“Não tem condição”, diz Luiza Trajano a Galípolo sobre juros altos

A reunião entre o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), nesta sexta-feira (14/2), foi marcada por pedidos pela queda da taxa básica de juros (Selic).

Depois do encerramento de sua palestra na Fiesp, Galípolo ouviu perguntas e comentários dos empresários que acompanhavam o evento. Uma das intervenções que mais chamaram atenção foi a de Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, gigante do varejo nacional.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a primeira desde que Galípolo assumiu o comando da autarquia, o colegiado aumentou a Selic em 1 ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano. Foi o quarto aumento consecutivo dos juros básicos no país.

A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Segundo o próprio Galípolo, a medida deve desaquecer a economia brasileira nos próximos meses, embora o país, provavelmente, ainda vá conviver por algum tempo com uma inflação acima da meta.

“Cada vez que aumenta 1 ponto nos juros não é R$ 40 bilhões que aumenta no déficit, é R$ 80 bilhões”, disse Trajano, falando diretamente a Galípolo.

“Quero falar aqui em nome do setor varejista. O varejo é o primeiro que sofre porque é o primeiro que demanda, é dele que sai tudo. A pequena e média empresa não aguentam mais sobreviver com isso. Não tem condição. São elas que geram o emprego”, afirmou a líder varejista.

“Queria pedir para ele [Galípolo], por favor, para que tenha uma outra forma. Essa forma não está dando certo. A gente tem que pensar fora da caixa. Esse pacto tem que existir”, prosseguiu Trajano.

“[Quero] Pedir para ele, por favor, não comunicar mais que vai ter aumento de juro porque aí já atrapalha tudo desde o começo”, completou a presidente do conselho do Magazine Luiza, arrancando risos dos demais empresários que acompanhavam a reunião.

O que disse Galípolo

Antes da intervenção de Luiza Trajano, Galípolo disse que o aperto monetário colocado em prática pelo BC, elevando a taxa básica de juros para 13,25% ao ano, deverá começar a surtir efeito em breve, desaquecendo a economia e contendo a pressão inflacionária. A elevação dos juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.

“Passamos a enxergar uma pressão inflacionária mais alta e gabaritamos as razões para iniciar um ciclo de alta de juros”, prosseguiu o presidente do BC, em referência ao caso brasileiro.

“A autoridade monetária interrompeu o ciclo de flexibilização monetária. A partir da reunião de dezembro, a autoridade fez um movimento claro para mover a taxa de juros para um patamar restritivo com alguma segurança.”

Em sua fala aos empresários da indústria, o chefe da autoridade monetária afirmou que “a política monetária fará o seu efeito primeiro na atividade econômica e depois na inflação corrente”.

“É sempre esperado que a autoridade monetária tenha uma atuação preventiva e que, para além disso, ela tenha uma função de reação assimétrica. É esperado que ela tenha uma agressividade maior nos momentos de altas de juros e mais parcimônia no consumo dos dados. É importante que a autoridade monetária não reflita essa volatilidade para não replicá-la”, observou Galípolo.

“Você deve observar um pouco dessa combinação. A atividade tende a reagir primeiro antes dos preços e da inflação corrente. Você pode ter uma combinação ainda entre uma inflação fora da meta e uma atividade que vem desacelerando”, completou.

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