“Está tudo bem, estou com ele”, disse mulher antes de ser morta por ex

São Paulo — Antes de ser morta a tiros pelo ex-namorado na madrugada desta quarta-feira (5/3) na calçada do prédio onde morava no centro de São Paulo, Elaine Domenes de Castro (na foto em destaque) disse à filha que estava tudo bem com ela, pois estava com o ex Rogerio Benedito Gonçalves. Ele segue foragido.

De acordo com o boletim de ocorrência, obtido pelo Metrópoles, Elaine, de 53 anos, já possuía medida protetiva contra Rogério, de 56, concedida após registrar ameaças feitas por ele em setembro do ano passado. No entanto, nas últimas três semanas, o motorista de aplicativo voltou a persegui-la, até na saída de seu trabalho, e chegou a tomar o seu celular. Rogério insistia que Elaine retirasse a medida protetiva contra ele sob ameaça de morte caso não o fizesse, inclusive contra as filhas dela.

Na noite de terça-feira (4/3), Elaine marcou de encontrar com Rogério para conseguir pegar o seu celular de volta. Foi nesse momento que sua filha, que depôs à polícia, tentou ligar para ela e não obteve retorno. Diante disso, ligou para Rogério, que atendeu e disse apenas: “Fala”. Ao perguntar por sua mãe, ouviu sua voz ao fundo, dizendo: “Bianca, está tudo bem, estou com ele”.

Nessa noite, Elaine realmente conseguiu recuperar o telefone e informou à filha que voltaria para casa. Porém, por volta de 1h30 da manhã desta quarta, seus outros filhos que moravam com ela na Alameda Ribeiro da Silva, no bairro Campos Elíseos, ouviram três disparos de arma de fogo e encontraram a mãe morta na calçada.

Ainda de acordo com o registro policial, um dos filhos contou à polícia que, ao perceber que Elaine estava escondendo algo, decidiu verificar as mensagens do celular da mãe. No dia 15 de fevereiro, o rapaz viu mensagens dela para uma amiga narrando as ameaças de morte que estava recebendo de Rogério.

Elaine era cozinheira e deixou três filhos, sendo o mais novo de 15 anos de idade.

A perícia foi acionada e o caso foi registrado como feminicídio na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher do Centro (DDM), que prossegue com as investigações e realiza diligências para localizar o suspeito, informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP).

A Polícia Civil analisa imagens de câmera de monitoramento para ajudar na identificação e localização do assassino, que fugiu.

Medida protetiva

Elaine manteve um relacionamento de um ano com Rogério. Em 9 de setembro do ano passado, registrou um boletim afirmando que ele demonstrou ser muito ciumento e possessivo e que e costumava acusá-la injustamente de ter outros relacionamentos amorosos.

Em maio, Rogerio deu um tapa na Elaine, motivo pelo qual a mulher terminou a relação. Mas Rogério não se conformou e pressionou-a a reatar o namoro. Diante das recusas, xingava-a com termos tais como “filha da puta, sua desgraçada, vou quebrar a sua cara, vou te zoar, vou te matar”, além de persegui-la nas ruas.

O estopim foi em 8 de setembro, quando Rogério a viu na rua e lhe disse que sabia de todos os seus passos. Quando disse que não queria mais nada com ele, Elaine recebeu outro tapa no rosto e decidiu registrar o caso na delegacia.

Feminicídio aumenta em SP

O número de casos de feminicídio aumentou no estado de São Paulo no último ano, em comparação com o ano anterior. Dados da SSP mostram que, em 2024, foram registradas 250 ocorrências de feminicídio — cerca de um caso a cada 1,4 dia. O total é 13% maior do que o registrado em 2023, quando houve 221 casos no estado.

Já os casos de tentativa de homicídio contra mulheres quase dobraram em todo o estado de São Paulo ao longo de 2024, também em comparação com 2023.

Segundo a SSP, no último ano foram registrados 1.216 casos do tipo – número 96,45% maior que os 619 casos registrados no ano anterior.

Neste mês, a Lei do Feminicídio completa 10 anos. A lei nº 13.104 tornou o crime uma espécie de homicídio qualificado, colocando o delito na lista de crimes hediondos.

De acordo com o Código Penal, o crime é classificado como o assassinato de uma mulher pela “condição do sexo feminino” e envolve “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.

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