‘Quem não tem culpa no cartório tem que defender a CPMI do INSS’, diz Tabata Amaral

No segundo mandato como deputada federal, a paulistana Tabata Amaral é uma das mais jovens e atuantes parlamentares do Congresso. Nos últimos dias, o nome dela passou a ser cogitado para a relatoria de uma possível Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS.

Ela afirma que a CPMI precisa garantir as investigações, doa a quem doer. “Na hora que a gente descobrir que tem alguém do Centrão envolvido, a gente vai ter coragem de dar prosseguimento? Eu tenho. E eu quero estar lá para garantir que isso aconteça e que não seja só uma arma para proteger os aliados”, garante a parlamentar, ao programa InfoMoney Entrevista.

Segundo ela, “quem não tem culpa no cartório tem que defender a criação da CPMI”. Mas a deputada diz não ter certeza ainda se a CPMI vai ser de fato instalada, porque esbarra em gente de vários partidos, gente poderosa, que quer abafar o caso.

Plano Nacional de Educação

“Foi para transformar a educação que eu me candidatei pela primeira vez 7, 8 anos atrás, e ao longo desses últimos 6 anos e pouco, eu tive a alegria de conseguir vitórias importantes”, afirma Tabata.

Para o Plano Nacional de Educação, que define as diretrizes para os próximos dez anos, ela diz que precisa ter um olhar transversal.

Segundo a parlamentar, no Plano, é preciso pensar nos desafios que conectam todas as áreas, como ensino médio, educação técnica, primeira infância e valorização de professores, dentre outros temas.

PL da Anistia

“Você acha que quem arquitetou, financiou, planejou um golpe, uma tentativa de assassinato, deveria receber algum tipo de perdão numa democracia?” – A deputada Tabata Amaral é enfática em responder que “não”.

Ela reforça que é importante separar os envolvidos em dois grupos: os ditos comuns que estavam ali na Praça dos Três Poderes; e os que estavam arquitetando, financiando.

Segundo ela, o interesse maior dos políticos no Congresso é proteger os políticos, mas isso não tem respaldo da população.

“A Câmara não pode sair perdoando crime de político, suspendendo ação de político, olha o perigo, né? A gente está aqui falando de INSS, de corrupção, se a gente acha que é normal a Câmara perdoar crime de político, aí acabou o combate à corrupção nesse país,” alerta Tabata.

Eleições 2026

A deputada diz que não será candidata ao governo de São Paulo e deve apoiar o candidato do PSB, Márcio França. Segundo ela, o PSB tem a responsabilidade de apresentar novas lideranças para o país.

“Por que não se preparar para um dia ter um candidato a presidente da República, como a gente teve no passado com Eduardo Campos? Para a gente sair dessa mesmice, para a gente olhar para a frente e construir o futuro”, argumenta.

Por isso, ela diz que deve sair candidata a deputada federal e trabalhar para aumentar a bancada do partido na Câmara.

Confira os principais trechos do InfoMoney Entrevista com a deputada federal Tabata Amaral:

InfoMoney – Existe uma articulação no Congresso para instalar uma CPMI do INSS. E o nome da senhora vem sendo citado como uma das possíveis indicações para a relatoria. Em que o Congresso pode colaborar nessa investigação?

Tabata Amaral – Quando a gente olha para esse escândalo, a gente está falando talvez de um dos maiores escândalos de corrupção da nossa história recente. Tanto pelo volume, são bilhões de reais que foram roubados, mas também pela crueldade. A gente está acostumado a ver escândalos de corrupção em que se tira dinheiro da saúde, da educação, dinheiro nosso, mas esse, ele tem uma crueldade a mais porque são pessoas específicas, com histórias, com luta, que foram roubadas ao longo dos anos.

Esse é um caso que ilustra muito o quanto a corrupção é apartidária nesse país, ou melhor, suprapartidária. Infelizmente, está aí da esquerda à direita.

Tem um grupo que se instalou ali no INSS, de acordo com o que a gente está vendo na investigação, na época do governo Temer, que foi quando essas fraudes começaram. Esse grupo se apoderou desse negócio e fez crescer exponencialmente durante o governo Bolsonaro. E aí troca o governo de Bolsonaro para Lula e esse grupo consegue se manter lá.

E aí você vê quantos governos de matizes ideológicas diferentes e um mesmo grupo instalado ali nas entranhas do poder para roubar as pessoas. O que aconteceu de diferente agora? A Polícia Federal e a Controladoria Geral da União (CGU), que são órgãos também do governo, fizeram um trabalho independente, trouxeram à tona tudo isso para dizer, olha, tem uma coisa que está acontecendo há seis anos que é muito grave, estão roubando os aposentados do nosso país.

Por que eu venho defendendo a CPMI? Porque a gente tem que sim devolver o dinheiro de quem foi roubado, mas tem que garantir que o Brasil não vai seguir sendo o país da impunidade, como infelizmente ele é.

É muito importante que a gente faça o debate político com as pessoas, que é o papel da CPMI, para explicar o que aconteceu. Quem é que sabia e não fez nada? Não é só quem roubou, é quem viu e não se manifestou. Como que esse grupo foi se mantendo ao longo dos anos? Até porque a gente já viu num passado recente escândalos de corrupção e investigações sérias serem usadas como arma política.

Precisamos de uma CPMI para a garantir que investigações, mas também que a responsabilização pública vai até a última consequência. Na hora que a gente descobrir que tem alguém do Centrão envolvido, a gente vai ter coragem de dar prosseguimento? Eu tenho. E eu quero estar lá para garantir que isso aconteça e que não seja só uma arma política para criticar ou para incriminar alguém que sim tem culpa no cartório, mas para proteger os aliados.

IM – Existiu uma expectativa, em Brasília de que a CPMI fosse algo para já e agora está se falando em começar a funcionar somente em agosto. Será que esse assunto ainda vai ter a força que tem agora lá em agosto?

TA – O que está em debate hoje é se a CPMI vai acontecer ou não. E aí o que eu venho trazendo para a mesa é a estratégia que a gente vê hoje. Tem uma parcela ligada ao bolsonarismo, à extrema direita, que está ignorando, escolhendo ignorar o fato de que esse negócio cresceu e se instalou no governo Bolsonaro para usar isso como uma arma política contra o governo Lula, que inclusive foi onde a Polícia Federal pôde trabalhar com independência. E aí qual vem sendo a reação de algumas alas do governo? Não, o que eles estão fazendo é um absurdo, eles querem usar isso como arma política, não pode ter CPMI.

Eu acho que isso é um erro estratégico. Quem não tem culpa no cartório, quem quer de fato que o negócio seja investigado, tem que defender a criação da CPMI. A CPMI não pode ser uma reivindicação apenas de uma ala do bolsonarismo que está vendo ali uma oportunidade político-eleitoral.

Se você me perguntar, Tabata, sinceramente, você acha que ela vai ser instalada? Eu não sei, porque esse negócio esbarra em gente de tanto partido, gente tão poderosa, que se a gente, – e não é só a gente parlamento, é sociedade e imprensa -, não continuar pressionando, o que eles querem é abafar o caso mesmo.

IM – Tem se falado da possibilidade da senhora ser relatora, houve alguma conversa nesse sentido?

TA -A única pessoa que falou comigo foi o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), que chegou a defender numa conversa com jornalistas, e eu conversei com ele da forma transparente como eu estou falando com vocês, que obviamente eu ficaria muito honrada, tenho coragem, estou pronta, vamos pra cima. Mas ele tem a mesma leitura que eu, que a gente não está nesse estágio ainda, a gente ainda está num momento de convencer pessoas da esquerda e de direita sérias de que a CPMI não pode ser usada pelo bolsonarismo por razões eleitorais, e aí tem um segundo momento que é daqueles que não fazem parte desse esquema falar, a gente vai ter que brigar muito pra que ela seja instalada. A CPMI não interessa a boa parte dos meus colegas, e aí chegou o terceiro momento de entender quem é a melhor pessoa para presidência, quem é a melhor pessoa para relatoria. A gente precisa fazer esse debate, tem um longo caminho de convencimento e de pressão política para que não ponham panos quentes em mais essa questão.

IM – A senhora tem desempenhado um papel muito importante à frente da Comissão Especial do Plano Nacional de Educação. Qual é o principal desafio hoje para a educação no Brasil, na sua visão?

TA – A educação é minha vida, eu estou aqui por conta das oportunidades que eu tive na educação, desde bolsas de estudo que eu recebi, aos professores que me incentivaram. E a educação é a razão pela qual eu estou na política. Foi para transformar a educação que eu me candidatei pela primeira vez há sete, oito anos atrás, e ao longo desses últimos seis anos e pouco, eu tive a alegria de conseguir vitórias importantes. Desde conseguir aprovar o pé de meia, talvez o projeto mais estruturante que eu já tenha escrito, que hoje está permitindo que quatro milhões de jovens, por conta dessa poupança, dessa ajuda financeira, possam sonhar com uma faculdade, com um curso técnico; a lei de absorventes nas escolas; o marco do ensino técnico; a lei de conectividade; o novo Fundeb. Boas batalhas e boas vitórias também.

Mas agora com o PNE e com essa responsabilidade de presidir a comissão, que está escrevendo o plano, as diretrizes para a educação, para os próximos 10 anos, eu sinto que o que vai estar sendo exigido de mim é um olhar ainda mais transversal. Então, todo o trabalho que eu fiz voltado para o ensino médio, para a educação técnica, voltado para a primeira infância, agora a gente tem que olhar e pensar quais são os desafios que conectam todas essas áreas. Porque no plano de educação a gente fala desde conectividade, até valorização de professores, até educação de surdos, são todos os temas da educação, literalmente.

IM – Um assunto que está dominando a agenda do Congresso nos últimos dias é a tentativa da oposição de emplacar uma lei de anistia. A senhora acredita que os líderes e o presidente Hugo Motta vão conseguir barrar essa tentativa da oposição?

TA – Anistia virou uma palavra muito grande que significa muita coisa para gente muito diferente. Um primeiro ponto: o que aconteceu no dia 8 de janeiro no nosso país é muito grave. A tentativa de golpe, a tentativa de assassinato, que a gente sabe que hoje de fato foi encaminhada, foi para a rua. De Alexandre de Moraes, Lula, Alckmin, tudo isso é muito grave, tudo isso é crime.

Então a primeira coisa. Você acha que quem arquitetou, financiou, planejou um golpe, uma tentativa de assassinato, deveria receber algum tipo de perdão numa democracia? Não. Segunda coisa, o que os parlamentares estão defendendo quando eles falam de anistia, de perdão? É complexo, mas tem dois grupos principais.

Tem aqueles que querem, como sempre, proteger os políticos, proteger os poderosos e tem aqueles que de fato tem uma preocupação com os ditos comuns que estavam ali na Praça dos Três Poderes vandalizando tudo. E aí é importante separar esse grupo porque são sentimentos bem diferentes. Quando a gente fala de Bolsonaro, Braga Neto, de quem estava arquitetando, financiando, sabia de tudo, o sentimento da população, toda a pesquisa mostra isso, é que essas pessoas não deveriam ser perdoadas.

Aqui é onde eu acho que tem um interesse maior dos políticos, porque é político protegendo político, mas eles têm dificuldade porque não tem um respaldo da população, que é um pouco do que a gente está vivendo. A gente teve uma votação de um projeto escandaloso, inconstitucional, em que a Câmara, você viu isso, em 24 horas, votou lá um perdão para Ramagem, Braga Neto, Bolsonaro e aí, obviamente, o STF falou esse negócio é inconstitucional! A Câmara não pode sair perdoando crime de político, suspendendo ação de político, olha o perigo, né? A gente está aqui falando de INSS, de corrupção, se a gente acha que é normal a Câmara perdoar crime de político, aí acabou o combate à corrupção nesse país.

Do outro lado, a gente tem pessoas que acham, que quem estava ali na Praça dos Três Poderes fez vandalismo, fez coisa errada, tem que ter algum tipo de pena, mas tinha gente que não sabia o que estava acontecendo, que não participou do financiamento, essas pessoas não deveriam ter uma pena tão alta. Isso não interessa aos meus colegas, porque não são políticos, são pessoas comuns, muitas vezes, e é por isso que esse projeto eles não colocaram para votar, mas tem o sentimento da população de que tem algumas penas que estão muito altas, e aí o próprio STF está entendendo isso e está recuando nessas penas para serem menores, para serem trocadas por serviço e por aí vai.

IM – A senhora tem um projeto que amplia a licença-paternidade e o outro que cria o Pix Pensão. Num ambiente tão conflagrado, com um Congresso com perfil conservador, tem espaço para aprovar esse tipo de projeto?

TA – Tem. E tem que ter. Eu não vou aceitar que não tenha. Porque esse é um dos incômodos que eu tenho. Ficar debatendo a anistia de Braga Neto, Bolsonaro, Ramagem, isso é bom pra quem na população? Tirando essas pessoas que eu acabei de citar. Pra ninguém.

A gente precisa debater coisas que, de fato, mudam a vida das pessoas. Segurança pública. Quem é que consegue andar na rua com o celular na mão hoje em dia? Ninguém.

Vamos debater uma reforma para que a gente possa modernizar o Estado? Usar a tecnologia, valorizar os bons servidores, para os serviços serem bons? Vamos debater com qualidade de educação? Vamos falar de ensino técnico? Não é disso que querem falar. Mas é isso que pode mudar a vida das pessoas. E aí, olhando para experiência que eu tive nos últimos anos, eu venho conseguindo aprovar projetos bons, estruturantes, com apoio da esquerda e da direita.

Mas a minha maior dificuldade é que esses projetos levam três, quatro anos para serem aprovados. E olha que eu sou vencedora de prêmio por ser recordista de aprovar projeto. Mas porque o que é votado na calada da noite é um projeto horroroso, que aumenta o número de deputados, é outro projeto que quer livrar a pele de outro deputado, é só esse tipo de projeto.

Por exemplo, o Pé de Meia funciona, foi escrito por vários economistas, melhora o desenvolvimento econômico do país. Levei quatro anos para aprovar.

A lei de distribuição de absorventes é barata, é para nenhuma menina perder aula. Quatro anos para gente conseguir a implementação plena. Marco do ensino técnico, que é uma demanda dos nossos jovens, que traz inclusão. Quatro anos para aprovar o marco do ensino técnico. E, de novo, eu lembro que uma vez eu reclamei, porque eu estava na sanção do marco do ensino técnico, e eu, esse projeto é muito bom, e eu levei quatro anos. Aí um senador falou, Tabata, e o meu, que eu levei quarenta?

Eu sei que eu vou aprovar esses projetos. O Pix Pensão não tem custo nenhum para o Estado. Licença paternidade, a gente tem cinco dias, é menor do que o carnaval. Olha que loucura. Cinco dias, como é que a mãe se recupera em cinco dias? Como é que o pai aprende a cuidar daquela criança, constrói o vínculo? Tanto estudo mostrando que é bom para mãe, que consegue voltar para o mercado de trabalho, é bom pro pai, que melhora a saúde mental, é bom para criança, que fica mais protegida, mas não é prioridade no Brasil.

A gente está há quase 40 anos sem votar a regulamentação da licença paternidade. Vamos votar. Eu não me chamo Tabata se a gente não votar esse negócio.

IM – O governo anunciou mais um corte de gastos, chegou a anunciar um aumento de IOF e teve que recuar. A senhora acredita que tem ali uma bateção de cabeça, uma dificuldade de encontrar o rumo da economia?

TA – Acredito, está todo mundo vendo isso. E essa instabilidade é muito ruim para o nosso país. Esta questão da taxação do IOF, com recuo, passa um sentimento para todo mundo de que a gente está sem direção, de que a gente não sabe o que esperar do dia seguinte. E aí tem uma coisa, quando a gente fala de contas: ajuste fiscal. Nesse nível federal, a gente sempre pode ficar buscando um ajuste, um corte, uma economia, mas as nossas contas, especialmente quando a gente olha para trajetória da nossa dívida pública, estão numa situação muito preocupante.

Não são pequenos ajustes que vão nos tirar dessa, é a gente ter coragem de fazer grandes debates. Quais são os grandes debates que a gente poderia estar fazendo? Tem um que está acontecendo e que a gente tem que acompanhar pzra ver o resultado, que é o da reforma do imposto de renda. Eu estou lá nessa comissão.

É um debate super importante. A gente tem um país em que o ultra rico paga menos imposto do que o pobre e menos imposto do que ele pagaria nos Estados Unidos, que é o país mais capitalista do mundo. É muito injusto.

Você vai aumentando a cobrança de imposto até um determinado nível, depois você vai caindo. Então, tem ali uma oportunidade de a gente tornar a tributação mais justa. E aí tem uma coisa que eu estou defendendo que é vamos ter coragem de cobrar imposto de quem é muito rico nesse país.

A gente tá falando aqui de quem tem renda de um milhão de reais por mês e que não paga nem 10% de imposto, enquanto quem recebe muito menos paga ali próximo de 27,5%. Agora, não é isso que o Congresso está querendo levar essa discussão. Tem que ter coragem.

Inclusive eu estou defendendo isso. Qualquer coisa que a gente consiga arrecadar mais tem que ser usada para diminuir o imposto sobre o consumo, que é muito alto nesse país. Isso é estruturante.

IM – A senhora se coloca como candidata ao governo de São Paulo?

TA – O nosso partido, o PSB, tem um pré-candidato ao governo de São Paulo que é Márcio França. A gente sabe que não é uma eleição fácil. Mas ele está preparado, já foi governador, tem time. Então, hoje o PSB tem um pré-candidato que é o Márcio que vai ter todo o meu apoio.

IM – A senhora participou de uma campanha extremamente atípica no ano passado. Teve cadeirada, soco, gente saindo sangrando de debate. A senhora, inclusive, foi alvo de uma fake news envolvendo a memória do seu pai. O que a gente pode vislumbrar em termos de clima para as eleições do ano que vem?

TA – Primeiro, eu queria provocar quem está nos acompanhando a entender por que a eleição de São Paulo foi do jeito que foi. Eu me lembro de um debate específico que foi o do Flow, em que meus adversários se saíram especialmente mal.

Pablo Marçal (ex-candidato a prefeito de São Paulo) deixou muito claro que não sabia do que estava falando, que não tinha respeito pelas pessoas. O prefeito não conseguiu se controlar, atacou uma eleitora, defendeu tirolesa para pessoa com deficiência. Foi um debate que eu olhei para o lado e falei não, não é possível. Essas pessoas não têm respeito por quem mora na nossa cidade. E aí terminou o debate e eu falei não, não é possível.

A gente estava crescendo, eu muito desconhecida ainda, então tinha um desafio de me apresentar. E aí nos últimos três segundos do debate, um assessor do Marçal dá um soco num assessor do Nunes. E ali eu entendi tudo. E eu falei, é isso.

Eles sabem que quem acompanhou o debate viu que eles não têm a menor condição de serem prefeitos da nossa cidade. Mas eles também sabem que muita gente não viu o debate. E só vai ver o que repercutiu no WhatsApp e na rede social.

Então na hora que tem um soco, planejado ou não, eles conseguem o que eles queriam. Ninguém ia falar da tirolesa que o prefeito defendeu para pessoa cadeirante. Ninguém ia falar do despreparo e desrespeito do Marçal. Todo mundo só ia compartilhar o vídeo do soco.

E aí eu saí daquele debate, inclusive falando uns palavrões que repercutiram bastante, mas porque meu sentimento foi esse. É um grande circo para que as pessoas não vejam o que está acontecendo, não vejam o que está em jogo, para que o eleitor seja manipulado.

Marçal fez inúmeros anúncios, ou seja, ele colocou muito dinheiro para que o seu conteúdo chegasse em mais pessoas, e isso nunca foi declarado. É dinheiro sujo. É caixa 2, no mínimo. Uma outra coisa que ele fez foi promover uma competição no Discord, em que ele pagou com dinheiro vivo as pessoas pra divulgarem o seu conteúdo. Isso é criminoso. Não é à toa que ele está inelegível agora.

No mundo físico você tem regra. 30 segundos de réplica. 45 segundos de tréplica. Fez um material de campanha, tem que declarar quem é que pagou, como pagou. Só que tem o mundo digital, que é ainda mais importante, que está sem regra nenhuma.

E aí está tendo essa desvirtuação do debate físico para seguir a lógica do mundo digital, porque não tem regra, é terra sem lei. Então, enquanto for uma terra sem lei, as eleições vão sendo distorcidas. É por isso que eu defendo regulamentação da rede social.
Não de conteúdo, mas de algoritmo.

Eu quero saber se a plataforma está direcionando mais um candidato do que o outro. Porque isso é ilegal. Eu quero saber se tem dinheiro sujo entrando na plataforma e não sendo declarado. E a gente não está conseguindo enfrentar isso hoje.

The post ‘Quem não tem culpa no cartório tem que defender a CPMI do INSS’, diz Tabata Amaral appeared first on InfoMoney.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.