Direita e esquerda após a denúncia contra Bolsonaro (Leonardo Barreto)

A denúncia feita pela PGR contra o ex-presidente Jair Bolsonaro é um evento importante para a preparação da eleição de 2026, abrindo opções estratégicas para os partidos políticos e para o próprio governo.

Para a esquerda, o julgamento será uma oportunidade para tentar se reafirmar como única e verdadeira portadora de compromissos democráticos. Com dificuldades de mostrar resultados, pode se tornar irresistível tentar repetir em 2026 o discurso majoritário de 2022.

Note: o mesmo aconteceu nos EUA, com Kamala Harris despistando quando perguntada sobre os resultados do governo Joe Biden e forçando a mão na ameaça que Donal Trump representaria para a democracia caso fosse eleito, como acabou sendo.

Fala recente do presidente Lula sobre o tema foi sintomática nesse sentido: “se eles forem inocentados de tentarem matar o presidente, o vice e o ministro do STF, que possam andar livres”. Lula busca ser a vítima principal do processo dizendo, nas entrelinhas, “que a democracia sou eu”.

A esquerda buscará, portanto, renovar a ameaça à democracia como agenda para melhorar sua condição em 2026. Se ela puder ampliar esse julgamento e arrastar outras figuras da direita para o debate, como governador paulista Tarcísio de Freitas, por exemplo, será ótimo para ela.

No caso da direita, o que está colocado como questão é até onde vão ficar com Bolsonaro. Considerando que é 100% garantido que o ex-presidente será condenado, é preciso saber o quanto irão criticar o STF, o quanto vão insistir na anistia dos participantes do 08/01 e se vão empreender de fato um ataque contra a Lei do Ficha Limpa.

Não são cálculos políticos fáceis. Apelar contra a lei da ficha limpa, por exemplo, única inciativa popular transformada em lei, seria uma espécie de suicídio político diante de eleitores que buscam na direita uma opção mais ética.

Além disso, o nível de apoio empenhado ou não a Bolsonaro ditará o risco de acontecer aqui que a esquerda deseja, isto é, associar a suposta tentativa de golpe a todo mundo que não os apoie.

Hoje, pode-se dizer que a maior parte da centro-direita brasileira gosta da ideia de Bolsonaro fora do pleito em 2026. Dar apoio ao ex-presidente, mas sem chegar ao ponto de ir para a cadeia com ele, como o PT fez com Lula, é equilíbrio que esse grupo político deve buscar.

Leonardo Barreto é Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB).

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