Foragida, mulher do policial Rogerinho destruiu provas e ocultou bens

São Paulo — Um dos argumentos usados pela Justiça para decretar a prisão de Danielle Bezerra dos Santos — casada com um policial civil e viúva de um gerente do Primeiro Comando da Capital (PCC) — foi o fato de ela ter destruído e ocultado provas que poderiam ser usadas contra seu atual companheiro, que está preso por corrupção. Danielle é uma das 12 pessoas denunciadas pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) por ligação com a facção criminosa e acaba de se tornar ré no processo sobre o caso.

O atual marido de Danielle é o agente de telecomunicações da Polícia Civil Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, apontado pela Polícia Federal (PF) como integrante de uma organização criminosa, composta por agentes públicos, que presta serviços para a maior organização criminosa do país. Rogerinho aparece na delação feita à Corregedoria da Polícia Civil pelo corretor de imóveis Vinícius Gritzbach, assassinado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, oito dias após ser ouvido.

Na decisão em que decretou a prisão de Danielle e de mais 11 réus, o juiz Paulo Fernando Deroma de Mello, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), afirmou que a acusada precisa ser mantida atrás das grade, para garantir o andamento das investigações. Ela estava foragida até a conclusão deste texto.

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Rogerinho casou-se com viúva de gerente do PCC que fazia elo da rua com a cúpula na cadeia

Marido e mulher também são sócios em empresas investigadas pela PF

Casal viajava para vários países
Rogerinho e a esposa gostavam de ostentar na internet
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Rogerinho e a esposa gostavam de ostentar na internet

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Rogerinho casou-se com viúva de gerente do PCC que fazia elo da rua com a cúpula na cadeia

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Marido e mulher também são sócios em empresas investigadas pela PF

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Casal viajava para vários países

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Rogerinho e a esposa gostavam de ostentar na internet

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“Existe a possibilidade de a acusada, em liberdade, continuar a ocultar provas, valores e bens adquiridos com proventos criminosos, o que comprometeria a eventual identificação, localização e sequestro de bens obtidos com a prática delitiva, visando garantir a perda do proveito do crime”, argumenta o magistrado.

Danielle e Rogerinho mantinham uma vida de ostentação, com viagens internacionais, relógios de luxo e convites para festas badaladas, com direito à presença de famosos e autoridades. A rotina de riqueza do casal era compartilhada nas redes sociais.

A acusada ainda se valia de “laranjas” para “dissimular a origem, movimentação e propriedade” dos valores milionários movimentados por Rogerinho, por meio de uma rede de corrupção revelada após o assassinato de Gritzbach.

Parceira do marido morto

De acordo com o documento judicial, além das movimentações para ocultar e destruir provas e bens que incriminariam o atual marido, Danielle também teria atuado ao lado do ex-companheiro.

Felipe Geremias dos Santos, o Alemão, era gerente do PCC, morto em 2019. Investigação da PF afirma que ele era um dos principais gerentes da facção nas regiões de Santo André e Mauá, na Grande São Paulo, além de São José dos Campos, no Vale do Paraíba.

A investigação indica que Danielle cobrava créditos das “atividades ilícitas” de Alemão. Para isso, ela se submetia à hierarquia do PCC. “Inclusive, fazia ameaças para a obtenção dos valores ilícitos que entendia ser credora”, diz trecho do documento do TJSP.

Usando a “periculosidade” de Danielle, tanto para o convívio social como para a garantia das investigações, o juiz ainda desconsiderou pedido da defesa dela, para que a ré pudesse ser mantida em prisão domiciliar por ser mãe de uma criança.

A medida “não é cabível nos casos de crimes praticados com violência ou grave ameaça”, afirma o juiz, mencionando trecho do Código de Processo Penal.

Esposa e sócia

Após casar com a viúva do gerente do PCC, Rogerinho tornou-a sócia em uma clínica médica e em uma consultoria em segurança. Rogerinho também é sócio, sem a participação da esposa, em uma construtora e incorporadora, além de uma empresa de administração de bens.

Antes de ser assassinado, Gritzbach afirmou ao MPSP que Rogerinho furtou parte de seus relógios de luxo, com os quais aparece em fotos no Instagram em vários países, como Estados Unidos, Suíça, Grécia e Portugal. Nos registros de ostentação, ao seu lado está a viúva de Alemão (veja galeria acima).

A vida de luxo do casal, como aponta relatório de inteligência financeira, resulta de “operações suspeitas” nas suas empresas. Em um mês, uma das empresas de Rogerinho e da esposa movimentou pouco mais de R$ 500 mil em 2020, “com indícios de recursos incompatíveis com o patrimônio”.

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Rogerinho Punisher e Delegado da Cunha

Rogerinho e Da Cunha
Fábio Baena e Rogerinho foram alvo de mandados de prisão nesta terça (17)
Rogerinho é citado em delação de Antonio Gritzbach
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Rogerinho se diz segurança do cantor Gusttavo Lima

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Rogerinho Punisher e Delegado da Cunha

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Fábio Baena e Rogerinho foram alvo de mandados de prisão nesta terça (17)

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Rogerinho é citado em delação de Antonio Gritzbach

Também durante 30 dias, em 2021, a mesma empresa do casal movimentou R$ 854 mil, “valores incompatíveis com o faturamento mensal das pessoas jurídicas”, diz trecho do documento do Coaf, indicando suspeita de lavagem de dinheiro.

A defesa do casal não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.

Quem é Rogerinho

Rogerinho, que fazia eventualmente a segurança do cantor Gusttavo Lima, está entre os policiais citados em delação por Vinícius Gritzbach.

Além dele, o delator mencionou o envolvimento com o crime organizado do investigador-chefe Eduardo Lopes Monteiro e do delegado Fábio Baena Martin, atualmente presos. Todos, assim como Rogerinho, trabalhavam no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

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