PIB do 1º trimestre deve superar estimativas iniciais. E não só pela safra agrícola

O retrato da atividade econômica do Brasil no primeiro trimestre deste ano, que será divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (30), deverá mostrar um cenário de força, com alta de 1,3% a 1,6% no Produto Interno Bruto (PIB), segundo especialistas. O percentual está acima das expectativas projetadas no início do ano, que era de crescimento em torno de 0,8% a 1% para o período.

A alta será puxada pelo agro, que surpreendeu pela safra recorde de grãos, pelo mercado de trabalho aquecido, que impulsiona a demanda por serviços, e pela atividade industrial, que trouxe sinais de produção em alta. 

Isso deveria ser uma boa notícia, mas o resultado é uma a pressão sobre a inflação, que segue longe da meta, e um provável adiamento do início do corte de juros para o início do ano que vem, a fim de manter a demanda sob controle.

1º trimestre aquecido

Segundo Luis Otavio Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partners, a expectativa era de que o primeiro trimestre deste ano registrasse uma leve desaceleração da economia, já que o resultado do PIB do 4º trimestre de 2024, que mostrou alta de 0,2%, veio abaixo do esperado, que era um crescimento de 0,5%. 

Mas os números de produção industrial, do comércio e dos serviços mostraram aquecimento nestes setores. As evidências para esta leitura foram divulgadas em dados setorizados nas últimas semanas. 

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), veio com alta de 1,3% no comparativo do primeiro trimestre deste ano com o último do ano passado. Os dados da produção industrial mostraram alta de 1,2%, e os do varejo indicaram crescimento de 0,8% em março.

“Tínhamos a expectativa de que a economia iria desacelerar [no primeiro trimestre], mas o que vimos com os dados de produção industrial, comércio e serviços foi que o PIB não seria feito só da safra de soja, que era o que esperávamos”, avalia Leal. “Mesmo tirando os dados do agro do IBC-Br, ainda assim teríamos um PIB bom para o período”, afirma.

Safra recorde de soja surpreende

A produção agrícola costuma levar os resultados do PIB do primeiro trimestre nas costas, devido à sazonalidade das culturas. Mas, ainda assim, a safra recorde de soja – que deve ter alta de 13,3% em comparação à safra passada – trouxe surpresa no resultado do indicador. 

“O setor agro veio com uma força maior que o previsto. Era esperado vir forte, pela safra de grãos, mas os dados de soja surpreenderam”, afirma Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset.

Segundo o IBGE, o resultado da soja é explicado pela alta intensidade de chuva nas áreas de plantações.

Indústria não se curva aos juros

Mas, além do agro e do impacto positivo do setor no PIB do primeiro trimestre, outro indicador que surpreende e fala um pouco mais sobre o ritmo da economia é o da produção industrial, destaca Leal. Segundo ele, este setor é o primeiro a sofrer com os juros altos, porque isso impacta nos investimentos e no custo do crédito. “Mas o consumo continuou forte, o que aumentou os pedidos e a produção”, avalia. 

Este consumo elevado pode ser explicado por medidas econômicas, como o aumento do salário mínimo, a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas do INSS, e o mercado de trabalho aquecido – quanto mais dinheiro no bolso, maior o consumo e a demanda por produção.

Leal também aponta a hipótese de que a safra recorde de soja pode ter pressionado a indústria por meio da demanda por mais caminhões para fazer o transporte da produção agrícola e pela renovação de máquinas agrícolas, já que o agricultor está mais capitalizado. 

“Quando olhamos para os setores da produção industrial, vemos que um dos que mais cresceram foi o de bens de capital, onde estão inseridas as máquinas agrícolas”, afirma.

Serviços também em alta

Outra surpresa na atividade econômica é o desempenho do setor de serviços, afirma Thiago Xavier, economista e analista da Tendências Consultoria. No começo do ano, a leitura que se fazia era de que as condições do mercado de trabalho iam se tornar menos aquecidas, o que iria impactar no consumo e na demanda por serviços. 

“Achávamos que a ocupação teria redução na margem do desemprego, esperávamos redução da massa de renda das famílias. Os componentes do consumo apontavam uma redução menor. Achávamos que os serviços vinham perdendo força, mas não foi o que aconteceu”, diz.

Segundo o Goldman Sachs, oito dos dez principais setores de vendas no varejo registraram aumento nas vendas em março.

Xavier analisa, ainda, o aumento no indicador de serviços de comunicação e tecnologia, que traz indícios de que o comércio online está com espaço para crescer. 

Para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, o dinamismo nos serviços ainda colhe frutos da reabertura plena da economia e da expansão do consumo das famílias. Ele destaca também que o mercado de trabalho continua aquecido, com mais de 654 mil empregos formais gerados no primeiro trimestre, segundo o Novo Caged.

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Inflação pressiona juros

Mas a forte atividade econômica do primeiro trimestre não deve se sustentar ao longo do ano, avalia Eduardo Grübler, gestor de multimercados da Asset Management da Warren. 

Ele aponta que a inflação tem se mantido alta e está projetada pelo próprio governo acima da meta, de 4,5%. “Isso significa uma manutenção de juros mais altos por mais tempo, porque eles costumam ter um efeito mais demorado para começar a impactar nos preços”, avalia Grübler. 

A projeção do mercado, de acordo com o boletim Focus, é de inflação em 5,5%. Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, destaca que este índice está se mantendo estável, apesar de alto, o que pode sugerir sinais de desaceleração devido aos juros altos. “Essa é a quinta redução consecutiva nas estimativas, refletindo uma perspectiva de menor pressão inflacionária”, avalia.

Frente a este cenário de economia aquecida, os economistas mantêm a projeção de que o ano deve encerrar com juros em 14,75%, com ciclo de corte adiado para o início de 2026.

“É consenso que o Banco Central parou os juros em 14,75%”, afirma Marianna Costa. Esses dados que mostram maior atividade econômica atrasam ainda mais o início do corte de juros. Por isso, a grande discussão é quanto tempo a taxa vai ficar neste patamar. Existe a percepção de que vai haver espaço para o início do ciclo de fortes no final de 2025, começo de 2026”, afirma.

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PIB para o ano

O Boletim Focus desta segunda-feira (26) mostra a estimativa do mercado de que o PIB feche o ano com alta de 2,14%. Há uma semana, a estimativa era de alta de 2,02%.

Na análise por trimestres, a expectativa, segundo Leal, é de que a atividade econômica perca o fôlego, com um PIB no segundo trimestre de 0,3% e, no terceiro trimestre, próximo a zero.

Isso deve ocorrer devido aos efeitos tardios dos juros altos na economia, avalia Sidney Lima. “Embora o início de 2025 tenha vindo acima das expectativas, os efeitos defasados da política monetária mais restritiva devem começar a pesar. A elevação da taxa Selic possui efeito inibitório sobre o crédito e o consumo, além da desaceleração já observada na confiança de empresários e consumidores. Esse enfraquecimento deve começar a se manifestar de forma mais clara a partir do segundo trimestre, com maior intensidade no segundo semestre”, afirma.

Ao fim do ano, o cenário da economia deverá ser de expansão, ainda que mais moderada, sustentada pela agropecuária e pelo consumo, diz Lima.

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