Quem é o doleiro do concierge da cúpula do PCC denunciado pelo MPF

Um dos denunciados pelo Ministério Público Federal na operação Mafiusi é o doleiro Tharek Mourad Mourad, chamado de “primo” pelos integrantes da organização criminosa investigada pela Polícia Federal.

Mourad aparece em conversas encontradas em celulares e aparelhos eletrônicos apreendidos pela PF.

“O investigado Tharek Mourad Mourad é o principal operador financeiro da organização criminosa no âmbito do tráfico internacional de drogas, sendo ele o doleiro responsável por coordenar e executar os pagamentos de valores provenientes das remessas de cocaína para o exterior, viabilizando tanto a entrega quanto o recebimento de dinheiro em espécie, notadamente por meio de operação dólar-cabo”, diz a PF.

No dólar-cabo, o doleiro atua para receber ou pagar algum valor no exterior. O operador, por exemplo, recebe o dinheiro em algum país, em moeda nacional, e depois entrega em outro, em dólar.

Segundo a PF, Mourad é sócio de Willian Agati, conhecido como “concierge do crime”, ligado à alta cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Ao todo, o MPF denunciou 14 pessoas ligadas a Agati pelos crimes de organização criminosa, associação para o tráfico e obstrução de Justiça. A denúncia não abarca o crime de lavagem de dinheiro praticado pelo grupo, que ainda está sob investigação da PF.

Agati e Mourad são apontados como sócios em diversas empresas utilizadas, segundo o MPF, para “promover a ocultação da origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores oriundos do tráfico internacional de drogas, de modo a impossibilitar o rastreio da origem dos recursos e ligá-las a remessas dos pagamentos por parte dos clientes da organização criminosa destinatários do entorpecente.”

Mourad já havia sido alvo de outra operação, a Downtown de 2008, por causa de sua atuação como doleiro por meio de operações de dólar-cabo.

No caso da Mafiusi, as mensagens mostram que o doleiro atuava se valendo de tokens repassados aos traficantes para que pudessem apresentar na hora de receber os valores envolvidos no comércio de droga.

“O doleiro então envia uma fotografia da numeração da nota (“Token”) para o pagador (fornecedor/contratante) confirmar a identidade do recebedor e então efetua o pagamento em dinheiro em espécie”, explica o MPF sobre como funcionava o esquema.

Na Mafiusi, o Token muitas vezes era fornecido por meio de uma nota de R$ 2 onde estava gravado o número para que o intermediário se identificasse e recebesse o dinheiro.

Mensagens encontradas pela PF mostra uso de ‘token” por doleiro

Ao denunciar o doleiro, o MPF afirma que Mourad “tem amplo conhecimento da estrutura complexa da organização, com vários níveis de hierarquia e pessoas envolvidas em diversas funções.”

“Ele exerce controle financeiro sobre empresas de fachada, o que reforça o grau de importância da sua figura dentro do grupo. No caso, segundo apurado, para movimentar grandes quantias de recursos ilícitos, o grupo emprega diversas pessoas jurídicas de fachada e uma rede de laranjas”, diz o MPF.

Os investigadores também descobriram analisando as conversas que Tharek Mourad gerenciava os recursos de Willian Agati.

Uma conversa de maio de 2023, por exemplo, mostra Mourad como operador financeiro do “concierge do crime”. No diálogo, Agati envia para o doleiro um contrato de investimento nos Emirados Árabes Unidos por meio do aporte de R$ 2 milhões em uma empresa sediada naquele país.

Documento do MF mostra transações de doleiro do “concirge do crime”

Agati recebeu o apelido de “concierge do crime” porque atuava no fornecimento de diversos serviços para o PCC.

Além da operacionalização do tráfico, com o fornecimento de toda a logística no porto de Paranaguá (PR), ele mantinha uma rede para lavagem de dinheiro e alugava aviões, veículos, imóveis e artigos de luxo para integrantes do grupo.

Segundo a PF, o grupo de Agati dominava a rota marítima entre o porto de Paranaguá (PR) e o localizado na cidade espanhola de Valência e, também, uma a rota aérea entre o Brasil e aeroportos na Bélgica.

Entre os clientes no exterior estava a máfia calabresa ‘Ndrangheta. Ao longo das investigações que desaguaram na operação Mafiusi, a PF chegou a prender os italianos Nicola e Patrick Assisi, apontados como lideranças da máfia.

 

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