Centrão vê Lula atrasado na reforma e resiste apoiar reeleição

Lideranças do Centrão avaliam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perdeu o momento estratégico para dar início à tão esperada reforma ministerial. Segundo interlocutores do grupo, o governo deixou passar a oportunidade de usar as mudanças nos ministérios como moeda de troca para consolidar o apoio de partidos da base ao projeto de reeleição de Lula em 2026.

Avaliações

A avaliação dentro do bloco é de que, com o passar do tempo, deputados e dirigentes partidários estão cada vez menos dispostos a abrir mão de seus mandatos para assumir pastas no governo federal. O motivo é o curto período que teriam à frente dos ministérios, o que reduziria o peso político dessas nomeações.

O cálculo tem como base a regra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que determina a desincompatibilização — ou seja, a saída do cargo público — seis meses antes das eleições para quem pretende disputar um novo mandato. Se um parlamentar assumisse um ministério em abril de 2025, por exemplo, precisaria deixar o posto em março do ano seguinte para concorrer em outubro. Essa janela reduzida enfraquece o tradicional “toma lá, dá cá”, tornando as nomeações menos atrativas para o Centrão.

Parlamentares ouvidos afirmam que o grupo não recusaria, de imediato, os cargos oferecidos, mas rechaçam a ideia de vincular essas nomeações a um compromisso formal de apoio à reeleição de Lula. Essa tentativa de amarrar o Centrão ao projeto de 2026 teria sido defendida pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, que é cotada para assumir a articulação política do governo na pasta de Relações Institucionais.

Mudanças internas não convencem

Até agora, Lula promoveu apenas alterações internas no próprio PT. A saída do deputado Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação Social (Secom) para dar lugar ao marqueteiro Sidônio Palmeira e a troca de Alexandre Padilha da Secretaria de Relações Institucionais para o Ministério da Saúde são vistas como ajustes pontuais e sem impacto na relação com o Centrão.

Líderes do bloco ressaltam que, para considerarem que uma verdadeira reforma ministerial está em curso, será necessário que partidos da base também passem a ocupar novos espaços na Esplanada. Sem isso, as trocas promovidas até agora são classificadas como meras reorganizações internas do PT.

Disputa pela liderança na Câmara

Com os ministérios perdendo parte de seu apelo, o Centrão ainda mira outro alvo: a liderança do governo na Câmara. Atualmente, o posto é ocupado por José Guimarães (PT-CE), mas partidos do bloco defendem que o cargo seja transferido para um nome de fora do PT, como o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL).

Essa substituição, porém, está diretamente atrelada às eleições internas do PT, previstas para ocorrer nesta sexta-feira (7). Só após essa definição é que o Planalto deverá discutir se cede ou não à pressão do Centrão.

Resistência e Orçamento travado

Enquanto o impasse persiste, líderes do Centrão preveem dificuldades na tramitação do Orçamento de 2025. Deputados resistem em votar a distribuição de recursos sem clareza sobre quais partidos comandarão cada ministério ao longo do ano. A indefinição contribui para a lentidão nos trabalhos da Câmara e reforça o clima de desconfiança entre o governo e sua base.

A promessa de uma reforma ministerial chegou a ser feita pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, ainda em janeiro. Na época, ele afirmou que as mudanças ocorreriam até o dia 21 daquele mês, o que não se concretizou. Desde então, a articulação política do governo patina e o Centrão segue cobrando uma definição.

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