O fim do PSDB (por André Gustavo Stumpf)

O Partido da Social Democracia Brasileira governou o Brasil por dois mandatos consecutivos, nos governos Fernando Henrique Cardoso. Governou o estado de São Paulo por mais de 28 anos e nos dois longos momentos teve influência direta sobre a história do país. Ao longo do mandato presidencial tucano, o crescimento da economia brasileira foi de 2,3% ao ano. Ocorreram inúmeras privatizações que precederam a modernização de diversos setores antes controlados pelo Estado, como as telecomunicações. Ninguém imagina que o PT tivesse a capacidade de privatizar o imenso e rico setor de telecomunicações e colocar o sistema de telefones celulares em pleno funcionamento no país.

No governo, FHC terminou com a hiperinflação (que, antes de seu governo, chegou a alcançar de 1.000% ao ano). Acabou a loucura de os preços aumentarem todos os dias. Houve a criação de programas sociais pioneiros, como o Bolsa-Escola, o Auxílio-Gás e o Bolsa-Alimentação (posteriormente unidos em um só programa, o Bolsa Família, pelo Governo Lula), além do início da reforma do Estado, com a implantação de Agências Reguladoras, do Ministério da Defesa, da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Controladoria Geral da União (CGU). A implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal foi um marco na regulação do uso de verbas públicas em todos os níveis administrativos do país.

Neste período, também, ocorreu uma enorme e profunda reforma na educação brasileira. Foi criado o sistema de vestibular para todo o país. Melhorada a fiscalização das instituições de ensino superior e permanente preocupação com o aumento da taxa de alfabetização. O governo obteve notável resultado, também, com a criação dos remédios chamados genéricos, que não utilizam a marca de fantasia do produto. Com isso, os remédios ficaram muito mais baratos de um dia para o outro. A vida do pobre se facilitou muito. Por último, houve significativo avanço na área de petróleo, a Petrobras voltou a ser autônoma e o governo vendeu vários de seus ativos, dispendiosos e deficitários.

Na política internacional, o país transitou bem porque o presidente Fernando Henrique, um scholar, fluente em inglês, francês e espanhol, gostava de fazer viagens, conversar e trocar ideias com líderes de outros países. Desenvolveu uma amizade próxima com Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos. Foi convidado e aceitou desfrutar de um fim de semana em Camp David, casa de campo do presidente dos Estados Unidos. Em momento grave, o governo de Washington auxiliou o Brasil na obtenção de empréstimos para consolidar o plano real e manter o país com capacidade de quitar suas dívidas. Foi um período tranquilo de baixa inflação, crescimento razoável e tranquilidade política, ressalvados os escândalos provocados pela militância do PT, que criou o famoso “Fora FHC”, sem maiores consequências, além das retóricas.

Depois do PSDB, entrou em cartaz o governo Dilma Rousseff que governou o país por quase dois mandatos. Foi interrompido pelo impeachment. A inflação, no período disparou, o crescimento da economia caiu, e a administração não conseguiu avançar em nenhum setor. Estacionou nos discursos ideológicos e não construiu nada de substancial para a sociedade. Foi um tempo perdido, mas de fortes emoções políticas. Até que a presidente, depois um patético discurso no Senado Federal, teve seu mandato interrompido. Até hoje o PT tenta criar a narrativa de que houve um golpe parlamentar. Mas o processo correu no Congresso Nacional, com amplo direito de defesa, presidido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, nomeado pelo presidente Lula para compor a mais alta corte de justiça brasileira.  Hoje, ele é ministro da Justiça do atual governo.

Historiadores tentam explicar como impérios acabam, países terminam e civilizações naufragam. As explicações são diversas. Edward Gibbon, por exemplo, diz em seu monumental Declínio e queda do Império Romano, que o fenômeno do fim de Roma, decorreu de vários motivos, entre eles, o triunfo da barbárie e da religião, algo semelhante ao que ocorreu no Brasil nos últimos anos. No futuro, alguém vai estudar como o grupo de políticos qualificados, que ousaram romper com o poderoso PMDB de Orestes Quércia, colocaram o país no rumo da social democracia europeia, mas não conseguiram fazer sua mensagem chegar a maioria dos brasileiros. O partido perdeu o poder por não saber dialogar com a história, as tradições e as características dos brasileiros. O PSDB caminha para se aninhar no ninho do PSD, ainda neste semestre. E aí se dissolver. Vai perder o pouco que lhe restou de originalidade. O sonho social democrata terminou cedo no mundo latino-americano.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])

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