Indígenas sediados em antigo prédio do INSS em Canoas já contam com luz e água

Passados 20 dias desde que entraram em um antigo prédio desativado da Previdência Social, em Canoas, os Caingangues e começam a reforçar a estrutura da “retomada” proposta quando chegaram na área.

Retomada completou três semanas com melhoria na estrutura para os indígenas no local



Retomada completou três semanas com melhoria na estrutura para os indígenas no local

Foto: Paulo Pires/GES

Hoje, os indígenas sediados no prédio contam, mesmo que improvisadamente, com água e também com energia elétrica, necessárias até pela presença de dez crianças que permanecem com a tribo.

Conforme o cacique Dorvalino Cardoso, o tempo foi passando e soluções surgiram. A água acabou garantida por meio de um caminhão-pipa que abasteceu um tanque. Já a energia foi cedida por um vizinho simpático à causa.

Dorvalino aponta que a simpatia da comunidade que vive e trabalha em torno do prédio é grande, já que o terreno em questão servia apenas para acumular lixo e animais mortos nos últimos anos.

“Eles gostam porque sabem que nada de mau está acontecendo”, explica. “Estamos ajeitando este lugar aos pouquinhos para criar nossa reserva. Só é um processo lento, mas vamos conseguir.”

E até como forma de retribuir o acolhimento, Dorvalino avisa que o líder espiritual Pedro Garcia preparará um ritual de “limpeza”, necessário para afastar o mau-olhado da área.

“É preciso deixar o tempo firmar primeiro, mas queremos organizar uma cerimônia para limpar o terreno. Será aberta à comunidade, então qualquer pessoa poderá participar. Faz bem para todos”, afirma.

Segundo o pajé, a cerimônia com canto, ervas e fumaça para afastar energias negativas faz parte do processo de retomada.

“Preciso que o tempo firme para coletar as ervas, aqui mesmo, na vegetação local”, esclarece. “Mas vamos fazer uma coisa bonita para afastar a energia ruim.”

Goteiras

Embora com estrutura melhor, os Caingangues buscam adequar o espaço às necessidades. Um problema surgido com a chegada da chuva diz respeito aos buracos no teto do prédio da Previdência.

Já durante a primeira chuva, foi possível perceber o problema. Graças à doação de lona, o problema foi solucionado, mas não por muito tempo, já que a água voltou a cair do teto devido à quantidade de chuva.

“Estamos em busca de doações de telhas para consertar o telhado, porque só com a lona não dá para ficar. Molha do mesmo jeito”, explica Dorvalino. “É ruim até por causa das crianças.”

Atualmente, há dez crianças vivendo no antigo prédio abandonado da Previdência Social, em Canoas



Atualmente, há dez crianças vivendo no antigo prédio abandonado da Previdência Social, em Canoas

Foto: Paulo Pires/GES

Retomada

Foi no dia 6 de maio que um grupo formado pelas etnias Caingangues e Xokleng ocupou um imóvel em frente ao número 3.010 da Avenida Santos Ferreira.

O caso já é acompanhado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e pelo Ministério Público Federal (MPF).

Quem acompanha a “retomada” em Canoas é Moisés Lompa, conhecido na Funai do Rio Grande do Sul por atuar como interlocutor entre os direitos dos povos indígenas e as autoridades do Governo.

À reportagem ele informou que por se tratar de um antigo prédio do Governo Federal em situação de abandono, o processo de retomada é avaliado como seguro.

“Canoas não tem uma reserva adequada destinada à população indígena”, frisa. “Embora a cidade conviva com indígenas há anos.”

O processo, no entanto, é moroso.

“Isso deve levar mais de um ano para que se garanta alguma movimentação”, avalia. “Nós vamos acompanhando a situação enquanto isso.”

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