Escolhas fashion de Fernanda Torres geram debates na web

Fernanda Torres vive um dos momentos mais emblemáticos da própria carreira atualmente. Premiada no Globo de Ouro 2025 como Melhor Atriz em Filme Dramático pela atuação em Ainda Estou Aqui, a artista se consolida não apenas pelo talento, mas também pela forma como traduz personalidade e profissionalismo por meio da moda.

Em tapetes vermelhos e eventos de divulgação do longa, Torres optou por uma elegância contida e sofisticada para refletir a seriedade da produção, que retrata um período delicado da história brasileira: a ditadura militar. No entanto, a escolha de looks assinados por grifes estrangeiras, como a Chanel, tem repercutido negativamente não só pelo local de origem da marca, mas também pelo o que ela representa no meio fashion.

fernanda torres chanel desfile semana de alta costura de paris - metrópoles
Esta é mais uma peça da Chanel usada pela atriz

 

Entenda

  • Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro 2025 como Melhor Atriz e tem usado a moda para reforçar sua identidade e profissionalismo, optando por um estilo elegante e contido para refletir a seriedade do filme Ainda Estou Aqui.
  • A atriz tem escolhido grifes internacionais, como Chanel e Carolina Herrera, o que gerou críticas pela ausência de marcas brasileiras, apesar de ocasionalmente incorporar acessórios de designers nacionais.
  • O uso recorrente da Chanel levanta questionamentos sobre o legado controverso da marca, especialmente pelo envolvimento de Coco Chanel com o nazismo.
  • A ausência de estilistas brasileiros em eventos globais reacende o debate sobre a valorização da moda nacional e a dependência de padrões estrangeiros para conquistar reconhecimento internacional.

 

O que os visuais de Fernanda Torres comunicam

No Globo de Ouro, o vestido preto usado por Fernanda Torres, e assinado pelo estilista Olivier Theyskens, com gola alta e abertura discreta nas costas, foi recebido com elogios na web: “Discreto e elegante, condizente com o estilo da atriz e com a personagem do filme”, comentou um internauta no Instagram.

Sobre os visuais sóbrios da atriz, a consultora de branding e imagem Deniza Gurgel ressalta: “As escolhas de Fernanda e do stylist dela, o Antônio Frajado, são feitas de forma muito estratégica, inteligente e simbólica para respeitar a história do filme e da personagem que a Fernanda interpreta”.

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Fernanda Torres com vestido assinado pelo estilista Olivier Theyskens

 

Entretanto, após ela ter usado um modelo azul marinho da grife brasileira Alexandre Herchcovitch no Festival de Veneza, que ocorreu antes da premiação, a expectativa de que ela vestisse outras etiquetas nacionais para a divulgação do filme já havia crescido entre o público: “Infelizmente não usou marcas de roupas brasileiras recentemente, isso é triste para a moda nacional”, escreveu outra usuária.

“Esta cobrança das pessoas é compreensível. É como se houvesse uma explosão de sentimento nacionalista por estar vendo o filme ganhar repercussão, a Fernanda com uma possibilidade de ganhar um Oscar, e aí fica essa sensação de que a gente tem que aproveitar esses momentos de glória para mostrar tudo de incrível que a gente tem no Brasil. Mas a gente tem que lembrar que a gente ainda está falando de um negócio. Fernanda, ao usar essas grandes marcas internacionais, acaba também criando mais espaços de divulgação para o filme, pois elas têm mais chance de aparecer nesses espaços de divulgação”, explica Gurgel.

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Visual assinado por Alexandre Herchcovitch

 

A beleza está nos detalhes

Para a entrevista no programa Jimmy Kimmel Live!, que ocorreu no mês passado, Nanda usou um vestido preto da grife Carolina Herrera. Porém, foram os detalhes que fizeram a diferença neste look: o scarpin Pamela 85 Black, da marca brasileira Alexandre Birman, estava nos pés da estrela, e as joias da Sauer, uma etiqueta também nacional, se fizeram presente nas orelhas e no braço de Torres.

“É bacana observar que ela tem tentado, aparentemente, trazer pelo menos os acessórios de designers nacionais. Ela está fazendo um equilíbrio estratégico para garantir esse posicionamento de marca para poder aproveitar todos os espaços possíveis de visibilidade”, aponta a profissional.

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Fernanda Torres no programa Jimmy Kimmel Live!

 

Chanel x Nanda

Dentre todos as festividades, a atriz, que vem se firmando como referência de estilo no circuito internacional, tem apostado, mais recentemente, em uma grife francesa em particular: a Chanel. Em eventos como o Santa Barbara International Film Festival e a estreia de Ainda Estou Aqui em Roma, na Itália, ela apareceu com modelitos assinados pela maison. Além disso, Torres também marcou presença no desfile de alta-costura primavera/verão 2025 da label.

A preferência por Chanel não passou despercebida, claro, e levantou ainda mais questionamentos sobre a ausência de marcas brasileiras em um momento que poderia servir de vitrine global para a moda nacional. E a dúvida que fica é: será que ela vai insistir na escolha e vai usar um look da marca no Oscar 2025?

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Nanda no Santa Barbara International Film Festival

 

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Torres em look Chanel em Roma, na Itália

 

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Visual luxuoso da casa francesa

 

Embora a sofisticação atemporal da Chanel dialogue com a abordagem discreta que Fernanda Torres escolheu para representar o filme, é importante lembrar que o histórico da grife torna a escolha, por um lado, contraditória.

Fundada por Coco Chanel, cujo envolvimento com o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial é amplamente documentado em livros como Dormindo com o Inimigo: A Guerra Secreta de Coco Chanel, do escritor americano Hal Vaughan (1928-2013),  a maison carrega um legado controverso que se choca com a narrativa de Ainda Estou Aqui, um longa que trata das violências do regime militar no Brasil.

Esse contraste levanta reflexões sobre como escolhas estéticas podem carregar significados políticos e históricos muitas vezes não intencionais. Ao optar por Chanel, a equipe da artista — e a própria Fernanda Torres — reforça também uma tradição de atrizes brasileiras que se rendem ao prestígio das grifes europeias em vez de promoverem a moda nacional — mesmo que seja para fazer relacionamentos.

Em um período em que estilistas brasileiros buscam maior reconhecimento no mercado global, a presença de um nome como Torres vestindo designs nacionais poderia servir como um impulso valioso. No entanto, surge outro questionamento: seria então um problema da indústria — em requisitar certos padrões de moda para os atores ganharem notoriedade — ou da atriz em se render às regras estrangeiras para conquistar o que muitos brasileiros não conseguiram até hoje?

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Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello no Festival de Veneza em 2024

 

Marcas nacionais que a coluna gostaria de ver Fernanda Torres usando no Oscar

Com a cerimônia do Oscar marcada para 2 de março, a expectativa em torno do look que a atriz usará no maior evento do cinema mundial cresce. Para a coluna, cinco etiquetas nacionais seriam apostas ideais para ela apostar. Confira as nossas escolhas e o porquê:

 

Ilca Maria Estevão – Martha Medeiros

Entre os nomes que poderiam vestir Fernanda Torres no Oscar 2025, Martha Medeiros se destaca pela excelência no trabalho manual e pelo compromisso com a valorização da moda artesanal brasileira. Com décadas de experiência no mercado, a etiqueta construiu uma trajetória sólida, baseada na sofisticação do crochê e da renda renascença, técnica tradicional nordestina que ela ajudou a levar para o mundo da alta moda.

Além da estética refinada, a designer também é reconhecida pelo impacto social. O trabalho de Medeiros vai além da criação de vestidos impecáveis, pois envolve a capacitação de rendeiras e artesãs, garantindo que a moda brasileira seja não apenas admirada, mas também um instrumento de geração de emprego e renda.

Para Fernanda Torres, um vestido assinado pela estilista seria uma escolha simbólica. Seguindo a proposta de um look sóbrio, discreto e elegante, a peça traria a riqueza dos detalhes feitos à mão, exaltando a matéria-prima e a criatividade do design nacional.

vestido Martha Medeiros - metrópoles
Martha Medeiros

 

Júlia Marques – Fauve

A Fauve seria uma escolha interessante para Fernanda Torres no Oscar por diversos motivos. Um deles é que a marca dialoga com a sofisticação clássica que Fernanda tem adotado nos tapetes vermelhos, mas sem perder um olhar moderno. O outro é que a estética da marca explora modelagens diferenciadas e experimentações têxteis, o que poderia resultar em um vestido marcante e autoral.

O filme Ainda Estou Aqui carrega um forte peso histórico e emocional, e a Fauve, com a abordagem artística e sensorial que tem, poderia traduzir esse simbolismo através de um look que vai além do estético e que comunicaria uma narrativa.

Na imagem com cor, foto de look da marca Fauve - metrópoles
Fauve

 

Igor Tx – Ângela Brito

A escolha de Igor é a marca Ângela Brito, que se destaca pelo olhar único sobre a moda brasileira. As criações da grife combinam elegância e fluidez, sem perder a identidade festiva do país. O uso de modelagens volumosas e cortes amplos confere um toque moderno e, ao mesmo tempo, clássico, refletindo a dualidade entre tradição e inovação.

Além disso, Brito é uma designer negra, e essa escolha poderia ressaltar um olhar mais sensível sobre questões raciais, um tema que foi pouco explorado no filme Ainda Estou Aqui, mas que permeou o contexto da ditadura abordado na trama.

Na imagem com cor, foto de look da marca Ângela Brito - metrópoles
Ângela Brito

 

Hebert Madeira – Neriage 

Para Hebert, a Neriage seria uma aposta certeira para Torres no Oscar. A marca é reconhecida por possuir modelagens fluidas e cortes refinados, que traduzem elegância sem perder a contemporaneidade.

Os vestidos da etiqueta possuem uma estética atemporal, mas carregam um frescor que os torna ideais para grandes eventos. Escolher Neriage significaria não apenas valorizar o design nacional, mas também apresentar um toque minimalista e sofisticado durante a premiação, mantendo a estratégia de moda discreta que Fernanda adotou durante toda a temporada de divulgação de Ainda Estou Aqui.

Na imagem com cor, foto de look da marca neriage - metrópoles
Neriage

 

Pedro Ângelo – Lino Villaventura

Pedro, por sua vez, apostaria em Lino Villaventura, um dos grandes nomes da moda brasileira. O designer e Fernanda Torres têm uma relação de longa data, e a atriz já vestiu as criações do estilista em 2004.

Para o Oscar 2025, um look da coleção primavera/verão 2025 traria um contraponto interessante à sequência de visuais sóbrios usados até agora. Tons claros, bordados brilhantes e uma base volumosa garantiriam um impacto visual à altura da ocasião, além de representar a festividade e o brilho do Brasil neste momento tão significativo para a atriz e o cinema nacional.

Na imagem com cor, foto de look da marca Lino Villaventura - metrópoles
Lino Villaventura

 

O dilema entre a representação e a sofisticação internacionalizada é uma discussão antiga na moda. Se, por um lado, Chanel simboliza a elegância clássica — porém, problemática—, por outro, a moda brasileira é um reflexo autêntico da cultura e identidade do país. A escolha de Torres para o Oscar permanece um mistério, mas fica a esperança de que, independentemente da etiqueta, sua presença continue gerando discussões sobre o que vestimos e o que isso representa — pois isso é, de fato, moda.

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