Síria: alauítas pedem ajuda externa e falam em corpos jogados no mar

O presidente interino da Síria, Ahmad al-Chareh, pediu neste domingo (9/3) a unidade nacional e a paz civil depois que uma ONG informou que centenas de pessoas, a maioria civis, haviam sido mortas em uma violência sem precedentes desde a queda de Bashar al-Assad.

Neste domingo, o ministério do Interior anunciou que estava enviando “reforços adicionais” para “restaurar a calma” em Qadmous, um vilarejo na província de Tartous. As forças de segurança estão “caçando os últimos homens leais ao antigo regime em Qadmous e nos vilarejos vizinhos”.

A agência de notícias oficial da Síria, Sana, relatou “violentos confrontos” em Taanita, um vilarejo nas montanhas da província de Tartous, para onde fugiram “muitos criminosos de guerra afiliados ao regime derrubado e homens leais a Assad que os protegem”.

A Federação Alauíta na Europa acusou as tropas leais ao atual regime de esconderem corpos. “O que eles estão fazendo? Eles estão pegando os corpos e os jogando no mar ou os queimando. Porque eles querem dizer que nada aconteceu, que foram só coisas individuais, mas não é isso, e esse é o problema”.

“Precisamos de intervenção internacional. Isso é realmente importante, porque está acontecendo uma limpeza étnica. É um genocídio”, diz a federação

Um comboio de 12 veículos militares entrou no vilarejo de Bisnada, na província de Latakia, onde as forças de segurança estavam revistando casas.

“Mais de cinquenta pessoas, membros da minha família e amigos, foram mortos”, disse um morador alauíta de Jablé, sob condição de anonimato. As forças de segurança e os milicianos aliados “recolheram os corpos com escavadeiras e os enterraram em valas comuns. Eles até jogaram alguns corpos no mar”.

O OSDH e ativistas publicaram vídeos na sexta-feira mostrando dezenas de corpos em roupas civis empilhados no pátio de uma casa, com mulheres chorando nas proximidades. Em um vídeo, homens em uniforme militar ordenaram que três pessoas rastejassem em uma fila, antes de atirar nelas à queima-roupa.

No mesmo dia, uma fonte de segurança citada pela Sana relatou “atos isolados de violência”, atribuindo-os a “multidões” que agiram em retaliação ao “assassinato de membros das forças de segurança por partidários do antigo regime”.

Fim aos massacres

Desde que chegou ao poder, após mais de 13 anos de guerra civil, Chareh está se esforçando para acabar com os assassinatos e vem tentando tranquilizar as minorias. Ele pediu às suas forças que demonstrem moderação e evitem qualquer desvio sectário.

Durante um sermão neste domingo, o Patriarca Ortodoxo de Antioquia, João X, pediu a Chareh que “ponha um fim aos massacres” no oeste do país. “As áreas visadas eram habitadas principalmente por alauítas e cristãos. Muitos cristãos inocentes também foram mortos”, disse ele. “Nem todos os mortos eram homens leais ao regime; a maioria era de civis inocentes e desarmados, incluindo mulheres e crianças”, disse Jean X.

A Alemanha disse que estava “chocada” e pediu que “todas as partes pusessem um fim à violência”.

De acordo com Aron Lund, do think tank Century International, o surto de violência atesta a “fragilidade do governo”, cuja autoridade “está em grande parte nas mãos de jihadistas radicais que consideram os alauítas inimigos de Deus”.

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