Como a revolução Ozempic afeta as empresas listadas na Bolsa brasileira?

Ozempic, medicamento composto por semaglutida, utilizado para tratamento de diabetes e para emagrecimento, da Nova Nordisk

A popularidade dos medicamentos à base de GLP-1, como o Ozempic, remédio para diabetes que tem sido usado para emagrecimento, já começou a gerar mudanças expressivas no setor de saúde e pode impactar diversas empresas listadas na Bolsa brasileira, segundo relatório da XP Investimentos enviado ao mercado no fim da noite de terça-feira (11).

Com a expiração da patente do Ozempic no Brasil, prevista para julho de 2026, o setor farmacêutico deve enfrentar maior concorrência com a entrada de genéricos, pressionando preços e margens, enquanto os planos de saúde podem se beneficiar da redução de custos médicos a longo prazo.

Os analistas da XP estimam que 2,5 bilhões de adultos no mundo estejam acima do peso, número que pode chegar a 3,3 bilhões em 2035. Esse crescimento tem impulsionado a demanda por medicamentos para obesidade e diabetes, que podem alcançar US$ 80 bilhões em vendas até 2028, conforme dados da corretora. O Ozempic, fabricado pela Novo Nordisk, domina esse mercado, mas a concorrência tende a aumentar à medida que novos medicamentos são lançados.

No Brasil, a legislação exige que genéricos tenham um desconto mínimo de 35% em relação aos medicamentos de referência, mas, na prática, a queda nos preços pode ser ainda maior. Isso significa que, com a chegada de versões mais acessíveis do Ozempic, a demanda pode crescer, beneficiando farmácias e ampliando o acesso ao tratamento.

A Hypera (HYPE3) é uma das empresas que pode ser favorecida com essa mudança, segundo os estrategistas. Apesar da possível pressão sobre as margens no curto prazo devido a investimentos iniciais, a empresa tem potencial para capturar um volume maior de vendas ao longo do tempo. A XP observa que, para a Hypera, a oferta de um medicamento à base de semaglutide seria uma oportunidade positiva porque adicionaria um segmento de rápido crescimento ao seu portfólio.

Mas eles alertam que os impactos potenciais na P&L (lucros e perdas) da empresa dependeriam da estratégia de produção adotada. Isso quer dizer que, caso a Hypera opte pela produção própria do medicamento, seria necessário um maior investimento inicial (Capex), com margens melhores à medida que a produção aumenta. Por outro lado, se a empresa decidir seguir uma parceria, adotaria um modelo mais leve em ativos, mas com margens menores em comparação à produção interna.

“Em ambos os casos, investimentos em marketing seriam necessários e gradualmente diluídos à medida que as vendas aumentam. Dada a posição financeira atual da empresa e seu foco em produtos de marca, acreditamos que a segunda opção parece mais provável”, explicam os analistas.

A XP também ressalta que a Biomm (BIOM3), biofarmacêutica especializada em medicamentos biológicos, garantiu uma parceria com a farmacêutica indiana Biocon para desenvolver, produzir e fornecer medicamentos à base de semaglutida no Brasil por meio de sua fábrica em Nova Lima (MG). No entanto, a Biomm ainda precisa lidar com a aprovação da Anvisa e a comercialização.

Já no setor de planos de saúde e hospitais verticalizados, a XP projeta que a maior acessibilidade ao tratamento da obesidade pode ajudar a reduzir custos médicos de longo prazo, o que traria efeitos positivos marginais para essas companhias.

Os analistas dizem que a concorrência deve se intensificar com a entrada de novos medicamentos, o que pode alterar a dinâmica do setor e ampliar o alcance dos tratamentos. Farmácias e laboratórios devem ser diretamente impactados, enquanto os planos de saúde podem ver benefícios indiretos.

Anvisa pode ser empecilho

Com o fim da exclusividade da Novo Nordisk em 16 de julho de 2026, farmacêuticas como a EMS já se preparam para lançar versões genéricas e biossimilares, o que pode reduzir os preços e ampliar o acesso ao tratamento. A Hypera Pharma, a já citada Biomm e a Cimed também demonstram interesse em desenvolver esses medicamentos, aproveitando a oportunidade para expandir seus portfólios. Além disso, a patente da liraglutida, presente nos medicamentos Victoza e Saxenda, expira em março de 2025, abrindo caminho para novas opções no mercado.

A chegada de genéricos pode impactar ainda mais os preços. No Brasil, o Ozempic custa entre R$ 600 e R$ 1.300, mas considerando o desconto médio de 68,31% aplicado a genéricos, o valor pode cair para aproximadamente R$ 192 a R$ 320.

Mas o mestre em finanças pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Godoi Filho, acredita que se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exigir a retenção de receita para medicamentos análogos ao GLP-1, o lucro das farmacêuticas não vai ser tão alto quanto os analistas da XP esperam. “Se a retenção de receita for implementada, podemos ver uma desaceleração no volume de vendas, já que a barreira regulatória tende a restringir o acesso indiscriminado. Isso pode frustrar as expectativas mais otimistas do mercado em relação ao crescimento desse segmento”, diz.

Atualmente classificados como tarja vermelha, esses remédios exigem prescrição médica, mas são facilmente adquiridos sem receita, resultando em uso indiscriminado e potenciais riscos à saúde.

A medida, apoiada por sociedades médicas, quer fortalecer o controle e reduzir os casos de automedicação, especialmente para fins estéticos. Dados da plataforma Pharmaceutical Market Brazil (LQVIA) indicam que a venda desses medicamentos cresceu 663% nos últimos seis anos, totalizando mais de R$ 4 bilhões em 2024. A Anvisa deve avaliar a proposta ainda neste semestre.

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