Mesmo com guerra comercial e “ameaça asiática”, indústria calçadista deve crescer até 2,2% em 2025

Em 2024, a indústria calçadista brasileira ultrapassou os números registrados em 2019, na pré-pandemia. O crescimento de 4,3% representa os 929 milhões de pares produzidos. E será que em 2025 o setor vai seguir crescendo? Os cenários internacional e nacional foram analisados nesta terça-feira (27), pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

Priscila e Lélis | abc+



Priscila e Lélis

Foto: Reprodução Abicalçados

A divulgação da Análise de Cenários foi apresentada pela coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, e pelo doutor em Economia e consultor setorial Marcos Lélis.

Lélis fez um panorama da economia global passando, caso, pelo cenário dos Estados Unidos que afeta demais países, incluindo o Brasil.

“O índice de incerteza política comercial teve um salto maior do que o visto na pandemia, isso após as políticas de Donald Trump. Reflete no mercado financeiro e de que forma? No câmbio. Chama atenção o movimento da Argentina frente ao dólar. Eles controlavam o câmbio, tinham regime de certo controle na saída de divisas e soltaram recentemente, ou seja, câmbio entrou em regime de maior volatilidade. No Brasil, o câmbio chegou a bater acima de R$ 6, no final de 2024 e começo de 2025, e depois ajusta e corre próximo ao México. O dólar pode estar entrando em crise por conta das medidas de Trump. A taxa de juros dos EUA não vai cair”, explica o doutor em Economia.

Sobre a economia brasileira, Lélis destaca que apesar dos juros altos, seguimos em crescimento. “No ano devemos chegar perto de 2,5% de crescimento, a média do que acontece nos últimos anos. E o que explica a economia não desacelerar? Tivemos uma safra muito boa, o RS teve quebra, mas o País de forma geral teve safra muito boa. Outro efeito importante foi da renegociação do crédito consignado, o que baixou um pouco a taxa de juros, tendo maior consumo e efeito de renda de salários. O IPCA-15, divulgado hoje (27), mostra que estamos conseguindo controlar a inflação, que ela deve começar a baixar. O puxa a inflação? A gasolina e os alimentos, que são difíceis de controlar com juros. Depois da entrada do novo presidente do Banco Central (Gabriel Galípolo) houve uma mudança, ele atua com juros e controle cambial, antes era só juros.

Enquanto isso, a previsão para o RS é de crescimento de 1,5%.

Efeitos no setor calçadista

Priscila lembra que o Brasil é o 4º maior produtor de calçados do mundo, sendo o maior do Ocidente, segundo dados de 2023 (versão mais recente do mapeamento). A “invasão” asiática segue sendo uma grande preocupação do mercado calçadista verde-amarelo.

A análise da Abicalçados mostra que ao contrário de muitos países que tiveram queda em 2024, a China fechou o ano com 3% de crescimento. “Não é uma taxa significativa para China, mas precisamos lembrar que foi ano um em que praticamente todos fecharam ano em queda, incluindo Brasil. Nos primeiros meses de 2025 as exportações acumuladas na China tiveram crescimento de 1,1% , isso é quase 6% abaixo do que exportavam em 2019, isso demonstra que há espaço pra crescer e que irão buscar isso”, alerta.

De acordo com Priscila, a China tem compensado a queda de embarques para a América do Norte ganhando espaço com as exportações em outros países, como Paraguai e Argentina, ambos do Mercosul. “Quando olhamos para o Brasil que tem uma economia um pouco mais fechada vemos que sofreu menos volatilidade e vem sendo amparado pelo aumento de consumo das famílias. Temos que olhar para  o Vietnã, Indonésia, que também exportam para os Estados Unidos e foram sobretaxados em 10%, não é como a retaliação a china, mas é um aumento e perda de competitividade e eles começam a buscar alternativas de mercado”, detalha.

Lélis, lembra que esta prática vem sendo adotada pela China desde o primeiro governo Trump. “A diferença é que agora temos outros mercados fazendo isso como Vietnã e Indonésia, que vem entrando muito bem na Argentina e mesmo no Brasil. Temos que olhar para os ‘outros asiáticos’, como vão fazer? O preço do calçado vai subir, a atividade econômica dos EUA vai cair mais este ano, o consumo ano que vem deve ser menor, e como irão recompor isso? Precisamos ‘botar a lupinha’ não apenas na China”, completa Lélis.

Perspectivas para 2025

O relatório da Abicalçados aponta crescimento em termos de produção de 1,4 a 2,2%, um ritmo próximo ao que se deve observar na economia brasileira. “O que faz sentido já que a maior parte é destinada ao mercado interno, lembrando que estamos crescendo sob base recomposta e devemos ter quase 950 milhões de pares produzidos”, diz Priscila.

Em relação apenas ao mercado interno, o aumento deve ser um pouco superior ao que devemos ver na economia brasileira e nas exportações o crescimento deve ficar entre 2,2% e 4,4% no fechamento do ano. “Em um cenário otimista devemos crescer 4% neste ano em exportações”, avalia a coordenadora.

 

 

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