu à luz Giovana, em 2013, e em 2016 teve a gestação de Gabriel.
“Ele também tinha uma condição rara, mas o Gabriel foi até as 37 semanas de gestação e ele viveu por 24 horas. No caso do Gabriel, eu tive a minha licença maternidade, por conta do tempo gestacional dele”, diz.
Luciana Coutinho de Melo perdeu dois filhos em duas gestações diferentes, se formou terapeuta e ajuda famílias em luto parental
Reprodução/EPTV
Suporte psicológico
Enquanto a lei que acabou de ser sancionada prevê o suporte psicológico, nem sempre mães, mesmo em serviços privados, tiveram esse acolhimento. Luciana recorda que a falta de preparo para esse momento também foi impactante.
“No caso do Luca, eu não me lembro de ter recebido visita de assistente social. Quando eu me despedi do Gabriel, sim, a gente teve uma assistência ali, mas foi muito mais dolorosa do que se eu não tivesse tido. Porque falta um acolhimento. Ninguém fala dessa dor, desse luto”, diz.
Transição de carreira
Luciana conta que sua formação inicial foi no direito, onde atuou como advogada por 10 anos. Há nove ela fez uma transição de carreira e se tornou terapeuta.
“Hoje atuo como mentora de travessias da alma, acompanhando mulheres em momentos de ruptura, dor ou recomeço e construí uma metodologia a partir da minha formação em psicologia transpessoal, com especializações em terapias integrativas, constelação familiar e radiestesia”, explica Luciana.
O que muda na prática?
Com a nova lei, o SUS deverá oferecer:
Apoio psicológico especializado para mães, pais e familiares;
Exames para investigar causas da morte fetal ou neonatal;
Acompanhamento nas gestações futuras;
Espaços reservados nas maternidades para acolher pessoas enlutadas;
Treinamento de equipes de saúde e criação de protocolos de cuidado.
A proposta também visa estabelecer um padrão nacional de acolhimento para hospitais e maternidades, como já ocorre em iniciativas pioneiras no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), no Hospital Mater de Ribeirão Preto (SP) e na Maternidade de Alta Complexidade do Maranhão.
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